Sabesp capta 17,3 bilhões de litros de água do Rio Paraíba do Sul, mas nível do Cantareira cai

Volume armazenado no manancial que abastece a Grande São Paulo caiu de 28% para 26,7% entre os dias 30 de outubro e 22 de novembro; queda reflete chuvas abaixo da média histórica em novembro.

A Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) transferiu 17,3 bilhões de litros de água do Rio Paraíba do Sul para o Cantareira entre os dias 30 de outubro, quando retomou essa estratégia de captação, e esta segunda-feira (22). Mesmo assim, o nível do manancial responsável por abastecer diariamente mais de 7 milhões na Grande São Paulo caiu 1,3% de sua capacidade no período. É o que aponta um levantamento exclusivo da GloboNews feito com base em dados da Sabesp.

A queda no volume armazenado no Cantareira decorre também da queda no índice de chuvas que caíram nas seis represas que compõem o sistema. Entre os dias 1º e 22 de novembro, choveu no manancial 72 milímetros, menos da metade (48%) dos 149 milímetros de média histórica contabilizada para o período.

(Foto: Divulgação/ Sabesp)

Um levantamento anterior feito pela reportagem, com base em dados sobre a transferência de água do Paraíba do Sul para o Cantareira entre 30 de outubro e 8 de novembro, mostrava uma estabilidade no volume de água armazenado no manancial. Até aquela data 7,5 bilhões de litros tinham sido captados no Paraíba do Sul.

Ou seja, a estratégia de transferência de água entre os dois diferentes sistemas, que até então tinha “segurado” o nível do Cantareira, não conseguiu surtir o mesmo efeito passadas mais de três semanas desde que a captação no Paraíba do Sul foi retomada.

O Cantareira opera em estado de restrição, patamar preocupante, o que, na avaliação de especialistas, deveria fazer a Sabesp adotar medidas não implementadas até agora para evitar uma crise hídrica no ano que vem, como dar descontos proporcionais à redução do consumo de água pela população.

Em 15 de outubro, a Sabesp foi autorizada a retomar a transferência de água do Paraíba do Sul para o Cantareira. O volume permitido é de 40 bilhões de litros até dezembro, menor do que o solicitado pela estatal (60 bilhões de litros).

Na prática, porém, a Sabesp iniciou essa transferência de água entre os sistemas em 30 de outubro. A companhia pode captar ainda 32,5 bilhões de litros de água até o fim deste ano.

De acordo com a Sabesp, “a retomada é importante para dar mais segurança hídrica para as regiões metropolitanas de São Paulo e de Campinas (Bacia do PCJ – Piracicaba, Capivari e Jundiaí), devido às baixas precipitações registradas neste ano, além de ter sido autorizada pelos órgãos reguladores”.

Ainda segundo a estatal, “um conjunto de medidas vem sendo adotado para a segurança hídrica e preservação dos mananciais em momentos como o atual: integração do sistema (com transferências de água rotineiras entre regiões), ampliação da infraestrutura, gestão da pressão noturna para maior redução de perdas na rede e campanhas para o consumo consciente. Medidas adicionais às que já são realizadas serão adotadas se necessário, levando em consideração as projeções da Sabesp e o trabalho de acompanhamento da situação”.

Análise

Na avaliação do professor do Instituto de Energia e Ambiente (IEE) da USP Pedro Luiz Côrtes, a situação tanto do Cantareira quanto do sistema integrado que abastece a região metropolitana de São Paulo, formada por outros seis mananciais, é “muito preocupante”.

“O Cantareira vem apresentando níveis muito baixos que só foram verificados em março de 2016, na saída da crise hídrica, e o sistema como um todo armazena 10% menos água do que o mesmo período em 2013, que foi o ano que antecedeu a crise hídrica”, afirmou.

Ainda segundo o professor, “o prognóstico climático é muito ruim porque ele aponta para um final de primavera e um verão com chuvas abaixo da média, situação essa que deve persistir inclusive até a metade do ano que vem, porque estamos sob efeito do fenômeno La Niña, que dura até o início do período de estiagem, e, entrando na estiagem, nós temos naturalmente uma redução do volume de chuvas. Então não teremos chuvas suficientes para abastecer os mananciais”.

Côrtes afirma que a Sabesp precisa adotar “um discurso unificado”, que dê à população a real dimensão da atual crise hídrica. “As campanhas de conscientização empreendidas pela Sabesp são de grande importância. Mas, por outro lado, é necessário considerar que o posicionamento da Sabesp, sempre que sai uma matéria sobre os mananciais, é de tranquilidade. É como se não existisse uma crise hídrica. Então, fica uma mensagem dúbia. De um lado, pede para o pessoal economizar. Do outro, diz que não há motivo para preocupação. É preciso um discurso unificado e mostre quais projeções ela tem para o próximo ano para alertar a gravidade da situação.”

O que diz a Sabesp

Procurada, a Sabesp enviou a seguinte nota à reportagem:

“A Sabesp informa que não há risco de desabastecimento na Região Metropolitana de São Paulo neste momento, mas reforça a necessidade de uso consciente da água. A projeção para a RMSP aponta níveis satisfatórios dos reservatórios com as perspectivas de chuvas do final da primavera e início do verão, quando a situação será reavaliada. A RMSP é abastecida pelo Sistema Integrado, composto por sete mananciais (Cantareira, Alto Tietê, Cotia, Guarapiranga, Rio Claro, Rio Grande e São Lourenço), que permite transferências rotineiras de água entre regiões, conforme a necessidade operacional.

Visando à segurança hídrica e à preservação dos mananciais em momentos como o atual, um conjunto de medidas vem sendo adotado: integração do sistema (com transferências de água rotineiras entre regiões), ampliação da infraestrutura, gestão da pressão noturna para maior redução de perdas na rede e campanhas sobre a importância do uso consciente da água pela população.

Ao longo dos anos, a Sabesp vem atuando em três frentes, visando à segurança hídrica:

  • Ampliação da infraestrutura, com destaque para a interligação Jaguari-Atibainha e o novo Sistema Produtor São Lourenço, ambos entregues em 2018.
  • Redução de perdas na distribuição, que se refletiu na queda do índice de perdas totais em sua área atendida de 41% em 2004 para 27% em 2020 (sendo 17% vazamentos), abaixo da média nacional: 39,2% (SNIS; 2019).
  • Consumo consciente, por meio de campanhas permanentes.”

Fonte: G1.globo.com