Região entra na fase ‘seca’ do ano com Cantareira em estado de atenção

Com o Sistema Cantareira em estado de atenção e a previsão de poucas chuvas na região de Campinas (SP), o período considerado “seco” do ano promete desafios para o abastecimento. Do dia 1º de junho e até o fim de novembro, os Comitês das Bacias dos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí (PCJ) assumem a gestão da cota do Cantareira reservada para as 64 cidades da região.

Sistema Cantareira (Foto: Divulgação/ Sabesp)

Os reservatórios do Cantareira também são usados para abastecer a Grande São Paulo, mas 19 cidades da região de Campinas, incluindo a metrópole de 1,2 milhão de habitantes, dependem exclusivamente das águas que chegam do sistema. Veja, abaixo, a lista de cidades.

Por isso, de junho a novembro os comitês monitoram as condições dos mananciais e definem quanto de água do Cantareira será liberada para a região. A cota do sistema para os municípios dos Comitês PCJ é de 158 bilhões de litros no seis meses.

Nos outros seis meses, considerados o período úmido (de dezembro a maio), a gestão da água é exclusiva do Departamento de Águas e Energia Elétrica (DAEE), da Agência Nacional de Águas e da Sabesp.

Coordenador da Câmara Técnica de Monitoramento Hidrológico dos Comitês PCJ, Alexandre Vilella explicou que, no período seco, a definição da descarga de água para a região se dá a partir das previsões meteorológicas e das vazões de cada manancial.

Campinas, por exemplo, recebe água do Cantareira por meio do Rio Atibaia, que precisa ter no mínimo 10 metros cúbicos por segundo diariamente no ponto de captação. “Essa mínima garante as condições de quantidade e qualidade para captação”, explica.

“Entre soltar essa água nas represas do Cantareira e chegar em Campinas, nós estamos falando de oito a dez dias. Então o desafio da gestão é olhar a previsão do tempo, que mais de três a quatro dias já tem muita distorção, olhar a geração hidrelétrica, olhar as captações, as transposições de bacias, tentar estimar a demanda e tomar a decisão”.

Desafios: nível baixo e chuvas

Definida pela outorga de 2017 do Cantareira, a operação por faixas estabelece que a cota de 158 bilhões de litros é fixa desde que o sistema não esteja na faixa de restrição, quando o nível fica abaixo dos 20%.

Até terça, o Cantareira operava com 41,1% do nível, o que garante a cota, mas está longe de ser uma situação confortável. Tanto que o percentual coloca o reservatório na faixa de atenção. Além disso, o Cantareira chega ao período seco com menos água do que no final de maio de 2021 – quando o nível era de 47,7%.

“Nós estamos operando em faixa de atenção, que mostra o quanto é fundamental promover o uso racional da água seja na indústria, que tem reduzido sua captação com investimento em tecnologia, na agricultura – que a gente tem regiões de muito agro – para troca de métodos de irrigação por gotejamento”, exemplifica o coordenador.

“Os municípios também devem fazer o combate a perdas. Esse é um desafio grande da bacia, de reduzir os índices de perda. Hoje a média é 35%, baixar pelo menos para 25% nos próximos 10 anos. E, claro, os cidadãos fazendo um uso racional seja no banho ou qualquer outro momento”, completa.

Segundo Vilella, é a soma desses esforços que permite a manutenção do abastecimento das 19 cidades mesmo com o volume atual. “Mas é sempre bom lembrar que tem outras 45 cidades que não dependem diretamente do Cantareira, e aí é um outro desafio. É preciso ter um olhar para as duas realidades”.

Chuvas

Apesar das fortes chuvas no final do janeiro, os outros quatro meses do ano registraram índices abaixo da média histórica, segundo Vilella. Em alguns meses, o volume ficou 40% ou 50% menor que o esperado, o que fez com que os reservatórios se recuperassem pouco.

Os comitês trabalham com a expectativa de que o cenário se repita no segundo semestre. “A previsão trimestral, junho, julho e agosto, em que pese que são meses de baixas precipitações historicamente, é de chuva abaixo da média, de manutenção dos patamares 40%, 50% abaixo [do esperado]”.

“Para o médio prazo a gente tem uma perspectiva de chuva abaixo da média. Portanto, esse é mais um desafio”, explica o coordenador.

Além da estimativa de chuva a longo prazo, a gestão da descarga de água também depende das previsões para os próximos dias. Isso porque a vazão dispensada para a região Campinas diminui em caso de chuva nas cabeceiras dos reservatórios, pois isso faz com que eles se recuperem.

O volume de chuva também liga um alerta para os próximos anos. Alexandre Vilella explica que, no período seco, 30% do nível do Cantareira é usado, em média, para abastecer a capital e as cidades da região de Campinas.

“A gente fica muito dependente das chuvas do próximo verão para ter o cenário de 2023. Por isso não dá para olhar só para este ano. A gestão desse ano traz e leva as consequência dos ônus e dos bônus de como a gente teve o desempenho deste ano para 2023.

Cidades que dependem do Cantareira

  • Americana
  • Atibaia
  • Bom Jesus dos Perdões
  • Bragança Paulista
  • Campinas
  • Hortolândia
  • Jaguariúna
  • Jundiaí
  • Itatiba
  • Limeira
  • Monte Mor
  • Morungaba
  • Nazaré Paulista
  • Paulínia
  • Pedreira
  • Piracaia
  • Piracicaba
  • Sumaré
  • Valinhos

Fonte: G1.globo.com