Exercícios podem ser grandes aliados na prevenção e no combate à depressão

Segundo estudos, atividades físicas têm efeitos terapêuticos no tratamento da doença, em evidência na campanha do Setembro Amarelo, mês de conscientização em relação ao suicídio.

A depressão afeta mais de 320 milhões de pessoas no mundo, o equivalente a 4,4% da população, segundo relatório divulgado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em 2018. Ainda conforme a instituição, o Brasil é responsável pela maior taxa da doença na América Latina: 5,8% dos habitantes sofrem com o problema. Este ano, o movimento Setembro Amarelo, que tem como objetivo a conscientização para a prevenção do suicídio, lançou a campanha “Na Direção da Vida – Depressão sem Tabu”, que elegeu o girassol como seu símbolo. A flor, afinal, está sempre procurando a luz do sol, mesmo em dias difíceis, quando as nuvens cobrem o céu.

Nem todo mundo que tem depressão tenta tirar a própria vida, longe disso. Mas a doença, que cresceu 18,4% de 2005 a 2015, de acordo com a OMS, aparece como uma das causas principais. Por isso, especialistas e indivíduos que sofrem com o mal têm procurado opções para combatê-lo. É nesse contexto que os exercícios físicos aparecem como alternativa na luta contra a depressão.

Exercícios podem ser grandes aliados na prevenção e no combate à depressão (Imagem Ilustrativa de Pete Linforth por Pixabay)

Um estudo publicado no periódico científico Journal of Affective Disorders analisou o comportamento de pacientes internados com depressão grave, e os que fizeram exercícios mostraram melhora de sintomas. O psiquiatra e professor Marcelo Fleck, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, um dos responsáveis pela pesquisa, explicou como os hospitalizados reagiram às atividades.

“Dividimos os pacientes em dois grupos: um grupo fez exercícios e o outro não. Os que fizeram tiveram melhora nos sintomas e na qualidade de vida e redução no tempo de internação”, conta.

Além de ser aliada no combate à doença, a atividade física pode ajudar a população a preveni-la. Segundo levantamento realizado por pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) com base em outras 49 análises, o exercício físico acelera a regeneração de neurônios e, por isso, auxilia na prevenção à depressão.

“O exercício físico tem um efeito terapêutico, por isso pode ser colocado como mais uma estratégia contra a depressão. Existem várias evidências que os exercícios interferem com os marcadores biológicos que acontecem no cérebro”, diz Fleck.

Alguns sintomas da depressão

Importante dizer que cada pessoa que sofre com depressão apresenta uma gama de sintomas, mas não necessariamente todos eles.

  • Tristeza profunda
  • Distúrbios alimentares: falta ou excesso de apetite
  • Perda ou ganho excessivo e repentino de peso
  • Distúrbios do sono: insônia ou dormir demais
  • Falta de ânimo
  • Pessimismo
  • Baixa autoestima
  • Sentimento de culpa
  • Irritabilidade
  • Desenvolvimento de manias
  • Dores e outros sintomas físicos sem motivo aparente
  • Dificuldade de concentração
  • Insegurança
  • Sensação de medo ou desespero
  • Fadiga
  • Choro excessivo constante
  • Ideia de suicídio

O papel dos exercícios

A atividade física é uma excelente opção em casos mais leves e entra como um auxílio luxuoso no tratamento dos casos graves. Promove bem-estar, socialização e faz com que a pessoa estabeleça metas particulares. Mais importante: ela atua tanto nas causas quanto nos sintomas, dando ao paciente um motivo para levantar da cama ao mesmo tempo em que faz o organismo liberar dois hormônios que auxiliam no tratamento da depressão ao atuar no humor:

  • Endorfina, que promove sensação de bem-estar, euforia e alívio das dores; e
  • Dopamina, que tem efeito analgésico e tranquilizante.

Afinal, alterações químicas no cérebro são causas prevalentes, principalmente com relação aos neurotransmissores (serotonina, noradrenalina e dopamina), substâncias que transmitem impulsos nervosos entre as células. A depressão tem um forte componente genético e fatores sociais, como uma violência, o luto ou o estresse, são gatilhos importantes para o seu surgimento.

Causas: fatores genéticos; alterações químicas no cérebro, principalmente com relação aos neurotransmissores (serotonina, noradrenalina e dopamina), substâncias que transmitem impulsos nervosos entre as células
Gatilhos: estresse; luto; violência; situações traumáticas; dependência química; álcool; solidão; doenças; parto (caso da depressão pós-parto).

Um estudo publicado em 2017 no American Journal of Psychiatry concluiu que 12% dos casos de depressão podem ser evitados se o paciente fizer ao menos uma hora semanal de exercícios físicos. Levada à frente pelo Black Dog Institute, instituição australiana sem fins lucrativos para diagnóstico, tratamento e prevenção de transtornos do humor, a pesquisa acompanhou 33,908 noruegueses por 11 anos, monitorando a relação entre sua rotina de exercícios e seus sintomas de depressão e ansiedade.

Existe um exercício ideal na luta contra a depressão?

Não existe uma atividade física que seja mais adequada no combate à doença, de acordo com o psiquiatra Marcelo Fleck. Segundo ele, por muito tempo pensou-se que os aeróbicos fossem mais indicados para pessoas depressivas, mas essa ideia acabou sendo refutada.

“No início, as pessoas pensavam que os aeróbicos, que envolvem natação e fôlego, fossem melhores para o combate à depressão, mas estudos têm mostrado que qualquer tipo de exercício, como, por exemplo, a musculação, tem sua eficiência”, afirma.

A atividade física é suficiente?

Embora os exercícios físicos apareçam como uma alternativa viável, é preciso procurar sempre ajuda médica. O acompanhamento por um profissional é essencial. Ao analisar caso a caso, o psiquiatra pode avaliar a necessidade de receitar remédios antidepressivos.

“Nos casos mais graves, é difícil que a pessoa consiga fazer atividade física. Existem muitos casos de pessoas que não conseguem falar ou sair da casa. Com esse nível de sintomas, conseguir fazer exercício é mais complicado”, pontua Marcelo.

É necessária então uma abordagem múltipla, com:

  • Psicoterapia, que trata as causas.
  • Uso de remédios, que trata os sintomas.

Só então, com uma melhoria do quadro, os exercícios podem entrar como terapia adjuvante.

Fonte: Globoesporte.globo.com (leia a matéria completa)