Adolescente que tentou matar a família envenenada sofria bullying na escola, diz pai

Menina de 12 anos foi apreendida em Jarinu e confessou que 'objetivo era morar com amiga e não gostava da família'. Pai afirma que não sabia da situação na escola antes de ela ser acompanhada pelo Conselho Tutelar.

A estudante de 12 anos que colocou veneno de rato no café dos pais revelou à psicóloga do Conselho Tutelar e à Polícia Civil que sofria bullying de outros adolescentes na escola, em Jarinu (SP). De acordo com o pai, a situação era desconhecida pela família até que a menina foi apreendida e prestou esclarecimento sobre o atentado contra os parentes.

“Vim saber agora do bullying. Ela [filha] não falava para mim, mas contou ao psicólogo do Conselho Tutelar que a criançada da escola a chamava de baleia e de gigante”, disse o mecânico, de 43 anos, ao G1.

Segundo o delegado Victor Oliveira Paulo, a tentativa de envenenamento chegou à delegacia pelo pai da menina. Ele contou que foi tomar café em casa quando sentiu um gosto amargo. Diante da situação, ele avisou a esposa, que também bebeu o café e, ao despejar o líquido na pia, notou a substância pastosa no fundo da garrafa.

O pai acreditava que uma pessoa teria entrado no imóvel e colocado o veneno na garrafa, por isso fez o boletim de ocorrência. No entanto, a mãe lembrou que a filha tinha adoçado a bebida e a questionou. Pressionada, a estudante confessou que havia misturado veneno para matar os pais após dar três versões diferentes na delegacia.
“A adolescente e outra amiga ouvida disseram que as duas não têm muitos amigos na escola e ficavam mais no banheiro, longe dos outros jovens”, contou o delegado.

Por telefone, a Secretaria de Educação do Estado de São Paulo informou que casos de bullying com a menina não foram registrados na escola e que a estudante tem um histórico de boas notas.

Ainda segundo o relato da estudante à polícia, ela teria colocado veneno de rato na bebida para matar os pais e morar com a amiga.

“Só na última versão assumiu que a intenção era matar os pais e a irmã mais nova porque não gostava da família, tinha ciúme da irmã e iria supostamente morar com uma amiga da escola”, explicou o delegado.

A outra menina disse à investigação que deu o veneno à colega, mas que não sabia que a intenção dela seria usá-lo para tentar matar os pais.

‘Arrependimento’

Ao falar sobre a filha, os olhos do mecânico se encheram de lágrima. Sem se identificar, o pai, que tenta entender o que levou a filha a planejar tirar as vidas da família, inclusive da irmã de 3 anos, contou como era a rotina da adolescente de 12 anos.

Segundo ele, a menina não tinha acesso à internet e redes sociais. A restrição, de acordo com ele, era um método para “blindar” a jovem de vídeos violentos e pessoas desconhecidas. O procedimento se estendia para visitas a casas de vizinhos.

“Se precisasse fazer um trabalho, eu pagava o horário na lan house. Também não ia na casa de vizinhos que eu não conhecia. A gente nunca sabe o que acontece na casa do vizinho.”

Sem efeitos colaterais da substância, a preocupação da família da jovem agora é tê-la novamente em casa para tentar superar o episódio.

“A promotora me perguntou se eu a traria para casa. Não tenho medo da minha filha. Ela fez por impulso, me disse quando me viu no fórum e deitou no meu ombro. Para mim, se ligassem agora para eu buscar eu iria correndo.”

O caso segue sob investigação em sigilo com a menina recolhida em uma unidade da Fundação Casa.

Fonte: G1.globo.com