Burnout parental, pais exaustos: causas, sintomas, tratamento

Estudo concluiu que a síndrome que gera fadiga e outros sintomas em pais atinge mais mulheres do que homens: especialista explica os motivos e ajuda a identificar o problema. Entenda!

Um estudo da Universidade de Ohio, nos Estados Unidos, realizado entre janeiro e abril do ano passado com 1.285 pais de crianças e adolescentes menores de 18 anos, identificou que 66% dos participantes sofriam de burnout parental. A pesquisa revelou ainda que o problema estava possivelmente relacionado com ansiedade, depressão e também com o aumento do consumo de álcool. Para entender sobre o que é o burnout parental e como lidar com a prevenção e o tratamento, o EU Atleta conversou com o psicólogo Marcelo Matias, que desenvolve pesquisas e um doutorado sobre burnout em Londres, na Inglaterra.

(Imagem Ilustrativa: Stephanie Pratt por Pixabay)

O que é

Burnout é uma síndrome de esgotamento normalmente ligada ao trabalho. Com sintomas como exaustão física e mental, autoconfiança baixa, dificuldade de concentração, insônia, ansiedade, depressão, cansaço e apatia, é uma reação ao estresse causado pelo trabalho. Mas há outras situação sem conexão com o mundo profissional levando a casos semelhantes. Um deles é o burnout parental, relacionado à rotina e às preocupações inerentes à vida de pais e mães.

O burnout parental, de acordo com o psicólogo Marcelo Matias, é caracterizado como uma condição que atinge mães, pais e cuidadores diretos, que provoca extrema exaustão emocional junto a sentimentos de derrota, frustração ou redução na capacidade de cuidar. Enquanto o burnout ocupacional está ligado ao ambiente de trabalho e à relação da pessoa com esse ambiente, no burnout parental é a relação com o cuidar que causa o desgaste extremo.

“Uma diferença interessante entre essas duas formas de burnout é que o burnout parental leva mais tempo para mostrar os sintomas, além de ainda existir uma subnotificação desse fenômeno”, explica Marcelo Matias.

O estudo americano avaliou 1.285 pais a longo de quatro meses de 2021, com o resultado de 66% com burnout parental. Entre os pais que sofriam com o problema, 68% eram mulheres e 42%, homens, com uma clara prevalência do problema entre as mães. No Brasil e em outros países do mundo, de acordo com o psicólogo, a carga de atividade das mulheres ainda permanece maior do que a de homens e, por esse motivo, mulheres podem sofrer mais com o burnout parental do que os homens.

“As exigências para ser uma mãe adequada são maiores do que para os homens. Quando pensamos no burnout e na questão da demanda e dos recursos, na conta da mãe entram mais demandas e menos recursos quando comparados ao pai”, explica Matias.

Causas

Segundo o psicólogo, não existe um consenso sobre as causas do burnout parental. A teoria mais aceita entre os pesquisadores é a do excesso de exigências aos pais. De acordo com Marcelo Matias, a pandemia, por exemplo, aumentou significativamente as demandas dos cuidadores, mães e pais que tiveram que se desdobrar para dar conta de suas próprias atividades e também das de seus filhos.

“Se de um lado a pressão para ser aquilo que o senso comum chama de uma ‘boa mãe’ ou um ‘bom pai’ aumentou consideravelmente, do outro lado as condições para conseguir lidar com a demanda extra não foram proporcionais. Por condições, entendemos diversos elementos como tempo, treinamento, saúde emocional, descanso, habilidades, rede de apoio e também maior igualdade entre o que é exigido para cada gênero em nossa sociedade”, explica.

O estudo americano, por seu lado, aponta uma série de motivos para o burnout parental, destacando-se: ansiedade dos pais, ansiedade dos filhos, TDAH dos filhos ou preocupação dos pais com um possível transtorno mental não diagnosticado dos filhos.

Além disso, o estudo indicou ainda que possivelmente o burnout parental se relaciona com transtornos de ansiedade, depressão e também com o aumento de consumo de álcool. Psicólogo e pesquisador de burnout em Londres, Marcelo Matias explica que como o burnout é um processo gradual, que não acontece do dia para a noite, a pessoa que sofre com o problema tenta encontrar diferentes maneiras de enfrentar e modificar o que está sentido.

Com isso, algumas pessoas buscam encontrar maneiras mais saudáveis e funcionais para lidar com o problema como: ter um grupo de amigos, uma rede de apoio, fazer exercícios físicos, respeitar as próprias necessidades. Estratégias saudáveis que podem ajudar. Mas as pessoas são diferentes em suas reações, e algumas podem buscar o silenciamento da dor, um escapismo do sofrimento e do cansaço ou buscam aumentar a própria energia para dar conta. Nesse caso, o abuso de substâncias e os comportamentos compulsivos podem ser entendidos como tentativas de aliviar o desconforto ou sofrimento, segundo o especialista.

Sintomas

  • Estado extremo de cansaço;
  • Esgotamento;
  • Fadigas física e emocional que não necessariamente estão ligadas à energia que foi usada ao longo do dia, pois o cansaço não diminui mesmo após o descanso diário;
  • Sentir que precisa de distância dos filhos;
  • Sensação de isolamento;
  • Irritabilidade;
  • Falta de paciência e aumento de conflitos com outros membros da família;
  • Aumento de atividades de escape, com uso de comida, bebida ou drogas para conseguir enfrentar o dia a dia;
  • Falta de motivação;
  • Sinais físicos como dores de cabeça, gastrites, queda de cabelo;
  • Sentimentos de ansiedade e de depressão.

Cuidados e tratamento

Um dos caminhos para prevenir e tratar o burnout parental é saber colocar limites para si e para os outros, compreendendo que “é ok, dizer não”. O psicólogo Marcelo Matias recomenda acompanhar os filhos nas lições de casa, levá-los filhos em atividades extracurriculares e garantir que eles estarão presentes nos aniversários de amigos, por exemplo. No entanto, também é fundamental para os pais ou cuidadores priorizarem suas próprias necessidades como:

  • Cuidar da alimentação, consumindo nutrientes variados;
  • Descansar;
  • Buscar estratégias para um sono reparador;
  • Dividir as tarefas domésticas com o parceiro e também com os filhos, que já podem assumir algumas funções na casa de acordo com a faixa etária, desde guardar seus próprios brinquedos até lavar a louça, no caso dos maiorzinhos;
  • Dar responsabilidade e autonomia aos filhos em relação às tarefas da escola e à arrumação do próprio quarto;
  • Se necessário, vale diminuir o número de atividades extracurriculares dos filhos, quando forem muitas, pois, em excesso, elas podem estressar as crianças ou adolescentes e os pais;
  • Ter um horário para atividades para lazer;
  • Praticar exercícios físicos;
  • Procurar uma rede de apoio para desabafar e falar sobre as experiências;
  • Aprender boas práticas que já funcionam para outras pessoas é também uma excelente forma de combate ao burnout, principalmente nas etapas mais iniciais, quando a vontade de se isolar aumenta;
  • Procurar ajuda de terapeutas, como psicólogos, psicanalistas, psiquiatras.

Fonte:
Marcelo Vieira Matias é psicólogo há mais de 10 anos pela USP, especialista em Orientação Profissional e em Gestalt-terapia. Atualmente faz doutorado e pesquisa sobre Burnout em Londres, na Inglaterra.

Fonte: EuAtleta