O que fazer quando uso de máscaras não é mais obrigatório em academias

Especialistas apontam quem não deve aderir à flexibilização e que cuidados devem permanecer ao treinar em lugares fechados e abertos.

Em algumas cidades do país, não há mais a obrigação de uso de máscaras nem mesmo em ambientes fechados, como academias. Em outras, acredita-se que isso também acontecerá em breve. Mas será que esse é o momento de pararmos de utilizar máscara na hora de malhar? Os especialistas apontam que a flexibilização de seu uso não deveria ser uma discussão para agora no Brasil. Para entender melhor o que fazer nessa fase da pandemia e orientar as pessoas que se exercitam em locais fechados, o Eu Atleta conversou com a infectologista Raquel Stucchi e com o médico cardiologista e do esporte Mateus Freitas Teixeira, que apontam que academias são, geralmente, locais especialmente facilitadores de contágio.

(Imagem Ilustrativa: Walter Röllin por Pixabay)

“A academia em si é um local que respiramos normalmente com mais vigor, então a gente elimina mais vírus. Normalmente elas são fechadas com ar condicionado, portanto, sem ventilação natural. Então, a chance de você ter nuvens ali do SARS-CoV-2 é maior e, por isso, o risco de transmissão é muito aumentado”, aponta a infectologista.

O uso de máscara em academias de ginástica, portanto, deveria ser mantido. Mateus Freitas também concorda que, apesar da flexibilidade e de a vida estar voltando ao normal, se o ambiente de exercício for pequeno e sem ventilação, é fundamental o uso de máscara por ora.

Orientações para se exercitar em ambientes fechados

De acordo com os especialistas, o ideal é que se mantenha os mesmos cuidados como se fosse ainda necessário o uso de máscaras. É importante lembrar que já começou o outono e, em seguida, chega o inverno, que são estações do ano em que aumenta a ocorrência dos quadros respiratórios de uma maneira geral, não só de Covid. E a máscara é um item muito importante durante esse período, pois impede a transmissão dos agentes causadores dos quadros respiratórios no geral. Raquel Stucchi destaca que esse é mais um motivo para mantermos o uso das máscaras em academias.

  • Usar máscara durante o exercício em ambientes fechados;
  • Manter as mãos higienizadas;
  • Evitar colocar a mão na boca e nos olhos;
  • Não se exercitar com sintomas gripais;
  • Continuar tendo a higiene com os aparelhos;
  • Falar o mínimo possível.

“O vírus irá permanecer ainda por algum tempo e não é raro que possa haver outras ondas de infecção. Os profissionais de saúde que trabalham em unidades de terapia intensiva (UTIs) utilizam uma forma simples e muito eficiente para evitar contaminação cruzada e, via de consequência, não se infectar: lavar adequadamente e regularmente as mãos. Portanto, se conseguirmos manter o máximo de higiene nas mãos, conseguiremos nos proteger de uma série de infecções. Por isso, o hábito de lavar sempre as mãos com álcool ou mesmo água e sabão é muito importante. Evidentemente, não precisamos criar neuras ou manias, mas caso as mãos não estejam limpas, é importante não as levar levar aos olhos e boca. Com essa atitude simples, já será possível proteger a si e aos demais”, recomenda Matheus.

Para exercícios realizados ao ar livre, tudo bem dispensar o uso da máscara?

Sim. De acordo com os especialistas, nesses espaços, com os índices comunitários de infecção sendo baixos, é muito difícil que a pessoa se contamine, não sendo necessário, assim, o uso de máscara. Claro, deve-se sempre ter atenção as recomendações sanitárias. Mas, no atual cenário, é possível fazer exercícios sem máscara ao ar livro sem maiores problemas. No entanto, caso a atividade ao ar livre gere aglomeração, na qual não seja possível manter o distanciamento de 1,5 metro, é recomendável o uso de máscara. De qualquer modo, é recomendável que a pessoa sempre tenha uma máscara consigo. Afinal, caso decida passar em algum local, como padaria e farmácia, depois da prática física, é importante utilizar o item de proteção.

Quem precisa de mais cuidados nesse momento de flexibilização?

Esta é uma questão que gera grande incerteza, já que tivemos, há bem pouco tempo, um grande surto de casos da variante ômicron. Porém, as autoridades sanitárias e seus respectivos gabinetes científicos monitoram de perto o número de infecções, internações e mortes, que, inegavelmente, vem apresentando estabilização e queda. A partir dessas análises, algumas cidades flexibilizaram as medidas de controle. De acordo boletim de 11 de março do Observatório da Covid-19 da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), a medida é precipitada.

