Confira 26 dicas para prevenção e tratamento da candidíase feminina

Veja 17 orientações de ginecologistas e 9 de nutricionista sobre cuidados com roupas, higiene e alimentação para o dia a dia e para a mulher que pratica atividades físicas.

Toda mulher pelo menos já ouviu falar em candidíase genital. Essa doença afeta 75% da população feminina, segundo dados da Associação de Obstetrícia e Ginecologia do Estado de São Paulo (Sogesp), e tem como principais sintomas coceira, corrimento e vermelhidão na região de de vulva e vagina – homens também podem ter nos genitais. Candida albicans é um fungo que, em níveis normais, não chega a ser problemático para o corpo. O problema é quando ele começa a se proliferar e atinge níveis acima do usual. Conversamos com duas médicas ginecologistas e uma nutricionista para explicar as causas e sintomas e dar dicas de como mulheres podem se proteger da candidíase, inclusive mulheres atletas, que possuem certas particularidades.

(Imagem Ilustrativa: Tumisu por Pixabay)

No esporte de forma geral, roupas que ventilem pouco na região íntima podem ser um fator agravante da candidíase, por exemplo, devido aumento da temperatura e da transpiração. Afinal, a troca das roupas de treino ou dos maiôs, em caso de atividades aquáticas, deve ocorrer assim que o treinamento acabar, para evitar que a área permaneça úmida em função do suor ou da água da piscina ou do mar. A umidade propicia um ambiente ideal para a proliferação de fungos como a Candida albicans.

A nutricionista Michelle Ferreira lembra ainda que mulheres atletas devem consumir maior quantidade de carboidratos como fonte de energia para os treinos. Mas devem tomar cuidado com a qualidade desses carboidratos, evitando farinhas refinadas, açúcar e alimentos industrializados, pois o fungo se alimenta de açúcares. A especialista reforça ainda a necessidade de priorizar os tubérculos, frutas e legumes. Além, é claro, de um acompanhamento nutricional para orientar a alimentação de acordo com horário e duração do treino, principalmente para quem tem candidíase de repetição. Além disso, se for um período pós-competição ou de treinos muito intensos, a imunidade pode baixar, propiciando a infecção fungicida.

“Vale lembrar que o excesso de treino pode levar a maior permeabilidade intestinal e diminuir a imunidade da atleta. A modulação intestinal também é importante para evitar que isso aconteça. Sempre oriento minhas atletas a trocar a roupa intima após os treinos. O fungo da candidíase cresce em ambientes úmidos e quentes, o que torna a região íntima propícia para o crescimento desse fungo”, completa.

Causas ou fatores de risco

Alguns fatores que podem levar ao crescimento excessivo de Candida são:

  • Uso frequente de antibióticos;
  • Comer açúcar e carboidratos refinados em exagero;
  • Alta ingestão de álcool;
  • Sistema imunológico enfraquecido;
  • Uso prolongado de contraceptivos orais, já que pílulas anticoncepcionais podem levar a um estado hipertrófico da vagina, o que significa que sua mucosa fica mais fina, também favorecendo a infecção fúngica;
  • A atrofia da menopausa, que também leva a um estado hipertrófico;
  • Diabetes e hiperinsulimia;
  • Altos níveis de estresse;
  • Umidade excessiva na região genital, o que pode ser agravado pelo suor, que propicia a proliferação de fungos, e até por não secar a área adequadamente após o banho;
  • Disbiose, quando há uma alteração na flora bacteriana natural da região, o que pode ser causado inclusive por lavagem excessiva da área;
  • Uso de calças muito apertadas, que não deixam a área “respirar”.

Sintomas

  • Vermelhidão
  • Inchaço
  • Coceira
  • Corrimento – uma secreção espessa e branca
  • Relações sexuais dolorosas

“Os homens também podem ter infecções genitais, mas é muito menos comum. Embora também seja muito menos comum, a Candida também pode causar uma infecção do trato urinário. Nesse caso, os sintomas incluem uma sensação de queimação ao urinar, uma vontade frequente de urinar, urina turva, escura ou com cheiro estranho e dor ou pressão na parte inferior do abdômen. No entanto, se você sofre de infecções recorrentes e acredita que são resultado do crescimento excessivo de Candida , você pode fazer um teste de urina para descobrir”, recomenda a ginecologista e obstetra Camila Ramos.

