Como diferenciar sintomas de coronavírus, gripe, asma e rinite

No inverno, é comum o aumento de casos de doenças respiratórias. Veja características também de bronquite, sinusite e DPOC e como agir em relação à atividade física.

O inverno, que começou no dia 21 de junho e termina no dia 23 de setembro, costuma ser pródigo em espirros, tosse, nariz escorrendo e falta de ar. Em meio à pandemia da Covid-19, doença causada pelo novo coronavírus (SARS-CoV-2), as temperaturas baixas, ambientes fechados e sem ventilação adequada, além do ar mais seco, podem contribuir para o agravamento de problemas respiratórios. A baixa umidade do ar, por exemplo, também auxilia na concentração de poluentes e favorece a piora de quadros crônicos, como a asma, bronquite, rinite, sinusite, influenza e a doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC). Durante o inverno, como saber diferenciar essas crises do novo coronavírus? E como agir em relação à prática de atividades físicas?

(Imagem Ilustrativa de Mojca J por Pixabay)

“A asma se caracteriza por episódios de broncoespasmos (chiados no peito) recorrentes e com frequência variável. A bronquite crônica causa tosse produtiva por períodos prolongados devido à inflamação dos brônquios. A DPOC é mais comum em fumantes e se caracteriza por dispneia (falta de ar), tosse, entre outros sintomas. Já os sintomas da Covid-19 podem incluir febre, sinais gripais, diarreia, perda do olfato e paladar, dores musculares, além de falta de ar, tosse e fraqueza”, afirma a médica pneumologista Maria Vera Cruz de Oliveira, diretora do Serviço de Pneumologia do Hospital do Servidor Público Estadual de São Paulo (HSPE).

Mas quando procurar o pronto-socorro? Maria Vera destaca que é importante que os asmáticos e os que sofrem com bronquite ou DPOC não interrompam os medicamentos que usam habitualmente e procurem um pronto-atendimento caso percebam piora da doença durante a pandemia da Covid-19. Ao precisar de um serviço de emergência, vale destacar que o paciente deve tomar todos os cuidados recomendados pelos órgãos de saúde, como o uso de máscaras, higienização das mãos e, principalmente, manter o distanciamento social no ambiente hospitalar.

“O paciente que não conseguir controlar os sintomas em casa, com inalações e uso de broncodilatador de resgate, ou apresentar sintomas gripais que se agravem com febre alta persistente e falta de ar aguda deve buscar atendimento de emergência. Quanto mais rápido o quadro for controlado, mais fácil será a recuperação”, alerta.

Sintomas de cada doença

Asma – Muitas vezes o paciente tem vida normal. A asma atinge quase 300 milhões de pessoas em todo o mundo e mata cinco a seis pessoas diariamente no Brasil. Quando o paciente apresenta um resfriado, ele tem um broncoespasmos (chiado no peito), tosse seca ou com secreção. Sintomas mais acentuados incluem falta de ar, aperto no peito e sensação de aperto no tórax.

DPOC – 90%de quem tem essa doença está relacionada com tabagismo. O fumante, na quinta década de vida, começa a ter falta de ar, além de conviver com chiado e aperto no peito e com tosse produtiva ou seca. Apresenta ainda cansaço e perda de peso.

Bronquite – Tosse com secreção durante três meses por pelo menos dois anos seguidos. Em geral, esse paciente já tem uma tosse contínua e as bactérias acabam infectando essa secreção. Falta de ar e chiado e aperto no peito são outras características.

Influenza – o paciente pode ter febre, dor muscular, de garganta, coriza. Em geral, dura sete dias. São sintomas muito parecidos com Covid-19, mas o Covid é um quadro mais intenso.

Covid-19 – Tem o paciente assintomático e o sintomático. Entre os sintomas, estão: falta de ar (que é o agravante que faz o paciente procurar um hospital rapidamente), febre, diarreia, dor no corpo e na cabeça, perda de paladar e olfato. A falta de ar chega a levar a uma dificuldade para respirar.

Rinite – A doença acomete 30% da população. Também piora no inverno e frequentemente é associada com a asma: é muito comum a pessoa que tem asma, ter também rinite. Espirros, coriza, obstrução nasal. Na maior parte das vezes, a causa é alérgica. 10% da humanidade é atópica, ou seja, possui alguma alergia. O paciente que tem muita crise de rinite deve, além de evitar os ambientes que trazem essa rinite à tona, usar bastante soro fisiológico. Quando é indicado, usar corticoide nasal. Tem paciente que só controla a asma, quando controla a rinite.

