Pesquisadores desenvolvem ferramenta para identificar dor em pets e animais de criação

Aplicativo criado por grupo da Unesp de Botucatu (SP) pode ser usado tanto em cães e gatos, como em animais como bois e porcos. Tecnologia reúne o conhecimento produzido por grupo na elaboração de escalas para avaliar o sofrimento em animais, permitindo maior autonomia aos tutores e melhorando a capacidade de análise dos profissionais.

Entender a comunicação do seu pet nem sempre é uma tarefa fácil. Pensando nisso, um grupo de pesquisadores da Unesp de Botucatu (SP) desenvolveu um aplicativo para identificar, avaliar e curar a dor sentida por animais, sejam eles domésticos ou de produção.

A ferramenta pode ajudar a decidir se é preciso levar o animal ao veterinário, fornecer informações sobre possíveis maus-tratos e auxiliar a identificar se animais utilizados em pesquisas estão com dor.

Grupo de pesquisadores da Unesp de Botucatu criaram aplicativo para avaliar dor em animais (Foto: Unesp Botucatu/ Divulgação)

Segundo Stelio Pacca Loureiro Luna, professor do Departamento de Cirurgia Veterinária e Reprodução Animal da Unesp e coordenador dos estudos, a ideia do projeto é popularizar o conhecimento da dor nas diferentes espécies.

“A dor é a principal causa de sofrimento animal. Não se pode tratá-la sem identificá-la, daí a importância de escalas validadas que ajudem numa avaliação precisa da dor. O aplicativo foi criado para popularizar junto ao público o nosso trabalho, no sentido de proporcionar ferramentas para avaliar a dor em animais e, como consequência, após a avaliação e detecção da dor, podermos tratá-la de forma adequada, minimizando assim o sofrimento dos animais”, conta.

O aplicativo, disponível online, de forma gratuita e em português, também pode auxiliar médicos veterinários em suas avaliações. Segundo o professor, ao utilizar a ferramenta, o usuário pode avaliar a condição geral do animal e decidir qual o melhor encaminhamento a ser feito.

“O tutor vai estar apto para avaliar seu animal, calcular a pontuação e decidir se existe a necessidade de tratamento com analgésico ou se o caso exige uma visita ao veterinário”, explica.

O professor explica que, enquanto para mensurar a dor em humanos existe a possibilidade de comprovar os níveis de dor através do auto relato, no caso do mundo animal, pesquisadores do mundo inteiro precisam investir muito tempo em observação comportamental.

Para expandir essa avaliação para espécies não humanas, as “escalas de dor” foram criadas, tendo surgido a primeira dessas tabelas em 2007, a de Glasgow, específica para cães.

Em 2013, o grupo de pesquisa da Unesp de Botucatu inaugurou, com a escala para gatos, a categoria intraobservador, baseada em avaliações de outros observadores. Hoje, essa escala, que leva o nome Unesp-Botucatu, é a mais citada na literatura internacional e a mais validada do ponto de vista estatístico.

Depois da escala de dor para os felinos domésticos, vieram a de bovinos e ovinos, que também levam o nome Unesp-Botucatu e integram o aplicativo.

“A primeira escala que desenvolvemos e validamos foi a de gatos em 2013. Esta foi a primeira escala de dor publicada no mundo para gatos e é a escala mais difundida e utilizada mundialmente. Apresenta versão em oito línguas diferentes”, conta o pesquisador da Unesp Botucatu.

“A seguir desenvolvemos e validamos as escalas de bovinos (2014), equinos (2015), ovinos (2020), suínos (2020), jumentos (2021) e coelhos (2022), bem como escalas de dor crônica em cães (2022). As escalas de bovinos, ovinos, suínos e jumentos são as escalas que apresentam maior nível de evidência na literatura mundial. A escala de suínos é utilizada como referência pelo Food and Drug Administration dos EUA, órgão equivalente à ANVISA”, explica Stelio.

Escalas de dor

Em geral, essas escalas são produzidas em projetos de doutorado e pós-doutorado, em que os pesquisadores filmam os animais de forma exaustiva – cerca de 700 horas de vídeos.

Na sequência, avaliam e descrevem minuciosamente o comportamento animal: em quadro normal versus em sofrimento. As condutas mais significativas para o quesito da dor em cada espécie são transformadas em vídeos curtos, de poucos segundos, e passam a integrar a escala.

O material descreve, por exemplo, a reação de um cachorro com dor e seu comportamento quando está agitado ou com medo. Depois de entender o que cada comportamento significa, o usuário é convidado a realizar alguns testes que sugerem o quanto ele estaria apto para avaliar o seu bicho. Somente em um terceiro momento o aplicativo aborda a mensuração da dor, com base em escalas específicas para cada espécie.

“O aplicativo e o site são fáceis de usar. Eles dispõem de vídeos que demonstram os comportamentos que compõem as escalas, para aprendizado prévio do usuário e melhoria da confiabilidade dos resultados, vídeos para treinamento, onde o usuário pode checar o seu aprendizado pelo gabarito antes de usar em seu animal, bem como pode servir para ensino”, explica Stelio Luna.

Segundo o professor, os anos de estudo permitiram entender as peculiaridades de cada espécie. Coelhos escondem a dor; cavalos mudam muito seu comportamento na presença de um observador, o que dificulta a análise; cachorros geralmente são escandalosos e dão mais sinais, enquanto gatos sofrem calados, expressando o desconforto de maneira sutil.

A expectativa do professor é oferecer a ferramenta em dez idiomas e proporcionar também avaliações com ajuda de inteligência artificial, expandindo o conhecimento sobre a dor em animais.

“Esperamos popularizar ao máximo junto ao público leigo e especializado a identificação da dor em animais para que estes sejam tratados com analgésicos e se garanta o bem-estar animal. É fundamental aproximar a ciência do público e tal ferramenta propiciará a popularização do nosso trabalho e o uso destas ferramentas no dia a dia daqueles que possuem animais”, complementa.

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Fonte: G1.globo.com