Exercícios têm impacto no tratamento e na prevenção do câncer de mama

Outubro Rosa: estudo brasileiro aponta que praticar atividade física regularmente pode prevenir aproximadamente 12% dos casos da doença. Especialistas explicam mecanismos biológicos envolvidos e dão dicas para as mulheres se manterem ativas.

Exercícios físicos regulares antes e depois da quimioterapia aumentam as chances de sobrevivência de mulheres com câncer de mama, segundo estudo publicado este ano. A conclusão reforça resultados de trabalhos de pesquisa anteriores e se une a outros que atestam o papel da atividade física na prevenção da doença. Tanto que o Fundo Global de Pesquisa em Câncer reconhece o efeito da atividade física na redução de risco de três tipos de câncer: de mama, colorretal e de endométrio, enquanto o Colégio Americano de Medicina do Esporte inclui ainda os de bexiga, esôfago, estômago e rins. Ou seja, o impacto da atividade física na redução do câncer de mama é uma unanimidade. E isso é muito importante quando se fala do segundo tipo que mais mata no Brasil, com 13 mortes para 100 mil habitantes (o primeiro é o de próstata, com 13,6 para 100 mil). Esses números atestam a relevância do Outubro Rosa, campanha anual marcada por uma mobilização em prol da disseminação de dados preventivos em relação ao câncer de mama, destacando a importância do diagnóstico precoce e da prevenção. E quando se fala em prevenção, além de se manter fisicamente ativo, o estilo de vida como um todo tem grande influência na incidência da doença.

Exercícios têm impacto no tratamento e na prevenção do câncer de mama (Imagem Ilustrativa de StockSnap por Pixabay)

Segundo a médica mastologista Flávia Simas, existem duas maneiras do câncer de mama se manifestar:

  • De forma assintomática, em que a lesão é descoberta por meio dos exames de rastreio, sendo assim, não possui alteração ao exame físico;
  • De forma sintomática, na qual a própria paciente pode perceber ou ser descoberta na consulta médica com o especialista.

“Quando o câncer se manifesta de forma sintomática, temos algumas maneiras de apresentação, entre elas: nódulo palpável, alteração na axila, palpação de uma área mais espessada, alteração da pele como edema, vermelhidão, endurecimento e feridas, inversão ou descamação do mamilo ou ainda coceira no mesmo e descarga papilar com características suspeitas. A prevenção primária dessa doença é feita com adaptações da própria mulher em sua vida, que irão resultar na diminuição dos riscos de desenvolver câncer de mama. Então, manter os hábitos saudáveis são medidas básicas com grande impacto nessa redução, já comprovado por diversos estudos. Ganho de peso na menopausa, obesidade, sedentarismo e ingestão de álcool são exemplos de fatores de risco (modificáveis) para o câncer de mama”, aponta a médica.

Flávia ainda indica que a influência do estilo de vida não saudável pode ser explicado por duas teorias:

  • Paciente com maior índice de massa corpórea (IMC) vai ter maior conversão periférica (no tecido adiposo) da androstenediona em estrona; logo, possui mais hormônio estrogênio circulante, o que favorece o surgimento de neoplasias;
  • Esse corpo é considerado um ambiente alterado, com uma inflamação, o que favorece a atuação de agentes mitogênicos (que favorecem a reprodução celular) e antiapoptóticos (que impedem a morte celular programada).

Exercício físico regular como prevenção

De acordo com estudo brasileiro publicado em 2019, fatores de risco modificáveis no estilo de vida foram responsáveis ​​por 27% dos casos de câncer e um terço das mortes por câncer no Brasil. Em relação ao câncer de mama, estudo publicado em 2018 estimou que aproximadamente 12% dos casos dessa doença são atribuíveis à falta de atividade física no país, e se as pessoas fizessem pelo menos 150 minutos de atividade física por semana, aproximadamente 2% dos casos de câncer de mama seriam prevenidos por ano. De acordo com o epidemiologista Leandro Rezende, um dos autores da pesquisa, essas estimativas servem para mostrar, em um primeiro momento, o potencial dos vários fatores de risco relacionados ao estilo de vida e, em um segundo momento, da atividade física em específico para redução do risco de câncer de mama.

