Mito ou verdade? Médica veterinária tira dúvidas frequentes sobre gatos

Além da curiosidade sobre a famosa lenda de que os gatos têm sete vidas, são muitas as dúvidas que as pessoas têm antes de adotar esses animais. Por isso, o G1 conversou com uma médica veterinária de Itu (SP), especializada em felinos, para esclarecer o que é verdade e o que é lenda sobre os bichanos.

Uma das dúvidas mais frequentes é se as gestantes podem ter contato com o animal. A médica veterinária Vanessa Zimbres explica que essa pergunta sempre surge, mas não há problemas.

Toxoplasmose

“É uma briga que temos com médicos. Fala-se muito da toxoplasmose, mas o gato não é tão vilão nesse caso. Para transmitir, ele tem que estar contaminado com o toxoplasma, ingerindo carne ou leite contaminados. Se for um gato que toda a vida comeu ração, ele não vai ter toxoplasmose”, explica.

“É muito mais fácil a gestante se contaminar da mesma forma que o gato se contamina: ingerindo água e alimentos contaminados. Do gato, não vai ter uma seta de contaminação direta. É uma questão bem polêmica, mas vemos muitos gatos sendo abandonados por causa disso”, diz.

Alergia

Já com relação à adoção dos bichinhos por pessoas com problemas respiratórios, Vanessa conta que o pelo do animal não causa reação alérgica e, sim, uma enzima produzida pela saliva dele.

“O problema é uma alergia individual. O que causa uma sensibilidade maior é uma enzima na saliva dos gatos para quem é sensível. Pelo gato se lamber, ela vai se acumulando nos pelos e a pessoa, quando pega o gato no colo, tem uma crise alérgica.”

Segundo veterinária, o pelo do gato não causa reação alérgica e, sim, uma enzima produzida pela saliva dele (Imagem Ilustrativa de Karin Laurila por Pixabay)

Para evitar reações alérgicas nesses casos, segundo a especialista, é recomendável dar um banho no gato ao menos uma vez por mês.

“Ele não precisa de banho, mas, se a pessoa tem alergia, é por conta da saliva. Se der banho uma vez por mês, não tem alergia, mas isso varia. É a única recomendação para banho em gato. O gato pelado também se lambe, então até ele pode estar dando alergia”, diz.

“O gato não faz com que ela desenvolva um problema respiratório. O cuidado que vai ter que ter com o gato é o mesmo com poeira doméstica ou pólen de plantas. Pode ter gato, sim.”

Gatos x lírios

Em relação às plantas, Vanessa afirma que os felinos não podem ter contato direto com os lírios, pois são tóxicos para o animal.

“Todas as plantas que a gente conhece que são tóxicas para humanos também são para gatos. Mas o lírio é extremamente tóxico. Ele não precisa comer o lírio, o simples fato de passar perto e inalar o pólen causa insuficiência renal aguda. Atendo gatinhos que chegam com o rim parando por intoxicação com lírios”, explica.

Já com os outros tipos de plantas também são necessários cuidados, pois os animais gostam de “mordiscá-las” para eliminar o vômito, as bolas de pelo ou como fonte de fibra na alimentação.

“Se não tem nenhuma plantinha em casa, normalmente coloco as plantinhas de gato para eles mordiscarem. Se não tem essa oferta, é perigoso eles comerem alguma planta tóxica”, afirma.

Adestramento

Além disso, muitas pessoas dizem que os gatos não podem ser adestrados e têm dúvidas em reação a isso. Mas, de acordo com a veterinária, não é bem assim.

“O homem não foi atrás da domesticação do gato. O gato que se aproximou do homem. Não mudamos quase nada do comportamento deles, mas eles podem ser adestrados desde que vejam alguma vantagem nisso, assim como qualquer espécie”, explica.

“A parte mais importante de sociabilização dos filhotes pode se estender até os quatro meses de idade, e vai expor o gatinho a vários desafios. Mas não vamos comparar o gato com um cão. O gato é predador, ele vai fazer tudo em troca de algo que o satisfaça.”

Já com relação ao uso da caixinha de areia, Vanessa conta que é instinto do animal e, por isso, não é necessário ensinar o gatinho a usá-la.

Além disso, a médica veterinária reforça que é totalmente contraindicado os animais terem livre acesso às ruas.

“A gente tem que oferecer o enriquecimento ambiental. Podemos ter gatos felizes, saudáveis e ativos morando dentro de casa, é só saber explorar o ensino caçador. Sobre não arranhar o sofá ou subir em cima da mesa, é possível ensinar. O reforço positivo é importante para qualquer espécie.”

“Geralmente, o gato te adota no estacionamento de um shopping, por exemplo. Os gatos adultos são muito mais carinhosos, demanda um tempo maior de adaptação, mas os gatinhos que viveram na rua não sabem o que é carinho e se tornam dóceis, companheiros”, diz.

Sete vidas

Mas e a lenda de que os gatos têm sete vidas? Claro que, com algumas das principais dúvidas, essa não poderia ficar de fora.

“Na lenda original, o gato tem nove vidas, mas aqui na nossa região falam que o gato tem sete vidas. Está relacionado ao número de sorte ou azar de cada região. Essa lenda surgiu na Idade Média por conta da Santa Inquisição”, explica a veterinária.

“Hoje em dia, falamos isso porque o corpo do gato é muito maleável. Os gatos conseguem se livrar de alguns traumas muito mais fácil que os cães. O gato sempre cai de pé, isso pela anatomia. De repente, um outro animal pode se machucar, e os gatos têm essas peripécias das quais se safam melhor”, afirma.

Ela também conta que os bichanos, quando se machucam ou ficam doentes, não costumam demonstrar sintomas.

“O pessoal acha que ele não fica doente, mas ele acaba melhorando sozinho ou sofre por anos com doença crônica. Falam que tem sete vidas porque, às vezes, a gente atende um gatinho que caiu do quarto andar e, anos depois, descobre que a queda rompeu algo do gato, um órgão interno”, explica.

“Gato não tem sete vidas e é lenda que é um animal de baixa manutenção. Ele exige uma boa ração, com nível alto de proteína animal”, conclui.

Fonte: G1.globo.com