Déficit de chuvas no Cantareira nos últimos 12 meses é de 31%

Número é igual ao de 2013, ano pré-crise hídrica.

Faltando poucos dias para o final do ano, o déficit de chuvas no Sistema Cantareira nos últimos doze meses foi de 31%, número igual ao de 2013. O reservatório chegou a 25% de seu armazenamento neste domingo (26), menor volume dos últimos seis anos.

A falta de chuvas preocupa especialistas, que temem falta de água nas residências no ano que vem.

(Foto: Divulgação/ Sabesp)

A comparação com 2013 é importante porque foi o ano anterior à crise de abastecimento que atingiu a região metropolitana de São Paulo em 2014 e 2015. Outros sistemas produtores também foram afetados.

A análise é do especialista em recursos hídricos e professor do programa de pós-graduação em Ciência Ambiental do Instituto de Energia e Ambiente (IEE) da Universidade de São Paulo (USP), Pedro Luiz Côrtes.

“Ao longo de 2021, todos os indicadores mostram uma piora da situação dos mananciais. Comparativamente a 2013, na antessala da crise hídrica anterior, nossa situação é pior. Para o verão, os prognósticos climáticos – que, vale ressaltar fortemente, têm se confirmado ao longo do ano – indicam que teremos chuvas abaixo da média. Não haverá, portanto, uma recarga suficiente para enfrentar 2022 e os problemas de abastecimento ficarão ainda mais intensos.”

Em nota, a Sabesp afirmou que não há risco de desabastecimento na região metropolitana de São Paulo neste momento, mas reforça a necessidade de uso consciente da água (leia a nota completa abaixo).

Para Côrtes, o momento é de respostas e ações mais efetivas por parte da companhia.

“A Sabesp precisa, efetivamente, mostrar suas projeções para 2022. A população não pode entrar no próximo ano simplesmente confiando em declarações do tipo ‘não há motivo para preocupação’ como ela vem fazendo. A população precisa conhecer, com números, como a Sabesp enxerga 2022. Cabe perguntar: por que as previsões da Sabesp nunca são apresentadas ao público?”

Chuvas

As chuvas na capital paulista ficaram 10% abaixo do média na primavera, de acordo com o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). A estação terminou na última terça-feira (21).

O total de precipitação em toda a capital paulista na primavera foi de 394,4 mm, valor abaixo da média, que é de aproximadamente 440 mm. Houve 38 dias com registro de precipitação mensurável, ao longo dos últimos 90 dias, de acordo com o Inmet.

No Sistema Cantareira, porém, choveu mais em outubro deste ano o que no mesmo mês do ano passado. Mesmo assim, não foi o suficiente para recarregar o manancial, de acordo com Côrtes.

“O nível do Cantareira está baixo faz tempo. Isso faz com que a chuva que cai acabe sendo mais utilizada para, aos poucos, encharcar o solo e não refletindo na subida do volume”, afirmou.

Até esse domingo (26), choveu apenas 89,3mm no Sistema Cantareira. A média histórica é de 226mm para o período. Em 2013, a chuva chegou a 56,5% até 26 de dezembro daquele ano. O déficit ao longo do ano é parecido com o de 2013, 31%.

Temos um volume menor de água armazenada este ano, porém. Enquanto neste domingo (26) temos 738,84mm, em 2013 tínhamos 765,08mm.

Em 2016, o Cantareira teve um índice confortável. Já em 2015, o sistema chegou à véspera de Natal operando com volume negativo, com menos 1,8%.

“Não só está diminuindo a quantidade de chuvas que caía no período chuvoso, ou seja, é mais incerto se vai cair a mesma quantidade de chuvas, como ela está caindo de forma mais concentrada e muito mais forte, ou seja, está chovendo em alguns dias e não chovendo durante vários dias”, afirmou ao SP2 Marussia Whately, especialista em recursos hídricos.

Para a especialista, é necessário criar ações de políticas públicas que devem envolver o estado, os municípios e começar a construir planos de emergência e contingência pensando não só nas represas, mas em medidas de melhor distribuição de água e ações para orientar a população de como lidar com a situação.