Além da infecção vaginal, o fungo conhecido como Candida pode causar ainda outros problemas de saúde, entre eles:

  • Sapinho (na boca)
  • Cansaço e fadiga
  • Problemas digestivos
  • Infecções sinusais
  • Infecções fúngicas da pele e das unhas
  • Dor nas articulações

17 dicas das ginecologistas

  1. Troque o maiô molhado imediatamente. Vestir um maiô molhado por muitas horas pode manter sua área genital quente e úmida;
  2. Após a atividade física, também troque imediatamente a roupa úmida de suor;
  3. Prefira roupas de materiais mais leves, como algodão. Roupas leves possuem uma ventilação melhor para que não abafe a região íntima e, com isso, evitam a alteração do PH vaginal – alteração esta que torna a área propicia para a candidíase;
  4. Boa alimentação e se hidratar são sempre importantes para manter a imunidade fortalecida. Pessoas que se alimentam mal acabam tendo um baixo consumo de vitaminas e minerais, o que altera a imunidade e abre caminho para infecções fúngicas;
  5. Adote uma dieta balanceada, mas com menos açúcar e bebidas açucaradas, pois dieta rica em açúcar propicia a candidíase;
  6. Não use protetor de calcinha diariamente;
  7. Use calcinha de algodão (de algodão que ventila mais por ser permeável, não abafando a região íntima), principalmente quando realizar exercícios;
  8. Não utilize calcinhas para dormir ou opte por calcinhas confortáveis que não apertem e machuquem a região íntima;
  9. Mantenha sua área vaginal limpa. Use água e sabonete de PH neutro sem cheiro. Enxágue bem;
  10. Mas não esfregue muito a vulva, a parte externa do aparelho genital feminino, ao lavá-la. Muito menos a vagina;
  11. Seque bem a região após o banho, antes de se vestir;
  12. Depois de usar o banheiro, limpe sempre de frente para trás para evitar espalhar leveduras ou bactérias de seu ânus para a vagina ou trato urinário;
  13. Não use duchas vaginais, que espalham os microrganismo. Prefira, sempre que possível, lavar-se no banho;
  14. Use roupas íntimas que ajudem a manter a área genital seca e não retenham o calor e a umidade. Uma boa opção é a roupa íntima de algodão;
  15. Evite roupas justas, como meia-calça e jeans justos. Isso pode aumentar o calor corporal e a umidade na área genital;
  16. Troque os absorventes ou tampões com frequência.
  17. Não use desodorantes ou sprays, nem perfumes, na região genital. Esses itens podem alterar o equilíbrio normal dos organismos em sua vagina.

Sobre a orientação de não exagerar na hora de lavar a região, a ginecologista Maria Rosa Martins explica:

“Deve-se lavar a vulva com sabonete de PH neutro, e não é necessário ficar esfregando muito, pois isso sensibiliza a pele, causa manchas, edemas e pode alterar o PH vaginal, deixando a mucosa sem defesas. Você perde a proteção da vulva e da vagina, o que facilita a proliferação de fungos como o da candidíase”, ensina a médica.

9 dicas da nutricionista

A melhor maneira de tratar a candidíase e prevenir infecções recorrentes é abordar a causa subjacente. Os alimentos que você ingere desempenham um papel importante na manutenção do equilíbrio entre bactérias “boas” e “más” no seu corpo, o que também vai interferir na imunidade e, consequentemente, na facilidade ou não para proliferação de fungos.

“Em caso de uma candidíase de repetição, primeiramente é necessário verificar se existe algum fator que está propiciando isso. O uso de probióticos é recomendado para tratamento de candidíase de repetição. O probiótico é uma bactéria do bem que vai competir com a Candida e não vai deixar que ela se prolifere muito causando a candidíase”, explica Camila.

