Síndrome do esgotamento profissional cresce entre a população

Pesquisas estimam que 32% da população economicamente ativa sofriam de esgotamento profissional em 2019: na pandemia, 44% dos brasileiros tiveram sintomas do problema.

Você anda procrastinando tarefas profissionais e se sente irritado, desatento e desmotivado no trabalho? Você não está sozinho. Uma pesquisa da International Stress Management Association (Isma-BR) estimou que 32% da população economicamente ativa sofriam de sintomas de síndrome de burnout, conhecida também como a síndrome do esgotamento profissional, em 2019. Outro levantamento estima que 44% dos brasileiros disseram que o período de convívio com a Covid-19 amplificou a sensação de esgotamento profissional, o que corresponde a 39,6 milhões de trabalhadores afetados. O Brasil ocupa a primeira colocação, à frente de Singapura (37%), Estados Unidos (31%) e Índia (29%). E a prática de exercícios físicos pode ter um papel fundamental na prevenção e no tratamento.

(Imagem Ilustativa: Image by Lukas Bieri por Pixabay)

A síndrome de burnout foi recentemente reconhecida e classificada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como doença ocupacional. Diante dos dados alarmantes e da crescente preocupação com a doença, o Eu Atleta conversou com uma psicóloga e um psiquiatra para explicar os benefícios do exercício físico na prevenção e na reabilitação de indivíduos com sintomas.

“A síndrome de Burnout é um distúrbio psíquico caracterizado por esgotamento profissional em decorrência do funcionário permanecer por períodos significativos e com frequência sob tensão emocional e estresse no ambiente de trabalho e ou por consequência do seu ofício. Por ser uma síndrome, a pessoa que está enfrentando este problema pode apresentar um conjunto de sintomas que comprometem seu funcionamento físico, psíquico, profissional e social”, explica a psicóloga Leila Navarro, professora da Universidade Unigranrio.

Entre os principais sintomas estão:

  • Cansaço físico e mental;
  • Transtornos como depressão e ansiedade;
  • Desmotivação no trabalho;
  • Procrastinação;
  • Pessimismo;
  • Alterações de humor;
  • Falta de atenção nas tarefas, comprometendo a qualidade na prestação dos serviços;
  • Irritabilidade;
  • Falta de tolerância gerando os conflitos entre os pares e com clientes;
  • Rotatividade (mudanças constantes de emprego);
  • Absenteísmo e atrasos no trabalho;
  • Insônia;
  • Dor de cabeça;
  • Dores musculares;
  • Distúrbios gastrointestinais;
  • Frequência cardíaca alterada.

De acordo com a psicóloga, o aumento de demanda de trabalho, competitividade, consumismo, pressão social para ser reconhecido como uma pessoa de sucesso, excesso de meios de comunicação mantendo o profissional atento às demandas do trabalho para além da carga horária contratual, individualismo, dificuldade em estabelecer vínculos de confiança no trabalho, e a crise econômica estão entre as diversas causas que podem ser agravantes da síndrome.

“A síndrome é desenvolvida em um processo que compreende estar submetido aos eventos citados, no entanto, seus sintomas podem se intensificar em quaisquer situações de mudança organizacional, mudança de liderança ou reestruturações, demissões, alteração de cargo ou função, mudança de sistemas de comunicação, horário de trabalho, assédio moral, comunicação desrespeitosa entre líder e funcionário ou entre pares, os sintomas também podem ser ativados pelo alto nível de violência urbana e problemas na mobilidade que implicam com o acesso ao local de trabalho”, completa Navarro.

O psiquiatra Edir Corrêa reforça a importância de diferenciar a síndrome de outras doenças, como a depressão. A primeira, de acordo com o médico, tem a ver com causa e efeito. E por isso, deve ser avaliada pelo contexto em que o indivíduo se encontra. De acordo com o psiquiatra, o ideal é a pessoa entender o contexto que está vivenciando e se possível fazer escolhas melhores, não se manter numa situação destrutiva.

