Como a desinformação atrapalha o combate às mudanças climáticas

Informações falsas são uma das maiores ameaças à ação climática rápida da qual os países pobres e mais vulneráveis dependem com urgência.

Desinformação e informações incorretas estão impedindo pessoas em todas as partes do mundo de entender a gravidade e as causas da mudança climática e pressionar seus governos a agir. A ação orquestrada faz parte de um esforço mais amplo das indústrias poluidoras: usar as redes sociais para convencer a opinião pública de que cientistas climáticos e ambientalistas fazem parte de um grande complô para enganar o mundo sobre a crise do Clima.

(Imagem Ilustrativa de memyselfaneye por Pixabay)

Segundo o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), há “interesses econômicos e políticos velados” que têm “gerado retórica e informações enganosas que sabotam as ciências climáticas e ignoram riscos e urgência”. Isto está causando uma “representação fraudulenta ao público” sobre os riscos e está polarizando o apoio público para as ações, diz o texto.

O relatório ainda explica que o apoio do público está sendo ainda mais enfraquecido pela tendência de uma parte da imprensa tradicional de amplificar mensagens que não são embasadas pela ciência sob o pretexto de mostrar os “dois lados”. O estudo adverte que não se deve dar o mesmo peso a cientistas climáticos e negacionistas nas coberturas jornalísticas.

Pesquisadores verificaram um aumento significativo na circulação de desinformação climática durante a Conferência da ONU sobre Clima do ano passado, a COP26, realizada em Glasgow, na Escócia. Esses estudiosos temem que a situação se repita na conferência deste ano, a COP27, que será realizada em novembro, em Sharm El-Sheikh, no Egito. 

De olho no aumento de informações falsas sobre clima durante a realização das COPs, mais de 250 autoridades de alto nível apoiaram uma definição universal para a desinformação climática durante a reunião da COP26, ano passado. Elas assinaram uma carta aberta para os presidentes executivos de plataformas digitais, a presidência da COP26 do Reino Unido e o Secretariado das Mudanças Climáticas das Nações Unidas, pedindo que as companhias definam políticas e implantação similares às que foram criadas para informações sobre a COVID-19 em 2020 e 2021.

Como a desinformação climática se apresenta

A desinformação está reduzindo a educação climática e levando as pessoas a rejeitar informações precisas e desconfiar de cientistas, de acordo com uma pesquisa publicada na revista Nature. As “fake news” sobre clima podem ser representações puramente enganosas, omissões ou distorções de dados científicos, mas também podem estar disfarçadas de esforço para combater as mudanças climáticas, o chamado greenwashing. 

A maior parte deste conteúdo falso vem de um grupo muito pequeno. Um levantamento mostrou que dez contas de Facebook foram responsáveis por quase 70% do tráfego de desinformação da plataforma, de acordo com Centro de Combate ao Ódio Digital.

A ONG Global Witness fez um estudo sobre a experiência de usuários céticos quanto ao clima no Facebook, e descobriu que o algoritmo rapidamente recomendava páginas que reafirmam as crenças iniciais desses usuários. Entre os conteúdos estavam páginas sugerindo que a crise climática é uma farsa, que o aumento das temperaturas faz parte dos ciclos naturais, que os modelos de aquecimento são imprecisos e que as soluções de mitigação não funcionarão ou não irão beneficiar a sociedade.

A circulação de informação falsa durante a COP26 pode ter tido consequências graves. O evento foi um momento importante para capturar a atenção do público, especialmente em países de língua inglesa, como o Reino Unido e os Estados Unidos, onde o negacionismo climático tem crescido. As dúvidas geradas pela desinformação estão contaminando as posturas políticas domésticas, causando retrocessos nos países que são os maiores poluidores e, por isso, pareciam ser os mais determinados. Soluções como as energias renováveis e a eletrificação do transporte foram os principais alvos de desinformação.

Mais afetados

De acordo com o Carbon Brief, a desinformação climática está retardando a ação climática mesmo neste momento em que a instabilidade do clima já afeta a economia, a saúde e a segurança imediata de milhões de pessoas no planeta. As principais vítimas são os países mais vulneráveis ao clima e os países pobres, o que inclui boa parte dos países do continente africano, onde será feita a conferência deste ano. Esses países já estão enfrentando as piores consequências da mudança do clima e precisam de um esforço global imediato para baixar emissões.

Quanto mais desinformação for disseminada durante a COP27 – especialmente na África e em regiões que precisam de apoio – mais difícil será para a conferência estimular as ações climáticas efetivas.

O Google decidiu proibir, em outubro de 2021, os anúncios e a monetização do negacionismo sobre as mudanças climáticas. Os ativistas, no entanto, estão pedindo que buscador amplie sua definição de desinformação climática para incluir as práticas de “maquiagem verde” (greenwashing) e “escolha seletiva” (cherry-picking).

Ainda assim, um estudo recente mostrou que os tomadores de decisão e as plataformas de mídia são ineficazes no combate à desinformação climática e na proteção das discussões sobre ações climáticas. A pesquisa, da Climate Action Against Disinformation, fez dez recomendações para governos. Elas incluem a adoção de uma definição universal da desinformação climática, a melhoria da transparência e do acesso aos dados para quantificar tendências de desinformação, a restrição da defesa fraudulenta dos combustíveis fósseis nas publicidades pagas, e a capacidade de realizar pesquisas baseadas em imagens para rastrear memes, vídeos e imagens virais.

Fonte: Climatempo