Meio Ambiente: Média de chuva do Cantareira caiu 48% no mês de maio

Comparação é em relação à média histórica para o mês. Cenário é mais crítico do que em 2013, ano anterior à crise hídrica, porque mananciais estão com menos reserva e previsão continua a ser de seca nos próximos meses.

O mês de maio terminou nesta segunda-feira (31) com déficit de chuvas em todos os mananciais que abastecem a região metropolitana de São Paulo em relação à média histórica para o mês. A queda de chuvas chegou a 48% no Sistema Cantareira.

O cenário é mais crítico do que em 2013, ano anterior à crise hídrica, o que aponta para a possibilidade de uma nova crise de abastecimento em 2022, de acordo com Pedro Luiz Côrtes, professor do Programa de Pós-Graduação em Ciência Ambiental do Instituto de Energia e Ambiente (IEE) da Universidade de São Paulo (USP).

Área de Proteção Ambiental Sistema Cantareira (Foto: Divulgação/ Secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente)

Na quinta-feira (27), o governo federal emitiu um alerta de emergência hídrica para o período de junho a setembro em São Paulo e mais quatro estados que se localizam na bacia do Rio Paraná, onde há previsão de pouca chuva para o período. É a primeira vez que um alerta assim é emitido.

O déficit de chuvas atual, segundo o comitê de órgãos do governo, já é considerado severo.

Nesta segunda-feira (31), o volume armazenado de água em todos os mananciais que abastecem a região metropolitana de São Paulo é 9% menor do que em 2013. Atualmente são 55,8% da capacidade dos reservatórios, ou 1.084,5 hm³ de água.

A situação se mostra ainda mais preocupante do que em 2013, por três motivos:

  • Atualmente contamos com o Sistema São Lourenço, que também abastece a região metropolitana de São Paulo;
  • A população consome cerca de 13% menos água do que no período pré-crise de 2013, de acordo com a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp);
  • O Sistema Cantareira conta com uma gestão mais econômica e com uma fonte adicional de água (a transposição de águas da bacia do Paraíba do Sul).

Mesmo assim, estamos com um volume menor de água armazenada do que em 31 de maio de 2013, quando os reservatórios operavam com 65,6% da capacidade, ou 1.191,41 hm³ de água.

O Cantareira abastece, por dia, cerca de 7,5 milhões de pessoas, ou 46% da população da região metropolitana de São Paulo, segundo a Agência Nacional de Águas (ANA), órgão que regulamenta o setor. O sistema é formado pelos rios Jaguari, Jacareí, Cachoeira, Atibainha e Juqueri.

No final de maio de 2014, quando houve crise hídrica, o volume do Sistema Cantareira atingiu 6,3% de sua capacidade, e a Sabesp passou a operar bombeando água do chamado Volume Morto. Trata-se de uma reserva com 480 bilhões de litros de água situada abaixo das comportas das represas do Cantareira. Até então, essa água nunca tinha sido usada para atender a população.

Em janeiro deste ano, o Sistema Cantareira chegou a 36%, menor percentual desde a crise hídrica de 2014.

Seca nos próximos meses

A Sabesp costuma comparar 2021 com 2018 para negar risco de desabastecimento no ano que vem. De acordo com a companhia, a situação atual de armazenamento dos reservatórios é similar à de 2018, e que não houve uma crise hídrica com desabastecimento no ano seguinte.

No entanto, em 2018 choveu mais no segundo semestre, o que não deve acontecer em 2021, de acordo com Pedro Luiz Côrtes, professor do Programa de Pós-Graduação em Ciência Ambiental do Instituto de Energia e Ambiente (IEE) da USP.

“É necessário considerar que o prognóstico climático para o segundo semestre de 2018 indicava para a ocorrência de um El Niño, o que acabou acontecendo. O El Niño traz mais chuvas para a Região Sul e também para São Paulo, o que realmente aconteceu. Em 2021, o prognóstico aponta para um evento contrário (La Niña). Embora as situações de 2021 e 2018 guardem similaridades em relação ao nível dos reservatórios, os prognósticos indicavam situações diametralmente opostas para o segundo semestre desses anos”, afirma.

O déficit de chuvas na região metropolitana de São Paulo deve continuar nos próximos meses, que são tradicionalmente mais secos, e avançar inclusive para o verão, quando normalmente chove mais, de acordo com o especialista.

“O prognóstico climático indica mais de 50% de chances do retorno do La Niña já em outubro, comprometendo a retomada do período de chuvas. A previsão climática para um segundo semestre mais seco, com redução no volume de chuvas inclusive no verão, se mantém”, afirma.

O La Niña é um fenômeno natural que, ao contrário do El Niño, diminui a temperatura da superfície das águas do Oceano Pacífico tropical central e oriental. Mas, assim como o El Niño, gera uma série de mudanças significativas nos padrões de precipitação e temperatura no planeta.

No Brasil, o La Niña é responsável por levar mais chuva ao Norte e ao Nordeste – em 2021, especificamente, isso deverá ocorrer com intensidade maior no Norte que no Nordeste. Por outro lado, o fenômeno reduz as chuvas na porção Sul do Brasil, e isso pode ter repercussão em São Paulo.

Fonte: G1.globo.com