Na quarentena, irmãos publicam livro digital gratuito e estimulam crianças a observarem aves

Inteiramente online, o e-book pretende incentivar a leitura e conscientizar a partir da narrativa situada em Bragança Paulista (SP).

Um jovem e curioso sabiá-poca, uma observadora coruja-buraqueira e até um ancestral respeitado urutau são personagens que compõem o livro infantil criado pelos irmãos Natália e Victor Allenspach. O projeto lançado durante a quarentena sob o nome de “O Sabiá e os Pássaros de Fogo” foi criado de forma digital e gratuita e não só pretende entreter as crianças no período de isolamento, mas estimular a conservação e observação de natureza.

Os propósitos do e-book têm muita relação com a origem dos autores. Natália é bióloga e observadora de aves há uma década e Victor é escritor de ficção científica. Unir habilidades e conhecimentos foi uma estratégia para elaborar o enredo todo ambientado na cidade onde cresceram, Bragança Paulista (SP). “Ao produzir um livro com referências mais próximas das crianças tentamos incentivar que elas valorizem os espaços públicos que existem aqui, como nossas áreas verdes”, argumenta a bióloga.

Ideia da história de “O Sabiá e os Pássaros de Fogo” surgiu no final de 2018 e, apesar da pandemia gerar insegurança para o lançamento, foi vista como oportunidade pelos irmãos (Foto: O Sabiá e os Pássaros de Fogo/Divulgação)

A narrativa conta as aventuras paralelas de um sabiá que tenta compreender um mistério que gera temor em alguns colegas na natureza e dos irmãos Elisa e Fernando que admiram as espécies da cidade e buscam formas de combater um sério problema que prejudica muitas aves todos os anos: o impacto dos fogos de artifício. “Escrever um livro infantil era um desafio muito interessante, justamente pelo prazer que tive ao ler tantos livros pensados para um público muito mais jovem e que descobri serem capazes de fascinar adultos”, confessa Victor.

O escritor ainda reforça a vontade de romper com alguns padrões encontrados em outras obras. “Quando criança, eu me cansava de livros com uma linguagem que menosprezasse a minha capacidade de compreender as coisas. Tenho certeza de que eu não era o único e não quis cometer esse erro com ‘O Sabiá’”, comenta. Já para Natália, as barreiras foram outras. “Para mim o maior desafio foi incluir informações sobre a biologia das aves na história, mas sem que o livro ficasse parecendo uma enciclopédia”, conta.

Periquitões-maracanãs, as famosas maritacas, e cenários da cidade dão corpo ao enredo da história ilustrado pelos traços de Charles Paixão (Foto: O Sabiá e os Pássaros de Fogo/Divulgação)

“O sabiá é um pássaro marrom e discreto, que muitos poderiam considerar “sem graça”. Justamente por isso virou nosso personagem principal. A coruja-buraqueira é a ave-símbolo de Bragança Paulista. O urutau é uma ave esquisita que parece ter saído da ficção, mas poucos sabem que a espécie pode ser encontrada em áreas urbanas”, explica Natália.

Apesar do livro apresentar espécies comuns à cidade natal dos irmãos, essas são aves muito encontradas em todo o Brasil. Mesmo contemplando outras realidades, os Allenspach já pretendem dar voos mais altos com essa obra: ela será parte de uma série que apresentará as aves de outros municípios do país também. “O propósito do projeto Aves da Minha Cidade é levar informação de forma descontraída e acessível para crianças e pais, o que não é possível apenas através dos livros digitais. A distribuição em escolas públicas é um objetivo desde que o projeto foi pensando”, explica Victor.

Ilustrador, cartunista e arte educador Charles Paixão deu vida à história com as ilustrações do livro (Foto: O Sabiá e os Pássaros de Fogo/Divulgação)

Os irmãos agora buscam o auxílio de parcerias para a ampliação da iniciativa. Mas já têm muito o que comemorar com relação ao projeto que saiu do papel e entrou nas redes. “Pessoas de outras cidades relataram que ficaram imaginando quais seriam os personagens do livro se a história se passasse onde elas moram e começaram a prestar atenção às aves que vivem em seus quintais”, vibra a bióloga.

Fonte: G1.globo.com (leia a matéria completa)