O que acontece no corpo quando se para de beber álcool

Ano novo, vida nova: conheça os principais efeitos da substância no organismo e saiba quais os benefícios para a saúde após uma semana, um mês, seis meses e um ano sem bebida alcoólica.

Uma pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro do Fígado (Ibrafig) mostra que 55% da população brasileira têm o hábito de consumir bebidas alcoólicas. Nos últimos anos, atravessados pela pandemia de Covid-19, 17,2% desse montante declararam aumento do consumo associado a quadros de ansiedade graves por conta do isolamento social. E agora, a luta de muitos é para largar ou ao menos reduzir o álcool, uma meta de Ano Novo para muita gente. E você sabe o que acontece com o nosso corpo quando paramos de consumir álcool?

Álcool em excesso pode afetar a saúde física e mental (Imagem Ilustrativa: Michal Jarmoluk por Pixabay)

Primeiro, vamos entender o que o consumo constante de álcool pode causar.

A curto prazo:

  • Ganho de peso;
  • Alterações de humor: irritabilidade, impaciência, depressão;
  • Perda de memória;
  • Sonolência;
  • Resistência insulínica e diabetes;
  • Hipertensão arterial;
  • Obesidade;
  • Infarto agudo no miocárdio e AVC- acidente vascular cerebral.

A longo prazo, o álcool prejudica todos os órgãos, em especial o fígado (o fígado sofre uma sobrecarga para metabolizá-lo), e causa:

  • Gastrite;
  • Hepatite alcoólica;
  • Pancreatite;
  • Fígado gorduroso;
  • Cirrose;
  • Ansiedade;
  • Depressão;
  • Envelhecimento celular precoce;
  • Câncer – especialmente de mama, boca, laringe, faringe, esôfago, estômago, fígado e intestino.

Para quem pratica atividade física:

O médico endocrinologista Guilherme Renke explica que o álcool reduz a capacidade de recuperação muscular. Além disso, sabe-se que associar exercícios a álcool pode aumentar a possibilidade de:

  • Arritmias;
  • Hipoglicemia;
  • Desidratação;
  • Fadiga;
  • Queda na concentração;
  • Perda de massa muscular;
  • Queda de rendimento;
  • Má recuperação muscular.

“As primeiras horas após o exercício são cruciais para a recuperação muscular. Portanto, o que você consome, especialmente após o treino, faz muita diferença. Um estudo mostrou que a ingestão de álcool prejudica as taxas de síntese de glicogênio muscular após o exercício. Esse resultado aparece principalmente devido aos efeitos indiretos do consumo de álcool: como os atletas estavam bebendo, eles não ingeriam carboidratos, conforme recomendado, para uma recuperação ideal”, acrescenta Renke.

O que acontece quando se para de beber:

Em uma semana:

Melhora do sono – o metabolismo do álcool atrapalha a produção dos hormônios como a melatonina, impedindo que o ciclo do sono seja completo para que possa reparar as células.

Mais energia – o álcool causa reações inflamatórias nas células, fazendo com que o corpo gaste muita energia para metabolizar o álcool, por isso o nível de energia é tão afetado diretamente.

Menor retenção líquida pelo melhor equilíbrio do ADH (hormônio anti diurético), responsável pelo controle da reabsorção de água pelo organismo.

Em um mês

Os índices glicêmicos diminuem em média 15%, ou seja, ocorre uma diminuição da quantidade de açúcar no sangue responsável pelo desenvolvimento do diabetes tipo 2.

Potencializa o processo de emagrecimento, por diminuir as respostas inflamatórias e otimizar a queima de gordura.

Em 6 meses

Melhora a pele, pois a desidratação celular causada pelo consumo de álcool acelera o processo de envelhecimento.

Redução dos níveis de colesterol, contribuindo para a saúde do coração e a diminuição do risco de infartos e ACV.

Menos chance de arritmias cardíacas;

Redução da pressão arterial, ajudando no tratamento da hipertensão, outro fator de risco para infarto e AVC.

Em 1 ano

Redução da esteatose hepática, que é a gordura do fígado, entre 15% a 20%. O excesso de gordura no fígado pode levar a um quadro mais grave de disfunção do órgão, causando uma cirrose hepática irreversível.

A longo prazo, explicou a especialista, além de auxiliar no processo de emagrecimento, o álcool é uma substância tóxica ao organismo que acelera o processo de catabolização (mecanismos de quebra de proteínas que afetam diretamente o corpo a nível metabólico). Para que isso ocorra, as vias metabólicas são todas alteradas, e entre as consequências, ocorre o favorecimento de acúmulo de gordura, principalmente na região abdominal, devido a ativação da secreção do cortisol, que estimula as células a guardarem essas gorduras!

“Nosso fígado metaboliza o álcool da mesma forma que o açúcar, já que ambos servem como veículo para converter carboidratos alimentares em gordura, promovendo a resistência à insulina, fígado gorduroso e dislipidemia (níveis anormais de gordura no sangue), por isso eliminarmos o álcool da dieta implica em tantos benefícios”, acrescentou Genaro.

Maior equilíbrio emocional, com menos alterações do humor e condutas antissociais, já que o álcool interfere negativamente no nível de estresse através da regulação do cortisol. Com isso, combate-se fatores de risco para ansiedade e depressão.

Redução da resistência insulínica, ajudando a prevenir a diabetes;
Diminuição do risco de desenvolvimento de alguns tipos de câncer, especialmente os de boca, esôfago, intestino e reto.

