Mesmo com chuvas no começo de agosto, situação do Cantareira preocupa meteorologistas

A chuva dos primeiros sete dias de agosto de 2018 surpreendeu em várias áreas da Região Sudeste e também sobre o Sistema Cantareira, o maior e um dos principais reservatórios para abastecimento de água para a Grande São Paulo.

Pela medição do SABESP (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo), de 1 a 7 de agosto de 2018 o total de chuva acumulado foi de 59,4 mm, quase 25 mm acima da média normal para agosto que é de 34,5 mm. Em 7 dias choveu 72% acima da média para o mês.

Em termos de porcentagem de armazenamento, a chuva e a queda da temperatura do início de agosto fez o Cantareira parar de baixar. A diminuição diária do nível de água nesta época do ano é normal, pois a chuva é escassa, a evaporação é persistente e a demanda continua.

No dia 31 de julho de 2018, o armazenamento no Cantareira estava em 39,6% e no começo da manhã do dia 7 de agosto era de 39,8%. Mesmo com a ligeira elevação do nível de água, o Cantareira permanecia na faixa de “alerta”, pelos padrões determinados pela Agência Nacional das Águas (ANA), após a severa crise hídrica vivida no estado de São Paulo nos anos de 2014 e 2015. Na faixa de “alerta”, o volume útil de água acumulado é igual ou maior que 30% e menor que 40% da capacidade total. Nesta situação, a SABESP, empresa que gerencia o abastecimento de água no estado de São Paulo, pode retirar no máximo 27 mil litros de água por segundo do Sistema Cantareira.

Agosto está sendo o segundo mês em 2018 em que a chuva supera a média, o que até então só havia sido observado em janeiro. Mas essa chuva em agosto tem pouco peso na contabilidade anual e não deve ser interpretada como o início do retorno regular da chuva sobre o Cantareira.

A chuva de 2018 sobre o Cantareira, até o começo de agosto, tem caído abaixo ou muito abaixo da média mensal. Se tivesse chovido a média histórica desde janeiro, o total de chuva acumulada estaria em torno dos 950 milímetros. Mas pela medição da SABESP, de 1 de janeiro a 7 de agosto de 2018, o Cantareira recebeu 661 milímetros. Em 7 meses e 1 semana, a deficiência de chuva é de quase 300 milímetros, o que corresponde a chuva de um janeiro e de um agosto juntos. É a chuva de janeiro (chuva do verão) que realmente enche as represas, que faz diferença. A chuva de agosto é uma garoa em relação a janeiro.

Embora o Sistema Cantareira esteja recebendo “reforços” de outros sistemas, continua sendo o mais importante reservatório para o abastecimento de água para a Grande São Paulo e está numa situação delicada.

O armazenamento de quase 40% no começo de agosto está abaixo do confortável e a perspectiva de chuva para o período úmido (final da primavera de 2018, verão e começo do outono de 2019) não é animadora. O problema é o El Niño que vem por aí e que tende a deixar a chuva irregular espacialmente e temporalmente. A água da porção central e leste do oceano Pacífico Equatorial está se aquecendo, o que indica o processo de formação do fenômeno.

A meteorologista Patricia Madeira, especialista em previsão climática da Climatempo alerta que a situação do Cantareira ainda pode se complicar bastante diante do possível El Niño. “O problema é que o El Niño reduz a chance de termos uma ZCAS no verão 2018/2019. É a ZCAS (Zona de Convergência do Atlântico Sul) que provoca a chuva generalizada e persistente por vários dias sobre áreas do Sudeste do Brasil. Isto garante que a chuva seja bem distribuída sobre as represas do Cantareira. Sem a ZCAS, ficamos dependentes da intensidade e da frequência das pancadas de chuva típicas de dias quentes e úmidos. Essa chuva até pode cair muito forte, mas num só lugar, numa área pequena. Se cair no lugar certo, ótimo! Mas chuva de calor cai em qualquer lugar, é muito aleatória. É mais que hora de economizar, de fechar a torneira mesmo, porque pode faltar chuva para o Cantareira.”

Fonte: Climatempo