Efeitos do calor excessivo no corpo: o que acontece?

Qual a temperatura máxima que o corpo humano aguenta? Dá para treinar a 40 ºC ou 50°C? Especialistas alertam do risco de desequilíbrio térmico, causando arritmia e até ataque cardíaco.

Você sabe o máximo de calor que o corpo humano aguenta? Testes recentes apontam que dá para suportar até 127 °C por até 20 minutos, o que já tinha sido citado pelo livro ”A Vida no Limite – A Ciência da Sobrevivência”, da fisiologista britânica Frances Ashcroft. E até você já deve ter chegado perto disso: numa sauna seca, por exemplo, o termômetro bate os 90 °C, o que aumenta o risco de hipertermia (quando o corpo fica com uma temperatura mais elevada do que normal) e a disfunção pelo calor. Mas o que acontece no corpo quando ele fica muito tempo exposto a altas temperaturas, acima dos 40 ºC?

(Imagem Ilustrativa de Nathan Dumlao por Unsplash)

Termorregulação

Para começo de conversa, temperaturas em torno de 40 °C com alta umidade relativa do ar já um geram desconforto intenso e podem inviabilizar a prática de exercícios físicos em alta intensidade para a maioria das pessoas, uma vez que a umidade do ambiente reduz a perda de calor e aumenta a temperatura corporal. O mecanismo de termorregulação, especialmente através do suor, do corpo passa a não funcionar como deveria.

“O corpo em altas temperaturas fica suscetível à desidratação e à desnaturação das proteínas do organismo. Existe um mecanismo que o corpo tem para manter tudo funcionando, que se chama homeostase, porém há um limite. Para que haja o equilíbrio, o corpo tenta manter sua temperatura por volta de 36 ºC a 37°C, eliminando água pelos poros, o famoso suor. Acima de 40 ºC a 42°C acontece a desnaturação de proteína, alterando o equilíbrio corporal”, explica a médica clínica Nicolle Farias de Queiroz, especialista em cardiologia do esporte.

Sistema circulatório

Segundo o médico e cirurgião vascular e endovascular Rodrigo Gibin Jaldin, especialista em Ciência do Treinamento de Força e de Fisiologia Clínica do Exercício, os humanos são seres homeotérmicos ou endotérmicos, uma vez que conseguimos manter a temperatura corporal interna constante, independentemente das variações da temperatura do meio externo. Desta maneira, a perda de calor provocada por tais mecanismos compensa o ganho de calor.

Por outro lado, ele pontua que a exposição a extremos de temperatura ambiente pode comprometer os mecanismos fisiológicos de controle da temperatura corporal, assim como a umidade relativa do ar, gerando um desequilíbrio térmico. Jaldin explica que a contração muscular e os mecanismos de controle de redistribuição de fluxo vascular do sistema circulatório são fundamentais para manter o equilíbrio da temperatura corporal, seja de forma voluntária, por intermédio de exercícios físicos, seja de forma involuntária, por meio de tremores, do suor e de trocas com ambiente através de radiação.

“Sendo assim, o sistema circulatório é preponderante nos processos relacionados ao controle térmico por comandar a perda de líquido através do suor por fluxo sanguíneo para a pele, controlar os processos de hidratação/desidratação e garantir o retorno de fluxo sanguíneo para o coração nos mecanismos de manutenção da pressão arterial e do fluxo ejetado pelo coração para nutrição dos tecidos. Isso tudo além de garantir a perfusão na musculatura em atividade e o metabolismo muscular, e a perfusão cerebral, controlando o pensamento e a ativação voluntária dos nervos periféricos que agem na contração muscular”, esclarece Rodrigo Jaldin.

“Seja no repouso, seja principalmente durante o esforço físico, o bom funcionamento do sistema circulatório é de suma importância para a manutenção da temperatura corporal”, completa.

Dá para fazer exercícios no calor extremo?

Mas será que dá para fazer exercícios a 40 ºC ou 50°C? A resposta é sim, mas o ideal é evitar atividades físicas neste extremo de temperatura. E nem precisa chegar a tanto, já vale a partir dos 30 ºC. É fundamental que atletas que treinam em altas temperaturas mantenham-se hidratados e com roupas leves.

“Temperatura acima de 30°C já é sinal de alerta máximo, pois durante a atividade física já há uma elevação natural da temperatura. Também existe uma elevação de pressão arterial e nos batimentos cardíacos, aumentando assim o trabalho do músculo miocárdio. Além da desidratação e a insolação, precisamos lembrar que esse aumento do trabalho do coração quando potencializado por temperatura muito alta pode levar a um ataque cardíaco. Quando há perda da capacidade de regulação de temperatura, quando não se consegue mais suar o suficiente para resfriar o corpo, após uma exposição excessiva de sol, a pessoa fica com a pele extremamente quente”, alerta Nicolle Queiroz.

Há ainda outros perigos, como os baixos níveis de potássio no sangue, que podem levar a uma arritmia cardíaca. Portanto, em dias muito quentes, a prática de exercícios deve ser, no mínimo, cautelosa.

O que fazer?

De acordo com o especialista em Ciência do Treinamento de Força e de Fisiologia Clínica do Exercício, a indicação é:

  • Beber entre 400 a 800 ml de líquidos em torno de três horas antes do exercício;
  • Consumir 150 a 300ml de líquidos a cada 15 a 20 minutos de exercício;
  • Assegurar a reidratação pós-esforço, bebendo em torno de 150% da perda de peso corporal, considerando-se que a perda de 1kg de peso corporal corresponde à necessidade de 1,5 litros de água reposto.

“Para minimizar a intensidade e a duração do exercício em dias quentes e úmidos, deve-se expor ao máximo a área de superfície da pele para a evaporação; dar intervalos frequentes para o repouso e resfriamento com a remoção de equipamentos e carga carregada – preferencialmente – na sombra e permitir a circulação de ar frio, além de medir o peso corporal no início e na final da sessão de treinamento para estimar a quantidade necessária de líquidos para a reposição”, ensina Rodrigo Jaldin.

Outros cuidados importantes para proteger o corpo quando exposto a temperaturas muito altas são evitar o sol a pino, treinando antes das 10h e depois das 16h, passar protetor solar e alimentar-se de maneira leve e saudável.

Bom treino e cuidado com as altas temperaturas!

Fontes:
Rodrigo Gibin Jaldin (@dr.rodrigogibin) é médico cirurgião vascular e endovascular, especialista em Ciência do Treinamento de Força e de Fisiologia Clínica do Exercício. Membro da diretoria gestão 2023/2024 da Sociedade Paulista de Medicina Desportiva (SPAMDE) e da Comissão de Aneurismas da Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular – Regional São Paulo (SBACV-SP – @sbacvsp).
Nicolle Farias de Queiroz (@dranicolle) é médica clínica e especialista em cardiologia do esporte, coordenadora do pronto-socorro do Hospital Público do Ipiranga e diretora da clínica Dra Nicolle Queiroz, em Vila Olímpia, São Paulo.

Fonte: EuAtleta