Novas internações por Covid dobram em 23 dias no estado de SP

Número já é semelhante ao verificado em setembro de 2021. Média diária é de 566 novas internações por suspeita ou confirmação da doença a cada dia.

A média diária de novas internações por suspeita ou confirmação de Covid-19 em enfermaria e UTI dobrou em 23 dias no estado de São Paulo. Diante do apagão nos dados de casos confirmados da doença, o indicador de internações é uma das principais estatísticas para o acompanhamento da pandemia no estado.

Nesta terça-feira (4), foram 566 novas internações, contra 283 em 13 de dezembro de 2021. Embora seja menor do que os dos piores momentos da pandemia, o número já é semelhante ao verificado em setembro de 2021. A média de internações considera o número de novas admissões em leitos de enfermaria ou de UTI de pacientes com confirmação ou suspeita de Covid-19.

(Imagem Ilustrativa: Gerd Altmann por Pixabay)

Mesmo com o apagão das estatísticas de casos e mortes nas últimas semanas, outros indicadores apontam que a contaminação pelo coronavírus voltou a aumentar no estado. Além de internações, filas em postos de saúde e hospitais e testes positivos de Covid em farmácias cresceram.

Desde que o Ministério da Saúde afirmou ter sofrido um ataque hacker em dezembro, estados enfrentaram dificuldades para extrair as informações sobre a doença dos sistemas oficiais.

Na terça-feira (4), o governo de São Paulo afirmou que a extração começou a ser normalizada. No entanto, especialistas afirmam que as informações represadas durante o período de instabilidade ainda não foram divulgadas completamente. Para eles, os governos ainda estão em um “voo cego” no acompanhamento dos dados de Covid-19 (leia mais abaixo).

Nesta quarta, o secretário estadual da Saúde, Jean Gorinchteyn, admitiu que os dados ainda não estão completos, e que parte dos casos que ocorreram durante o apagão ainda não foi contabilizada. Mesmo com o aumento nas internações, a gestão estadual descarta a adoção de novas medidas restritivas para conter o avanço da variante ômicron e da gripe.

Já o coordenador-executivo do Comitê Científico do governo de São Paulo declarou que o apagão de dados ocorreu porque o estado confiou no sistema do Ministério da Saúde.

“Essa questão do apagão talvez seja a manifestação mais evidente do processo de desconstrução do sistema único de saúde que a gente está enfrentando. O estado confiou no Ministério da Saúde. Todos os casos confirmados são encaminhados diretamente dos municípios para o ministério, disse.

Para ele, a permanência do apagão equivale à sensação de estar “conduzindo um Boeing sem GPS e radar”. O médico avaliou ainda a possibilidade de que o estado criasse seu próprio sistema de notificação, para contornar as falhas do Ministério da Saúde. Esta solução já foi adotada por outros estados.

“Talvez a solução para isso seria criar um sistema próprio do estado de São Paulo, em que os municípios encaminham para o próprio estado”, completou.

Internações em alta

Enquanto o acompanhamento da tendência da pandemia por casos e óbitos segue prejudicado, o aumento das internações e crescimento do fluxo de pessoas com sintomas gripais nos postos de saúde indica recrudescimento da doença.

A média do total de internados em UTI voltou a crescer no estado em dezembro após 6 meses de queda ininterrupta. Nesta terça-feira (4), 1.120 pacientes com suspeita ou confirmação de Covid-19 ocupam leitos de UTI no estado.

A média de pacientes internados em UTI havia caído mês a mês ao longo do segundo semestre de 2021. Em junho, havia 11 mil internados nessas unidades. O número passou para 3 mil em agosto, então para 1.600 em outubro, e 1.000 em novembro. Mas, segundo dados da Fundação Seade, desde o dia 22 de dezembro o índice voltou a crescer.

Os especialistas alertaram que, como o dado oficial considera pacientes internados em leitos de enfermaria ou UTI com suspeita ou confirmação de Covid-19, é possível que uma parte deles estejam com o vírus da gripe (Influenza) e sejam contabilizados na estatística de novas internações por coronavírus.

De acordo com o secretário municipal de Saúde de São Paulo, Edson Aparecido, os casos de Covid-19 na capital paulista aumentaram cerca de 30% nos últimos 10 dias. Aparecido não detalhou os números absolutos deste aumento, mas afirmou que o cálculo foi feito pela Vigilância Sanitária com os testes positivos de Covid.

Na capital paulista, também há relatos de dificuldade para realização de testes nas farmácias.

Normalização dos dados

Embora o governo do estado alegue que já houve normalização da extração dos dados, para os pesquisadores do Observatório Covid-BR, os números de casos graves (computados no sistema Sivep-Gripe) e leves (inseridos na plataforma E-SUS) ainda não estão disponíveis para consulta. Os pesquisadores, que fazem análises diárias destas informações, explicam que os números não são atualizados há 25 dias.

Por conta disso, o grupo analisa o Censo Hospitalar, uma ferramenta criada pelo governo de São Paulo para complementar os dois sistemas oficiais do governo federal. Essa ferramenta permite obter informações sobre o fluxo de internados nas unidades de saúde, mas os dados não são detalhados o suficiente para análises mais precisas, explica Paulo Inácio Prado, pesquisador do Instituto de Biologia (IB) da USP e membro do Observatório Covid-19 BR.

“A grande maioria dos estados brasileiros não está publicando uma planilha confiável com os dados de Covid-19 desses dois sistemas oficiais do Ministério da Saúde, o E-SUS e o Sivep. Para São Paulo especificamente, o Censo Hospitalar até fala de hospitalização, mas não sabemos se pode ser um caso que ainda não foi testado e, posteriormente, acabou sendo positivo para Influenza e negativo para Covid-19″, disse Prado.

O pesquisador destacou ainda a gravidade da falta de informações completas em meio a um período de agravamento da pandemia.

“Estamos em um voo cego, e isso é gravíssimo porque a gente teve, ou está tendo ainda, um surto de Influenza. Se a gente não souber quanto desses casos são Covid-19, como que a gente coordena ações?”, questionou.

Para o integrante do Observatório Covid-BR, o estado de São Paulo pode estar vivendo um aumento de casos leves, que não aparecem nos dados de hospitalização, em meio à propagação da variante ômicron.

“Um outro problema é que a ômicron, aparentemente, tende a ter menos casos graves, então pode ser que tenhamos muitos e muitos casos leves e a gente não está nem sabendo, porque a gente não tem o dado correto do caso leve, que depende de testagem. Além de não ter a normalização das bases, é lamentável a gente ter uma política de testagem tão pobre no estado mais rico do Brasil. Aqui, a testagem deveria estar na mesma casa da que é praticada em países europeus”, afirmou.

Fonte: G1.globo.com