Temperaturas na primavera

A estação Meteorológica do Mirante de Santana registrou uma primavera com média de temperaturas mínimas de 16,7 °C, valor ligeiramente acima da média histórica, que é de 16,5 °C, mas bem abaixo da primavera do ano passado, que foi de 17,5 °C, de acordo com o Inmet.

A menor temperatura do período na capital foi de 12 °C, registrada em 20 de outubro. A média das temperaturas máximas ficou em 26°C, também ligeiramente acima da climatologia de referência de 26,2 °C, mas consideravelmente menor que os 28,3 °C de média registrados ano passado.

Por sua vez, a maior temperatura foi de 33,7 °C, ocorrida à tarde do dia 12 de dezembro. Os dados são do Inmet.

Curiosamente, a média de temperatura máxima da primavera, 26°C ficou abaixo da média máxima do inverno, 34°C.

O fenômeno pode ser explicado por bloqueios atmosféricos, uma mudança no padrão de ventos e de pressão, de acordo com Adilson Nazário, Técnico em Meteorologia do Centro de Gerenciamento de Emergências (CGE), da Prefeitura da capital.

“O fato do inverno ter registrado temperatura máxima maior que na primavera pode ser justificado pelos bloqueios atmosféricos que mantiveram as temperaturas elevadas por vários dias, principalmente no final da estação.”

Abaixo seguem alguns dados da primavera de 2020 na capital paulista, de acordo com o Inmet:

  • Total de precipitação pluviométrica: 394,4 mm;
  • Maior chuva em 24h: 51,2 mm em 19 de novembro;
  • Maior temperatura: 33,7 °C em 12 de dezembro
  • Menor temperatura: 12,0 °C em 20 de outubro;
  • Maior rajada de vento: 15,9 m/s (57 km/h) em 3 de outubro

Pelos dados do BDQueimadas, do INPE, os focos de incêndio no estado na primavera ficaram dentro do padrão dos últimos anos (cerca de 460 até dia 16/12)

O que diz a Sabesp:

A Sabesp informa que não há risco de desabastecimento na Região Metropolitana de São Paulo neste momento, mas reforça a necessidade de uso consciente da água. A RMSP é abastecida pelo Sistema Integrado, composto por sete mananciais, que permite transferências rotineiras de água entre regiões, conforme a necessidade operacional.

Um conjunto de medidas vem sendo adotado para a segurança hídrica e preservação dos mananciais em momentos como o atual: integração do sistema (com transferências de água rotineiras entre regiões), ampliação da infraestrutura e gestão da pressão noturna para maior redução de perdas na rede.

Ao longo dos anos, a Sabesp vem atuando em três frentes, visando à segurança hídrica:

– Ampliação da infraestrutura, com destaque para a interligação Jaguari-Atibainha (que traz água da bacia do Rio Paraíba do Sul para o Cantareira) e o novo sistema produtor São Lourenço, ambos entregues em 2018. A capacidade de transferência de água tratada entre os diversos sistemas de abastecimento foi quadruplicada em relação ao período anterior à crise hídrica de 2014/15, passando de 3 mil litros/segundo em 2013 para 12 mil l/s em 2021. Ao mesmo tempo, a capacidade de reservação de água tratada saltou de 1,7 bilhão de litros em 2013 para 2,2 bilhões de litros em 2021.

Estão ainda em andamento obras como a interligação do rio Itapanhaú, que inicia operação no primeiro semestre de 2022.

– Redução de perdas na distribuição, que se refletiu na queda do índice de perdas totais em sua área atendida de 41% em 2004 para 27% em 2020, abaixo da média nacional: 39,2% (SNIS; 2019).

– Consumo consciente, por meio de campanhas permanentes, como as recentes “Partiu verão eôôô – Abriu, Usou, Fechou”, “Toks para Economizar Água – Abriu, Usou, Fechou” e o hotsite #eucuidodaágua.

Fonte: G1.globo.com