“Mas sabemos que, infelizmente, algumas vezes nós não temos a possibilidade de fazer essa escolha. Devemos, então, repensar a vida, repensar o nosso projeto de felicidade, para que ele possa incluir outros projetos que não seja apenas aquele que está levando a essa situação de esgotamento. Além disso, psicoterapia constante. E não com raridade, a gente entra com alguma medicação para reverter o quadro”, explica o médico.

Atividade física x Burnout

O exercício físico deve fazer parte do tratamento contra a síndrome de burnout, com benefícios reconhecidos como:

  • Socialização fora do ambiente de trabalho;
  • Estímulo à produção de hormônios neurotransmissores relacionados ao bem-estar, como endorfina, dopamina e serotonina;
  • Redução de estresse;
  • Melhora do sono;
  • Auxílio na regularização do ritmo cardíaco em repouso.

Os efeitos do burnout no corpo são os mais diversos possíveis: além da fadiga crônica, existem tremores, dor de barriga e tonturas. Na parte psiquiátrica, de sintomas característicos, Edir lembra que o que um dos sintomas mais comuns é uma alteração de humor deprimido, falta de prazer, sensação de desvalia e de que as coisas não fazem mais sentido. E é por esse e outros motivos que a atividade física tem um papel primordial tanto na prevenção quanto no tratamento da doença.

“A função da atividade física não é apenas terapêutica, no sentido de reverter, mas de prevenir. Quando fazemos exercício, acontecem muitas coisas no nosso corpo, ficamos menos inflamados. Nos sentimos imediatamente melhores com a liberação de endorfinas, auxiliando o tratamento que as vezes demora duas ou três semanas para fazer efeito. Não é uma coisa secundaria, é uma coisa primordial”, reforça o psiquiatra.

Exercício, não custa lembrar, é remédio para corpo e mente. De acordo com Leila Navarro, a atividade física é essencial para o funcionamento saudável de nosso organismo como um todo. Além de oxigenar melhor as células aumentando o fluxo sanguíneo no cérebro, fortalecer os músculos, melhorar a condição cardiorrespiratória e ativar a produção de hormônios que são responsáveis pela disposição, prazer e motivação.

“Além disso, a atividade física também possibilita outros vínculos sociais, apontando para a existência de outros ambientes (além do de trabalho), assuntos diversos, renovando assim, as esperanças e capacidade de planejar o futuro. A atividade física melhora o funcionamento cerebral, com isso são ativadas as glândulas que produzem os hormônios endorfina e serotonina responsáveis pela sensação de prazer e bem-estar, e consequentemente o estresse passa a ser mais bem combatido. O cérebro é um órgão com grande capacidade de estabelecer novas conexões. Estas novas conexões promovem a articulação entre conhecimentos e informações. Quanto mais conexões são realizadas mais a mente fica preparada para desenvolver estratégias ou mobilizar recursos mentais já existentes que auxiliarão a lidar com situações adversas”, completa.

Mas e quando o esporte é a profissão? Para o atleta de alto rendimento, a situação muda um pouco. Nesse caso, o burnout pode estar relacionado à própria prática da atividade física, com a pressão por resultados e a sobrecarga de treinos, viagens e competições. Assim como para pessoas de outras profissões, é importante procurar ajuda profissional e investir em boa alimentação, sono e em momentos de descanso – mas, dessa vez, longe do seu esporte de origem.

Fontes:
Leila Navarro de Santana é psicóloga da Universidade Unigranrio e mestre em Memória.
Edir Corrêa de Araujo Filho possui Formação em psiquiatra pela Universidade de Santo Amaro (UNISA); Formação em psicogeriatria pela universidade de São Paulo (USP); Especialista Membro da associação brasileira de psiquiatria ABP; Membro do corpo clínico da G2 Health.

Fonte: EuAtleta