Sinusite – Secreção abundante e mais espessa, cefaleia. Dá muito mais tosse do que só a rinite. Mas são patologias independentes. Quem tem rinite, costuma ter sinusite com mais frequência.

A gripe influenza talvez seja uma das doenças que apresentam sintomas mais próximos do novo coronavírus. Por isso, a campanha para que as pessoas se vacinassem contra a influenza este ano foi forte. A vacina é dada todo ano, mas a importância dela durante a pandemia é ainda maior.

A pneumologista Maria Vera afirma que as internações de pacientes com doenças respiratórias sem ser Covid-19 diminuíram em 2020. Ela acredita que essa nova estatística se deve em parte por causa da diminuição de poluentes, devido ao isolamento social e em parte porque os pacientes estão com medo de ir para o hospital.

“Nesse momento, é importante a educação do paciente sobre a doença dele. Se os sintomas persistirem, se agravarem, ele deve procurar uma emergência sim. A mesma orientação a gente dá para o resfriado e para gripe: ele pode ter esses sintomas e ficar observando. Se tiver uma acentuação, tem que procurar atendimento médico. Porque você não tem certeza sobre o que tem. O ideal é prevenir”, aconselha, lembrando que há casos que podem evoluir para pneumonias e outros que podem ser Covid-19.

Grupo de risco?

Muito se falou no início da pandemia que pessoas com doenças respiratórias fazem parte do grupo de risco para Covid-19. Mas essa informação procede? Para o alergista Pedro Francisco Giavina Bianchi Jr., presidente da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia Regional São Paulo (ASBAI-SP), não é bem assim que funciona. Essas pessoas só estarão em risco se suas respectivas doenças não estiverem controladas.

“Na verdade, poucos asmáticos e pacientes com rinite foram internados com Covid-19. Quem tem asma e rinite, pelo tipo de inflamação da via aérea, poderia ter menor quantidade do receptor do coronavírus”, resume Pedro.

Explica-se: um estudo publicado recentemente em uma revista da Academia Americana de Alergia, Asma e Imunologia analisa se a asma e outras alergias respiratórias estavam associadas a uma menor expressão da enzima conservadora da angiotensina-2 (ECA2), proteína na qual o novo coronavírus se conecta ao entrar no organismo. A hipótese levantada é a de que essas pessoas teriam respostas menos intensas ao Covid-19. Os resultados são promissores, mas isso não significa que os cuidados devam ser reduzidos.

Na pesquisa, três grupos foram avaliados e nenhum deles tinha Covid-19. Foram analisadas 318 crianças com alto risco para asma, que tiveram amostras de secreção nasal colhidas aos 11 anos de idade. “Entre as crianças com asma, uma sensibilização alérgica moderada e grave foi associada a reduções progressivamente maiores de ECA2 comparadas a crianças com asma, mas com nenhuma ou mínima sensibilização”, escrevem os pesquisadores. Outros 24 adultos com rinite alérgica a gato e sem asma foram expostos a alérgenos do felino por via nasal e por meio de exposição no ambiente. Em casos de amostras nasais antes e depois do experimento, foi revelada uma redução na quantidade da ECA2. Por último, um grupo de 23 adultos com asma leve, que não faziam tratamento para controle da doença, foi submetido a alérgenos de ácaro de poeira, da planta ambrosia ou de gato. A secreção nasal coletada antes e depois dos testes também mostrou resultados com uma significativa redução de ECA2 na via aérea baixa.

Diante disso, o alergista Pedro Francisco afirma que com menor quantidade da enzima receptora, menos vírus entrariam no organismo. Dessa forma, os possíveis sintomas da Covid-19 seriam menos intensos em caso de pacientes com alergias respiratórias controladas.

“Se o paciente tem uma asma e uma rinite não tratada, aí pode se complicar mais. Mas se está moderado e bem tratado, não é grupo de risco para Covid. E o tratamento deve ser preventivo”, avalia Pedro.

Como prevenir e tratar uma crise alérgica

Se para a gripe a vacina é a maior prevenção, para o DPOC é parar de fumar e para a Covid-19 são o distanciamento social e o uso e máscara, para as alergias respiratórias as estratégias são outras. O alergista recomenda tratamento com corticoide nasal ou inalado, evitar ácaro e alergênicos e evitar o corticoide via sistema, injetável ou em pílula. Isso porque, nesse caso, o paciente pode baixar a imunidade e isso pode facilitar a entrada do novo coronavírus. Este último só deve ser usado com orientação médica.