A nutricionista Michelle Ferreira dá nove orientações para prevenção e tratamento:

  1. Consuma usualmente alimentos com propriedades antifúngicas, como alho, orégano, óleo de coco extra virgem, óleo de peixe (Ômega 3) e gengibre;
  2. Também são recomendados, na dieta, alimentos com efeitos prebióticos, como farelo de aveia, biomassa de banana-verde e batata-yacon;
  3. Kefir e Kombucha, como fontes de probióticos, também podem ser favoráveis;
  4. Reduza o consumo de açúcar: as células de levedura de candida precisam de açúcar para construir suas paredes celulares, expandir suas colônias. Dieta rica em açúcar e hiperglicemia promovem elevação da Resposta T-helper 2 (sistema imune), promovendo maior proliferação do fungo;
  5. Consuma probióticos (algumas cepas são mais indicadas que outras, consulte o ginecologista ou nutricionista);
  6. Avalie o status de vitamina D. Mesmo que os níveis séricos estejam adequados, a suplementação oral pode auxiliar no reparo da mucosa intestinal e redução da permeabilidade intestinal. Outros nutrientes são importantes para esse processo como glutamina, zinco, peptídeos do colágeno;
  7. Consuma alimentos ricos em nutrientes importantes para o sistema imunológico como zinco, vitamina C e complexo B;
  8. Evite o consumo excessivo de farinhas refinadas, sorvetes, alimentos ultraprocessados, embutidos, álcool e carne vermelha;
  9. O óleo de peixe tem atividade antifúngica comprovada, havendo também benefícios através da ingestão de peixes como truta, salmão, sardinhas, atum e bacalhau por pelo menos três vezes por semana. O óleo de prímula, de borragem, a groselha preta e de linhaça são ótimas fontes de ômega 3.

A nutricionista explica que altos níveis de produção de hormônios femininos, especialmente a progesterona, aumentam a disponibilidade de glicogênio no ambiente vaginal, o qual serve como excelente fonte de carbono para o crescimento e a germinação das leveduras (5 dias anteriores a menstruação).

A hiperglicemia também pode induzir a produção de uma proteína de superfície (CD11B) em C. albicans que promove sua aderência ao epitélio vaginal e prejudica o reconhecimento fagocitário. Outros fatores que favorecem o crescimento da microbiota é a disbiose, comumente encontrada em pessoas com prisão de ventre recorrente ou Síndrome do Intestino Irritável. Por fim, qualquer alteração dos níveis de glicose, especialmente em situações de hiperglicemia, e qualquer estado em que se produz elevação do glicogênio vaginal podem desencadear uma crise.

“Isso porque as células de leveduras da cândida precisam de açúcar para construir suas paredes celulares e expandir suas colônias. A alimentação e suplementação são essenciais para regular o pH intestinal e vaginal, reduzir permeabilidade intestinal, reduzir bactérias gram-negativas, aumentar gram-positivas, evitar a proliferação do fungo, aderência do patógeno e formação do biofilme. Assim, tratar o intestino por meio de uma alimentação favorável à microbiota é um excelente passo para evitar a candidíase”, explica a nutricionista.

Fontes:

Camila Ramos é médica ginecologista e obstetra graduada em medicina pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro, com formação complementar pela Universidade de Porto (Portugal) na área da “Saúde da Mãe e da Criança: Ginecologia e Obstetrícia”. Atua na área de congelamento de óvulos, climatério e em reprodução humana na Clínica Vida e Gerar Vida desde 2017. Além disso, é diretora médica da Clínica Médica da Barra de 2018 até hoje.

Maria Rosa Santos Martins é médica ginecologista e obstetra especializada em histeroscopia, laser e estética íntima. É sócia da clínica Histerolab, que realiza histeroscopias, procedimento para diagnóstico e tratamento de patologias da cavidade uterina, como miomas, pólipos e malformações e aderências de útero.

Michelle Ferreira é nutricionista da Nutrindo Ideais, formada pela UGF 2006, pós graduada em nutrição funcional e esportiva, especializada em saúde da mulher e fertilidade. (@michelleferreiranutri)

Fonte: EuAtleta