Veterinária alerta para sintomas de ansiedade e depressão em animais de estimação

Doenças podem ser identificadas através de reações anormais nos bichinhos, como alterações comportamentais.

O Brasil é o país com a maior prevalência de depressão na América Latina, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Assim como a ansiedade, a doença afeta também os animais de estimação e, embora o assunto ainda seja considerado um tabu na sociedade, o sofrimento pode ser identificado através de reações anormais nos bichinhos, como alterações comportamentais.

(Imagem Ilustrativa de Péter Göblyös por Pixabay)

Para entender melhor sobre este assunto, o G1 conversou com a médica veterinária Fernanda Távora, pós-graduanda em neurologia veterinária, de Sorocaba (SP).

Segundo a especialista, atitudes como alta frequência de latidos na ausência do tutor, falta de apetite, pupila dilatada, ficar ofegante, urinar ou defecar em locais errados, calda encolhida, apresentar tremores ou destruir coisas na casa são alguns dos sinais de que o animal pode estar passando por algum tipo de síndrome.

“A gente chama de síndrome porque é um conjunto de distúrbios. Ela se manifesta através de diversas alterações comportamentais no cão. Então, o termo incorpora sinais de medo, de fobia, de agressividade muitas vezes”, explica.

De acordo com Fernanda, o estresse psicológico em cachorros não está ligado a uma raça específica, mas é mais encontrada em cachorros sem raça definida. “Geralmente, são animais que já passaram por abandono, por situações difíceis na vida.”

Para a profissional, promover a saúde mental é tão importante quanto garantir a saúde física do pet. “É necessário prover mais do que água, alimento e local limpo. Cabe a nós, tutores, proporcionar um ambiente rico, estimulante, curioso, com desafios físicos e mentais”, diz.

Desencadeadores

A veterinária comenta que existem fatores que predispõem os animais e são desencadeadores desta síndrome, como quebra antecipada do vínculo do filhote com a mãe, experiência amedrontadora na ausência do tutor, confinamento em ambientes pequenos, falta de interação com o habitat natural (natureza) e solidão por longas horas.

Estas situações fazem com que a necessidade de interação e desafios seja deslocada para comportamentos anormais por parte do animal.

A separação do filhote de forma precoce, por exemplo, pode trazer problemas físicos e mentais para o animal, pois, além da amamentação, a socialização com a mãe e com os irmãos também é importante.

“Às vezes, o animal nem entendeu que é um ser diferente separado da mãe. Ele pega todo esse trauma, esse vínculo que tinha com a mãe e leva para o tutor”, diz Fernanda, acrescentando que o pet pode criar uma vinculação a mais com o dono, criando certa dependência. “Quando o dono sai para trabalhar, o animal entra em desespero, porque ainda não aprendeu a ficar sozinho”, completa.

De acordo com a veterinária, o estresse de forma contínua desencadeia alterações hormonais que podem afetar outros órgãos do animal, como o sistema gastrointestinal, causando diarreia; o sistema cardíaco, provocando uma taquicardíaca; ou, até mesmo, o oftalmológico, com o aumento da pupila.

Em recuperação

Um dos cães atendidos pela profissional foi Theo, que enfrentava um quadro grave de depressão. Ela conta que, após ter sido resgatado, o animal não saía da casinha e se movimentava apenas para fazer as necessidades durante a madrugada. Após um mês de tratamento, ele passou a se locomover pelo espaço e a conviver com outros pets da casa.

A veterinária diz que o cuidado é essencial para auxiliar na recuperação do animal. Assim que o dono identificar as alterações no animal, o ideal é levá-lo a um veterinário comportamentalista para iniciar o tratamento, que exige total participação e comprometimento do tutor e da família, com disposição para realizar as mudanças necessárias.

Fernanda explica que o contato com a natureza é essencial, assim como ensinar o animal a tolerar a ausência do tutor. “A gente tem que educar o animal, não adianta exigir algo que nunca ensinamos”, diz.

Ela também esclarece que a punição ou repreensão ao bichinho por ter realizado algo considerado errado pelo tutor durante sua ausência não deve acontecer.

“Além do animal não associar o castigo ao seu comportamento indesejável, que é errado aos olhos do tutor, a repreensão pode gerar mais ansiedade, agravando os sinais dessa síndrome”, explica, complementando que o comportamento calmo e obediente deve ser recompensado.

Outro animal atendido pela profissional foi a sua própria cadela, Pretinha, que sofria de síndrome de ansiedade por separação. Segundo Fernanda, a pet chegou a se jogar da janela da casa por medo e para conseguir alcançar a tutora. A veterinária diz que, após o tratamento, Pretinha está bem melhor.

Prevenção

A atenção do dono aos sinais apresentados pelo pet é essencial para que o tratamento seja iniciado de forma rápida e para que o sofrimento do bichinho não perdure.

Para Fernanda, já que a depressão é uma condição que acomete diversos animais, é preciso conscientizar as pessoas quanto aos cuidados necessários para preveni-la, começando pelo respeito ao período de socialização do bichinho.

Deve-se também proteger o filhote de possíveis traumas, pois são estas experiências no início da vida que determinam os padrões de comportamento adulto.

Ainda conforme a especialista, animais que recebem treinamentos de obediência com um adestrador são menos predispostos a ter a síndrome, pois aprendem comandos de relaxamento e a se manterem distantes dos seus tutores, sendo treinados a ficarem sozinhos de forma calma.

Fonte: G1.globo.com