Como prevenir uma crise respiratória:

  • Acompanhamento médico;
  • Evitar ambientes fechados, com pouca ventilação e sem luz do sol;
  • Arejar a casa para não acumular poeira;
  • Evitar mofo;
  • Reforçar a limpeza do ambiente (atenção para quem tem animais domésticos por causa dos pelos);
  • Lavar com frequência as roupas de cama, para não acumular ácaros;
  • Evitar exposição à fumaça de cigarro, poluição, poeira, frio;
  • Praticar exercícios físicos regularmente e de forma controlada.

O cuidado com corticoides também serve para o dexametasona, que ficou conhecido no combate à Covid-19. A Organização Mundial da Saúde (OMS) considerou um avanço científico o uso do esteroide, que reduziu significativamente a mortalidade em pacientes seriamente afetados pelo novo coronavírus. Mas atenção: é importante destacar que, pelas pesquisas até o momento, o uso desse glicocorticoide não diminui o risco de morte em todos os pacientes e não se constatou benefício nos quadros leves Covid-19. Assim como outros corticoides via sistema, ele deve ser evitado na prevenção da doença.

“A Covid teria duas fases: na primeira, quando o vírus entra, ele tem o efeito ruim e direto que a gente chama de fase viral, onde ele mata as células (citopático). Depois tem a fase que já não tem tanto vírus, é uma fase de hiperinflamação, que causa uma tempestade das citocinas. O corticoide agiria na segunda fase. Na primeira, ele poderia baixar a imunidade e, consequentemente, diminuir a defesa do corpo, piorando a infecção e replicando o vírus no organismo. Ou seja, nada de comprar dexametasona na farmácia”, alertou o alergista.

E como fica a atividade física?

As atividades físicas moderadas, que têm sido praticadas dentro de casa, com orientação profissional, servem como prevenção contra a baixa imunidade e são potencializadoras de uma qualidade de vida baseada na saúde física e mental. E isso serve também para quem possui doença respiratória. É claro que, se o paciente estiver passando por uma crise, a atividade deve ser suspensa. Mas se existe controle, ela pode ajudar na limpeza dos brônquios, no controle respiratório e na imunidade.

“Em sintomas de crise alérgica ou de qualquer doença viral ou bacteriana, as atividades devem ser suspensas, porque você já tem uma obstrução e um déficit de oxigênio e a atividade física requer mais oxigênio. Forçar a barra só vai piorar a situação. Minha orientação é retomar as atividades de 5 a 7 dias após cessarem os sintomas. Recomeçar sempre gradativamente. Se você anda um quilômetro e começa a ficar cansado, pára. No dia seguinte, você anda mais um pouquinho”, recomenda a pneumologista Maria Vera.

Ela explica que na DPOC, a atividade física faz parte do tratamento, com um grande impacto na qualidade de vida dos pacientes. Na asma, ela também é importante. Anos atrás existia o mito da natação como melhor atividade física para quem possui asma. Hoje não há mais essa especificidade.

“O paciente pode fazer qualquer atividade e isso é muito importante também. Ele ou ela deve encontrar alguma atividade que o corpo aguente. Às vezes o paciente não aguenta treinar corrida, mas consegue fazer um yoga. Existe também a asma desencadeada por exercício, e isso faz com que o paciente deva usar broncodilatador antes de começar a atividade. Mas no geral não existe restrição”, alerta a médica.

Segundo Vera, existem exercícios respiratórios importante para pacientes crônicos: exercício de expansão torácica, aparelhos para exercitar e para higienizar os brônquios etc. São orientados por fisioterapeutas respiratórios para manter o controle. Vera explica que eles são fáceis de fazer em casa e usam aparelhos acessíveis pela internet.

“Além disso, exercícios que demandam prestar atenção na respiração, como yoga, são muito bons para quem tem dificuldade respiratória. Na asma, a gente recomenda muito isso. Respirar com uma frequência muito elevada causa fadiga e o yoga ajuda na coordenação, relaxa, e acaba auxiliando na higiene brônquica. Isso porque respirações profundas fazem com que se ventile áreas no pulmão e se elimine a secreção”, explica a médica.

Fonte: G1.globo.com