Essa ação preventiva relacionada à atividade física pode ser explicada por mecanismo biológicos do exercício. Afinal, quando o corpo está em constante movimento, apresenta redução dos níveis dos hormônios sexuais e da produção de estrogênios e andrógenos, além de aumentar a quantidade de globulina carreadora de hormônios sexuais, reduzindo, assim, a ação desses hormônios nos tecidos alvos, como os da mama. De acordo com Flávia Simas, isso interfere no risco de desenvolver câncer de mama hormônio-dependente, que corresponde ao câncer de mama mais comum, representando cerca de 70% dos casos. Além disso, a atividade física contribui para uma diminuição significativa nos níveis de insulina, interferindo no fator de crescimento insulin-like, que está associado ao aumento do risco da incidência da doença.

“A atividade física poderia melhorar a função metabólica, aumentando a sensibilidade à insulina, diminuindo a glicose sanguínea, reduzindo hormônios relacionados à função metabólica e diminuindo a inflamação sistêmica (em meio a um ambiente inflamado, as células de câncer conseguem se reproduzir de uma maneira mais eficiente). Além disso, a atividade física tem a capacidade de regular a produção e a biodisponibilidade de hormônios sexuais e femininos, os quais estão relacionados à incidência da doença, reduzindo, assim o risco de câncer de mama”, explica Leandro Rezende.

Dicas para se manter ativa

A estimativa do Instituto Nacional do Câncer (INCA) para o ano de 2020 é de 66.280 mil novos casos de câncer de mama. E assim como existem fatores que podem ser prevenidos, existem os fatores não modificáveis, como ser do sexo feminino, a idade, menarca e história familiar. Diante disso, as mulheres precisam adotar medidas preventivas no dia a dia para diminuir esse risco de desenvolver a doença. Mas, antes de sugerir opções para as mulheres se manterem fisicamente ativas, o epidemiologista Leandro Rezende ressalta que há diversas condições que podem influenciar a prática de exercício físico, como onde se vive, ciclo social, ambiente urbano, nível socioeconômico, acesso a equipamentos de saúde e oportunidades de prática de atividade físico.

“Levando isso em conta, uma primeira dica é pensar nesses fatores e lutar por direitos de uma cidade e de uma condição de vida melhor. Dessa forma, dentro do seu dia a dia, com um ambiente mais favorável, será mais fácil seguir um estilo de vida saudável e ativo. Vale destacar que não há um tipo específico de atividade física que está associado a uma maior redução no risco de câncer, o mais importante é abandonar o sedentarismo. Para isso, a mulher pode procurar se deslocar mais ativamente e ter momentos de atividades de lazer. Boas soluções podem envolver a troca de algumas atividades sedentárias do dia a dia por outras mais ativas, como substituir o elevador pelas escadas e se deslocar a pé ou de bicicleta quando as distâncias permitirem. Então, minha dica geral é: percebam dentro da sua rotina quais as melhores oportunidades de se manter mais ativos. Se puderem fazer uma atividade mais estruturada, com aconselhamento de um profissional de saúde e de educação física, melhor ainda; mas se não puderem, que o façam em parques e com um deslocamento ativo”, recomenda o profissional.

Além disso, a atividade física não deve ser considerada como uma obrigação. Ela precisa ser prazerosa para que seja realizada com regularidade e para que a pessoa tenha comprometimento com o exercício.

Pensando nisso e nas mulheres na pré-menopausa, a mastologista Flávia Simas aponta que estudos indicam que deve-se optar por exercícios com intensidade vigorosa, como:

  • Corrida;
  • Natação;
  • Ciclismo.

Já como opções para as mulheres na pós-menopausa, a médica indica:

  • Caminhada: seja na esteira ou ao ar livre, quando praticada por cerca de sete horas semanais, possui efeito protetor;
  • Prática de exercício anaeróbio: esse tipo de atividade vai contribuir como um todo para a saúde da mulher, principalmente para as que se apresentam na pós-menopausa. Um exemplo de exercício é a musculação;
  • Atividades aquáticas: exercícios como natação e hidroginástica costumam ser boas opções, principalmente no Brasil, onde as temperaturas elevadas são predominantes durante o ano. Além disso, na grande maioria, são atividades realizadas em grupos, o que o pode tornar a prática mais agradável, além de garantir bons níveis do hormônio vitamina D.

Por fim, uma das dicas mais importantes é que a pessoa procure sempre orientação de um profissional de saúde para saber quais atividades físicas estão liberadas e qual é a mais recomendada para o seu caso.

Fonte: Globoesporte.globo.com