Covid-19: Sociedade de Infectologistas critica medidas de reabertura em SP

Estado teve aumento de 10% no número de mortes por Covid-19 na última semana epidemiológica.

A Sociedade Paulista de Infectologia publicou, na terça-feira (17), uma nota criticando as medidas de reabertura em meio à pandemia de Covid-19 promovidas no estado de São Paulo. Além da associação, especialistas independentes também se posicionaram contra o fim das restrições, entre eles antigos assessores do governo estadual.

O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), declarou, nesta quarta-feira (18), que as flexibilizações estão ocorrendo “no tempo certo”.

Restrições de público e horário chegam ao fim em SP, mas uso de máscara continua obrigatório (Imagem Ilustrativa: Gerd Altmann por Pixabay)

Questionado sobre as críticas, Doria disse que respeita opiniões divergentes, mas defendeu que as medidas adotadas no estado não devem estar, necessariamente, em acordo com a dos especialistas da SPI.

“Não necessariamente uma opinião tem que ser absolutamente igual à que o estado de SP adota para avançar com suas boas práticas do programa de flexibilização, de forma segura e de forma gradual. Estamos fazendo exatamente isso, e estamos no tempo certo”, declarou Doria.

Desde a última terça-feira (17), todas as restrições de horário e capacidade máxima para estabelecimentos comerciais foram encerradas no estado. Mas, de acordo com dados da própria Secretaria de Saúde apresentados em coletiva de imprensa nesta quarta (18), houve aumento de 10% nas mortes na última semana epidemiológica em relação à semana anterior. Foram registradas 1.851 novas mortes no estado de 8 a 14 de agosto, contra 1.681 no período de 1 a 7 de agosto.

A média móvel diária de mortes por Covid-19 é de 258 nesta quarta-feira, valor 6% maior do que o verificado há 14 dias, o que para especialistas indica tendência de estabilidade na pandemia. Há nove dias seguidos o estado mantém tendência de estabilidade de mortes, interrompendo a sequência de queda das semanas anteriores.

Reabertura apesar da delta

Em nota publicada na noite de terça, os infectologistas da SPI declararam “extrema preocupação com as recentes medidas de flexibilização de atividades comerciais não essenciais e de entretenimento” em São Paulo.

A principal questão levantada pelos médicos é o avanço das flexibilizações mesmo em meio a chegada da variante delta. “Entendemos que a abertura deveria ser mais gradual e lenta, face aos riscos representados pela variante delta do coronavírus”, disseram os especialistas, em nota.

Questionado em coletiva de imprensa nesta quarta (18) sobre o avanço da delta, o médico João Gabbardo, que assessora o governador João Doria, disse que a variante não altera o panorama no estado de São Paulo.

Ele defendeu que o aumento de casos provocados pela variante delta verificado em outros países ocorreu pela falta de máscaras.

“Como nos outros países aconteceu isso, eles estão imaginando que, em setembro, teremos o incremento de casos e de casos graves aqui em São Paulo. Mas nós entendemos que não necessariamente, porque São Paulo não cometeu os mesmos erros que alguns países cometeram anteriormente, de terem dispensado o uso das máscaras e de terem permitido aglomerações em determinadas circunstâncias”, declarou Gabbardo.

“O aparecimento de uma nova variante não muda as medidas de prevenção. As medidas que podemos tomar para evitar a transmissibilidade da doença continuam exatamente as mesmas: a redução nas aglomerações, o uso das máscaras”, completou.

Crítica de infectologistas

No documento publicado na terça-feira, os médicos da Sociedade Paulista de Infectologia disseram ainda que a imunização da população adulta com a primeira dose “se mostra insuficiente para proteção contra a variante delta” e que “países com altas taxas vacinais, como Israel e os Estados Unidos, têm passado por aumento de casos e de mortes” por conta do avanço desta variante.

A delta já corresponde a pelo menos 4% dos casos confirmados de Covid-19 no estado, percentual que sobe para 25% na Grande São Paulo, segundo boletim do governo de São Paulo do dia 1º de agosto.

A proporção de casos é calculada por meio da análise genética de cerca de 600 amostras por semana, que são enviadas para uma rede de laboratórios parceiros do governo estadual. Esses laboratórios identificam qual foi a variante responsável pelo caso confirmado na amostra.

Laboratórios veem aumento da delta

Em entrevista ao G1, o presidente de um dos laboratórios parceiros do Instituto Butantan no sequenciamento do coronavírus no estado declarou que tem ocorrido um aumento na proporção de casos causados pela delta no estado nas últimas semanas.

“Está muito claro que já estamos em uma onda da delta. Com certeza essa variante será maioria das amostras aqui em São Paulo também. É inevitável, é uma questão de tempo”, disse o médico geneticista David Schlesinger, CEO do meuDNA.

Para Schlesinger, os dados preliminares de casos positivos provocados pela variante delta mostram que as vacinas “reduzem drasticamente a mortalidade, mesmo da delta”, mas que a variante “infecta um número mais expressivo de pessoas”.

Fim de comitê de especialistas

A crítica da Sociedade Paulista de Infectologia ocorreu um dia após o anúncio da dissolução de um comitê de especialistas, o chamado Centro de Contingência para o Coronavírus, criado em março de 2020 para auxiliar as decisões políticas e sanitárias durante a pandemia de Covid-19.

O centro tinha 21 membros, entre cientistas e médicos. Na última sexta-feira (13), uma reunião consolidou a redução do grupo para apenas 9 membros, que ficarão apoiando o governador, João Doria (PSDB).

Encerramento de restrições

As restrições de horários e capacidade de estabelecimento comerciais chegaram ao fim no estado de São Paulo nesta terça-feira (17), após quase um ano e cinco meses desde que a quarentena para combater o coronavírus foi decretada. O uso de máscaras, no entanto, permanece obrigatório em todo o estado até, pelo menos, o final deste ano.

Desde terça, comércios e serviços de todos os setores econômicos não tem mais limite de horário e nem de capacidade de ocupação de público. Também serão liberados eventos sociais, culturais e feiras corporativas com controle de público. Há apenas a recomendação para que aglomerações sejam evitadas.

Continuam proibidos, por ora, apenas shows com público em pé, pistas de dança e torcida em estádios de futebol. Estes eventos devem ser autorizados em 1º de novembro.

Fonte: G1.globo.com