Por que o álcool faz mal?

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) não existe um padrão de consumo de álcool que seja absolutamente seguro. O limiar de ingestão de álcool necessário para danos cerebrais é desconhecido. O impacto de um consumo moderado também ainda não está claro em relação aos efeitos do álcool sobre os desfechos cardiovasculares e cerebrais. Existem ainda dois problemas: toxicidade e superavit calórico. Do ponto de vista calórico, o consumo da álcool faz uma grande diferença na ingesta total calórica de uma pessoa. O álcool possui maior densidade energética (7kcal/g) do que o carboidrato, por exemplo (4kcal/g), assim o consumo exagerado do álcool, mesmo com restrição de alimentos, pode trazer prejuízo na composição corporal de um esportista. Ou seja, álcool engorda.

“Falando em efeitos tóxicos, o grande problema é o acetaldeído. Após a ingestão do álcool, duas enzimas do fígado, álcool desidrogenase (ADH) e aldeído desidrogenase (ALDH), começam a quebrar a molécula de álcool para que ela possa ser eliminada do corpo. O ADH ajuda a converter o álcool em acetaldeído. O acetaldeído permanece no corpo apenas por um curto período de tempo porque é rapidamente convertido em acetato por outras enzimas. No entanto, embora o acetaldeído esteja presente no corpo por um curto período de tempo, é altamente tóxico e conhecido como cancerígeno”, explica Renke.

Para Roberta Genaro, médica atuante na área de nutrologia e medicina integrativa, palestrante e biohacker, o consumo de álcool afeta diretamente a nossa saúde, e há pesquisas que demonstram uma forte associação entre o consumo e doenças neurodegenerativas a nível de DNA. Em um estudo observacional feito por pesquisadores de Oxford com mais de 25 mil pessoas, foi demonstrado que existe uma forte relação entre o consumo de álcool e o processo de envelhecimento celular precoce.

“O álcool é uma droga psicoativa, ou seja, ele atua diretamente no cérebro como uma substância tóxica para o organismo, independente do tipo de bebida alcoólica consumida”, comenta Roberta.

A recomendação, de acordo com o médico, é escolher não beber ou beber com moderação, limitando a ingestão a um máximo de duas bebidas (exemplo: duas long necks ou duas taças de vinho) por dia para homens ou uma bebida por dia para mulheres, nos dias em que o álcool é consumido.

“Na verdade, com a interrupção do consumo, evitamos o desenvolvimento de doenças crônicas, incluindo hipertensão arterial, doença cardíaca, acidente vascular cerebral, doença hepática e problemas digestivos e problemas de saúde mental causados pelo álcool incluindo depressão e ansiedade”, completa Renke.

Outro benefício apontado pelo endocrinologista, é a melhora do sono, o que também beneficia a recuperação de atletas. Outros estudos mostraram efeitos na função cognitiva na manhã seguinte e sugeriram aumento do risco de lesões musculares nas pessoas que consomem bebidas alcoólicas.

De acordo com a médica e biohacker Roberta Genaro, ao eliminarmos o álcool da dieta, a curto prazo melhoramos a nossa capacidade metabólica do fígado, trazendo mais energia, disposição e bem-estar ao organismo e, no longo prazo, favorecendo uma longevidade saudável e diminuindo o risco do aparecimento de doenças que podem ser ativadas pelo consumo de álcool.

“A curto prazo, eliminando o álcool e a famosa ressaca existe uma melhora na nossa capacidade cognitiva, capacidade de pensamento e raciocínio lógico. Além disso, diminui a retenção líquida, logo melhora a sensação de inchaço do corpo causado pelo acúmulo de água que sai dos vasos para o tecido subcutâneo”, completa.

Alcoolismo

Roberta reforça que o National Institute on Alcohol Abuse and Alcoholism (NIAAA) estabelece como dose padrão 14g de etanol puro e orienta as mulheres a limitarem seu consumo a uma dose por dia e, os homens, a até duas doses por dia. A ingestão acima desta quantidade já pode ser considerada “beber demais”.

Segundo o Ministério da saúde, apenas um “sim” a algumas dessas perguntas sugere um possível problema e sinais do alcoolismo, sendo importante procurar ajuda:

  • Você já sentiu que deveria diminuir a bebida?
  • As pessoas já o irritaram quando criticaram sua bebida?
  • Você já se sentiu mal ou culpado a respeito de sua bebida?
  • Você já tomou bebida alcóolica pela manhã para “aquecer” os nervos ou para se livrar de uma ressaca?

“O álcool afeta diretamente os receptores celulares cerebrais e nível de DNA ligado a produção de neurotransmissores como serotonina e dopamina, implicando numa deficiência desses neuro-hormônios fundamentais para a felicidade e bem-estar. Logo, quanto maior o consumo de álcool, maior será a chance de piorar ou desenvolver algum grau de depressão”, concluiu a especialista.

Fontes:
Guilherme Renke é médico endocrinologista, membro da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e metabologia (SBEM), e médico do esporte, membro da Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte (SBMEE) e da Sociedade Brasileira de Medicina e Obesidade (SBEMO).
Roberta Genaro é médica atuante em nutrologia e medicina integrativa, palestrante em Biohacker e fundadora da MAP, primeiro Master Mind de Saúde do Brasil. Pós-graduada em biofísica quântica e terapia ortobiomolecular e Master Health Coach em em Saúde Integrativa Sistêmica.

Fonte: EuAtleta