“Sempre haverá bons argumentos para os dois lados, creio que a melhor medida, por ora, seria manter o uso de máscara em lugares fechados, como vem sendo aplicado na Europa, tendo em vista que o contato mais próximo é que perpetua viroses, seja ela qual for”, aponta o médico Mateus Freitas.

Neste momento de flexibilização já decidida do uso de máscaras, os especialistas apontam que alguns grupos devem ter ainda mais cuidados com a manutenção do uso de máscaras, especialmente:

As pessoas que não estão vacinadas ou que não completaram o esquema vacinal;

  • As pessoas com mais de 60 anos (mesmo aquelas que já fizeram a terceira dose da vacina devem manter o uso de máscara, porque sabemos que eles já precisariam da quarta dose);
  • As pessoas imunocomprometidas;
  • As pessoas que estão fazendo quimioterapia;
  • As pessoas com comorbidades (diabetes, hipertensão, obesidade, etc);
  • As pessoas que convivem com pessoas do grupo de risco também devem manter o uso de máscara, principalmente nos ambientes fechados.

“Todos esses grupos citados devem manter o uso de máscara ao ar livre, quando houver aglomeração e nos ambientes fechados, mesmo que já haja autorização para não usarem. Afinal, essas populações têm o maior risco de ter doença grave pelo SARS-CoV-2”, aponta a infectologista Raquel Stucchi.

Estou vacinado com as duas doses e o reforço: ainda assim, que riscos eu corro se for malhar sem máscara?

O risco de ter doença grave principalmente se a pessoa tiver menos de 60 anos é muito pequeno. Porém, é sabido que, com a variante ômicron, existe o risco de adoecermos de uma forma leve.

“O fato de estar com esquema vacinal completo não tira a possibilidade de contrair a doença ou transmiti-la. A vacina é uma proteção que fará nosso corpo possuir anticorpos suficientes para que não fiquemos com a forma grave da doença e, consequentemente, que o desfecho de morte não seja atingido. É importante frisar que o esquema vacinal deva estar completo, ou seja, com três doses, sempre. À medida que os dados científicos mais atuais são robustos no sentido da proteção que as vacinas exercem, criar notícias falsas a respeito da imunização é intolerável. Assim sendo, recomendo que em lugares fechados e com pouca ventilação as pessoas mantenham o uso de máscaras por ora”, conscientiza Mateus Freitas.

Panorama do Brasil

Mateus Freitas aponta que, como vivemos no mundo dos dados e das análises que produzimos por meio desses dados, as estatísticas podem responder a maioria das perguntas que fazemos. Assim, o número absoluto de vacinados no Brasil é alto. Porém, quanto aos que estão com esquema vacinal realmente completo com três doses, nota-se que há uma grande desigualdade entre regiões brasileiras. Logo, é possível que outras variantes surjam e, por isso, medidas de restrição voltem a ser empregadas.

“O ideal seria que todos usassem os dados de forma eficiente e sem vieses, assim seria possível olharmos para os problemas de forma realista. Junto a isso, há pesquisas contínuas que são capazes, quando bem feitas, de ajudar a alertar e prevenir problemas da Covid e de suas variantes. Agora, entramos em uma fase de grande flexibilização, todos estão contentes e assim devemos permanecer. No entanto, não podemos esquecer do que passamos”, alerta Mateus Freitas.

Raquel Stucchi ressalta que que a grande preocupação no Brasil não deveria ser o uso de máscara:

“Temos outras prioridades, como fomentar a vacinação das crianças e que as pessoas completem o esquema vacinal. Temos que disponibilizar a quarta dose para todos os idosos o mais rápido possível e temos que ter disponível, como programa de saúde pública, as medicações já aprovadas pela Anvisa que impedem a evolução grave da Covid-19 em idosos e nos imunocomprometidos, que sabemos que são populações que respondem mal à vacina. Então, essas questões são urgentes neste momento, e não a liberação do uso de máscara”, frisa a infectologista.

Fontes:
Mateus Freitas Teixeira é médico cardiologista do Clube de Regatas Vasco da Gama, mestre pela Universidade Nova de Lisboa, diretor da Sociedade de Medicina do Exercício e Esporte do Rio de Janeiro e membro do comitê de Medicina Desportiva da Associação Médica Fluminense.
Raquel Stucchi é médica infectologista da Unicamp e Membro da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI).

Fonte: EuAtleta