História Oficial

O século XVII ficou marcado pela atuação dos bandeirantes, desbravadores que saiam à frente de pequenas comitivas para explorar terras virgens, em busca de índios e minerais preciosos. A maioria das expedições partia de São Paulo e a rota mais procurada era a que levava aos tesouros das “minas gerais”. Tratava-se de uma viagem longa e árdua, que requeria muitas paradas para descanso e reabastecimento. A primeira delas, ainda nas proximidades de São Paulo, ficava numa colina banhada por um rio que os índios chamavam de “tubaia” ou “atubaia”(água agradável ao paladar).

Porém, entre os bandeirantes que chegaram à Paragem do “Atubaia”, destacou-se Jerônimo de Camargo, descendente de uma das mais conhecidas famílias da época. Profundo conhecedor de toda a região, acabou por fixar-se no local: fundou uma fazenda de gado e, no alto da colina, construiu uma capelinha sob a invocação de São João Batista. Isso aconteceu em 1665.

Nessa mesma época, o padre Mateus Nunes da Siqueira chegou do sertão com um grupo de índios guarus catequizados e, por ordem da Câmara Municipal de São Paulo, instalou-os ao lado do “sítio de São João Batista”. O pequeno núcleo confirmou-se, então, como parada obrigatória para quem seguia em direção a Minas Gerais e o povoado começou a desenvolver-se lentamente.

Em 1679, a igrejinha passou a ser capela curada – isto é, a ter padre próprio – e, em 1687, recebeu a visita do Padre Providencial, que celebrou missa e presenteou o fundador com “4 cambadas de peixe salgado e 3 queijos”. Jerônimo de Camargo faleceu em Jundiaí, no princípio de 1707, mas seus descendentes deram continuidade ao trabalho nas fazendas de gado e à luta pela emancipação do vilarejo. Finalmente, por alvará de 13 de agosto de 1747, a aldeia tornou-se “freguesia” e assim nasceu o distrito de São João de Atibaia (ou Tybhaia, conforme a grafia da época).

Passados alguns anos, a Corte, em Lisboa, passou a receber queixas sobre a vida pública atibaiana. Dizia-se que “na ausência de autoridades criminais e dispondo de um avultado corpo de índios, exercia Jerônimo de Camargo nociva preponderância sobre a freguesia”. Verídicas ou não as denúncias ( uma vez que o fundador já havia falecido há muitos anos), elas impressionaram o capitão-general D. Luiz Antônio de Souza Botelho, Morgado de Mateus. Por isso, em vista da falta de Justiça e dos desmandos dos potentados, elevou o distrito de Atibaia à categoria de vila e município, por portaria de 27 de junho de 1769. No ano seguinte, foi instalada a primeira Câmara Municipal, com grandes solenidades no levantamento do pelourinho.

A partir daí, já independente e com administração própria, a vila pode encetar o seu progresso. De fato, em pouco tempo tornou-se uma espécie de celeiro da capital, graças ao grande desenvolvimento da pecuária e da cultura de cereais, em especial de trigo.

Além de prosperar economicamente, o município também participou de maneira ativa dos episódios que marcaram nossa História. Em 1808, fez-se representar na chegada da Família Real ao Brasil. Após acompanhar atentamente a revolução portuguesa de 1820, que gerou a Constituição, a população atibaiana reconheceu “as bases Constitucionais decretadas pelas Cortes Gerais”, jurando “vigiar pela exata e pronta execução das leis existentes, promover o bem da Província e da Nação, obedecer ao Governo e a Deus Nosso Senhor”. Esta manifestação popular encontra-se documentada em ata lavrada na Câmara Municipal local, datada de 21 de julho de 1821.

Cada vez mais envolvidos com as questões que abalavam a Nação, os atibaienses também abraçaram entusiasticamente a causa da Independência. No dia 5 de outubro de 1822, o povo reuniu-se em praça pública e declarou sua disposição de manter a liberdade e aclamar o Príncipe Regente. Todos traziam, no braço esquerdo, o símbolo dos adeptos da causa: uma flor verde sobre fundo dourado, com a inscrição “Independência ou Morte”. Dois dias depois, a Câmara definiu o programa oficial de reconhecimento do Primeiro Imperador do Brasil. O apoteótico e solene ato público aconteceu em 12 de outubro de 1822, onde foram aclamados em muitas vozes: a Santa Religião; a Independência do Brasil; D. Pedro I; a Imperatriz do Brasil; a dinastia de Bragança; e o povo constitucional.

Depois, Atibaia debateu-se pela maioridade de D. Pedro II. Na Revolução Liberal de 1842, pôs-se ao lado do cel. Rafael Tobias de Aguiar, opção que foi claramente demonstrada em passeatas e outros tipos de protestos. Os partidários dos conservadores reagiram e houve muitos tumultos na cidade. Então, a Câmara localrecusou-se a obedecer as ordens imperiais e, devido a “seu repreensível comportamento e flagrantes desobediências”, foi cassada em 04 de maio de 1842. Após o fracasso da rebelião, veio a anistia, por ordem imperial, e a Câmara reassumiu suas funções no dia 24 de junho de 1844. Em seguida, veio a adesão ao “Batalhão de Voluntários da Pátria”, que lutou na Guerra do Paraguai. Segundo um cronista, “ao contrário dos cidadãos de outras partes da Província, que procuravam o mato para se furtar ao cumprimento do dever, os filhos de Atibaia acorreram pressurosos a servir o torrão que lhes fora berço”.

Outro evento de grande repercussão em solo atibaiano foi o movimento pela libertação dos escravos. Exemplos dessa vocação abolicionista foram D. Delfina das Pedras, fazendeira local que alforriou seus escravos muitos anos antes da Lei Áurea, ou o vereador Olímpio da Paixão e o juiz municipal Antonio Bento de Souza e Castro, que trabalharam arduamente para o fim da escravatura.

A propaganda republicana também encontrou muitos adeptos na cidade. Nesse período, destacaram-se as inflamadas reuniões de militantes republicanos de Américo Brasiliense e o envio de um representante atibaiense ao 1º Congresso Republicano Provincial. Por ocasião deste encontro, Atibaia disputou com São Paulo, Itu, Campinas e outras localidades o direito de sediar o evento, numa competição que foi vencida pela delegação ituana.

Enquanto todas essas questões empolgavam a população, a vila de São João de Atibaia já vivenciava seu novo status administrativo. Município desde 1769, em 22 de abril de 1864 recebeu o título de cidade, de acordo com a lei provincial n.º 26. (A próxima mudança significativa deu-se em 20 de dezembro de 1905, quando, pela Lei Estadual n.º 975, passou a denominar-se apenas Atibaia.)

Proclamada a República, iniciou-se para Atibaia uma fase de grande desenvolvimento, com uma sucessão vertiginosa de melhorias: a instalação de redes de água, esgoto e luz elétrica, as inaugurações do Grupo Escolar José Alvim e do Hotel Municipal, a criação da primeira indústria têxtil, o alargamento das ruas, o ajardinamento das praças – todos esses fatores alteraram significativamente o perfil da vila pobrezinha de São João do Atibaia e deram origem à Atibaia que conhecemos hoje.