Primeiro semestre termina com 68% de chuva esperada no Sistema Cantareira

Reservatório tem volume menor do que na pré-crise hídrica.

O primeiro semestre de 2021 terminou nesta quarta-feira (30) com 68% do volume de chuvas esperado no Sistema Cantareira. A tendência segue sendo de seca nos próximos meses, o que aponta para uma crise de abastecimento em 2022, de acordo com especialista.

Somados, os reservatórios Cantareira e Alto Tietê fornecem água para 12,5 milhões de pessoas na região metropolitana de São Paulo, de acordo com a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp).

Sistema Cantareira (Foto: Divulgação/ Sabesp)

O baixo volume de chuvas nos reservatórios já era esperado no outono, tradicionalmente mais seco, mas os dois reservatórios vêm acumulando baixo volume de chuvas desde o verão, quando costuma chover mais.

Nesta quarta-feira (30), o Cantareira operava com 45% de sua capacidade e o Alto Tietê, com 54,40%. O volume total armazenado na região metropolitana de São Paulo é de apenas 52,2%.Os dados são da Sabesp.

Esses números são preocupantes porque estão mais baixos do que 30 de junho de 2013, o ano anterior à crise hídrica, quando Cantareira operava com 56,3% e o Alto Tietê, com 62,7%. A situação atual de armazenamento dos mananciais, portanto, é pior do que a anterior à crise e aponta para a possibilidade de uma nova crise no ano que vem.

A falta de água já impacta no bolso dos paulistas. Nesta terça-feira (29), a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) aprovou o reajuste das tarifas da conta de luz da Enel São Paulo, que passam a valer a partir de 4 de julho em todo o estado.

Na segunda-feira (28), o ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, admitiu que o Brasil está em crise hídrica e pediu uso consciente de água e energia.

No último mês, um comitê de órgãos do governo federal emitiu pela primeira vez na história um alerta de emergência hídrica em cinco estados que compõe a bacia do Rio Paraná, inclusive São Paulo, por causa do que vem sendo chamado de a pior seca em 91 anos.

Em nota, a Sabesp negou o risco de abastecimento neste momento, mas não respondeu sobre o risco em 2022. A Companhia informou que a queda no nível das represas é normal nesta época do ano devido ao período de estiagem e ao volume baixo de chuvas, e a projeção aponta níveis satisfatórios para passar pela estiagem, até setembro.

Previsão é de mais seca

De acordo com o professor Côrtes, a situação é ainda mais preocupante porque o prognóstico climático aponta que os próximos meses continuarão mais secos. A previsão é de que inclusive o verão terá volume menor de chuvas, o que vai dificultar a recarga dos mananciais.

O prognóstico do pesquisador é baseado no National Oceanic and Atmospheric Administration (NOAA), o serviço meteorológico americano, que divulga previsões consolidadas feitos a partir de diversos modelos ao redor do mundo.

O relatório divulgado recentemente indica o início de um La Niña em outubro deste ano, mas que poderá ter curta duração (apenas na primavera).

Segundo essa previsão, no verão deveremos retornar à fase neutra, ou seja, sem El Niño e sem La Niña. Essa situação de suposta neutralidade é ruim para a recarga dos reservatórios, pois há uma associação entre a fase neutra e fortes episódios de escassez hídricas, de acordo com Côrtes. A crise hídrica de 2014, inclusive aconteceu sob fase neutra.

“Atualmente temos uma situação de neutralidade, sem o El Niño ou La Niña. A previsão, entretanto, é de que o La Niña volte no segundo semestre, mas será um evento curto e retornaremos à situação de neutralidade. As previsões anteriores indicavam um La Niña mais longo.”

“A situação de neutralidade, embora possa sugerir um regime normal de chuvas, é muito ruim para os mananciais que abastecem a região metropolitana de São Paulo. Diversos períodos de forte escassez hídrica em São Paulo ocorreram sob essa condição de neutralidade”, afirma.

O La Niña é um fenômeno que, ao contrário do El Niño, diminui a temperatura da superfície das águas do Oceano Pacífico tropical central e oriental. Mas, assim como o El Niño, gera uma série de mudanças significativas nos padrões de precipitação e temperatura no planeta.

O que acontece é que o La Niña muda o padrão de ventos na região equatorial, que se tornam mais ou menos intensos, e isso muda a chegada das frentes frias da região sul em direção a São Paulo.

Assim, o fenômeno reduz as chuvas na porção Sul do Brasil, e isso pode ter repercussão em São Paulo dependendo de sua intensidade. Ao mesmo tempo, o La Niña leva mais chuva ao Norte e ao Nordeste. Em 2021, especificamente, isso já vem ocorrendo com intensidade maior no Norte.

Fonte: G1.globo.com