O que acontece no corpo quando a vitamina D fica baixa?

Por que é tão importante pegar sol? Falta do hormônio afeta força muscular, resistência óssea, imunidade, coração e saúde mental, entre outras funções e órgãos do organismo. Entenda.

Por que é tão importante reservar alguns minutinhos na rotina corrida do dia para receber luz solar na pele? O principal motivo é ajudar na síntese de vitamina D pelo organismo. O hormônio lipossolúvel, afinal, é essencial para manter em dia a nossa imunidade, além de ajudar no metabolismo, na fortificação da musculatura, ossos e dentes, entre outros benefícios. A vitamina ainda colabora na absorção de cálcio e no equilíbrio dos níveis de açúcar no sangue.

(Imagem Ilustrativa de Amy Humphries na Unsplash)

Atualmente no Brasil, estão sendo aceitos como ideais os valores acima de 20 ng/mL de vitamina D no sangue. Níveis entre 30 a 60 ng/ml são recomendados para gestantes, idosos, pacientes com osteoporose e doenças inflamatórias. Caso não seja possível manter o nível do hormônio equilibrado pelas vias naturais, a pessoa pode consultar um médico para fazer a suplementação via medicamentosa.

Segundo o presidente da Associação Brasileira de Avaliação Óssea e Osteometabolismo (ABRASSO), o médico endocrinologista Sérgio Setsuo Maeda, a falta de vitamina D no organismo está relacionada sobretudo à alteração de mineralização dos ossos (osteomalácia e raquitismo), fraqueza muscular e doenças autoimunes.

Mas o que será que acontece quando o corpo não pega sol? Quais os principais efeitos? A partir de quanto tempo a falta de vitamina D começa a ser sentida pelo corpo? Vamos entender a seguir:

Ossos (e dentes, unhas e cabelos)

A vitamina D promove a absorção de cálcio e fósforo no intestino e estimula a mineralização óssea, auxiliando na manutenção de ossos e dentes saudáveis. Sua deficiência provoca a má formação dos ossos, maior chance de osteoporose e doenças similares, dores ósseas e maior propensão a fraturas. Em mulheres após a menopausa e em idosos, grupos mais propensos à osteoporose, a degradação óssea pode se intensificar. Lembrando que cálcio e fósforo são sais minerais funsamentais para os processos de crescimento e manutenção de ossos e dentes – o cálcio é mais conhecido por esse papel, mas o fósforo também fortalece a estrutura óssea e a torna mais resistente a desgastes. Além de afetar os ossos, a falta de vitamina D pode ter impacto na saúde dos dentes e causar queda de cabelo e unhas quebradiças.

Acima, falamos de questões que atingem mais os adultos. Mas é importante lembrar que a falta de vitamina D atinge também os ossos e músculos das crianças, interferindo no crescimento.

Músculos

A vitamina D participa da síntese de proteínas através das ações do receptor do nutriente no tecido muscular. Com isso, contribui para a manutenção da força muscular e para a reconstrução dos tecidos musculares, o que tem um papel na qualidade de vida e no desempenho esportivo. A deficiência do hormônio afeta a função muscular e a capacidade regenerativa da musculatura, além de contribuir para quadros de sarcopenia, caracterizado pela perda progressiva e generalizada da força da massa muscular esquelética, sobretudo em pessoas idosas – condição que acentua as chances de quedas, fraturas e outras lesões.

Coração

A vitamina D tem efeito anti-hipertensivo, ou seja, contribui para a manutenção de níveis ideais de pressão arterial, combatendo não só a hipertensão, mas outras doenças cardíacas que têm a pressão alta como fator de risco, como infartos. A deficiência do hormônio, afinal, causa alterações no sistema renina-angiotensina-aldosterona (SRAA), envolvido no controle de pressão arterial. Além disso, tem papel anti-inflamatório e no combate a doenças catabólicas, que são causadas por ou causam degradação muscular, o que inclui a insuficiência cardíaca, e de doenças metabólicas como a diabetes, que também é fator de risco para infartos.

Pulmões

A vitamina D tem efeito anti-inflamatório e imunomodulador. Sua deficiência, em função disso, pode aumentar o risco infecções respiratórias, asma e doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC).

Cérebro

Há receptores de vitamina D no cérebro, e embora ainda sejam necessários mais estudos sobre o tema, sua deficiência têm sido associada a um menos desempenho cognitivo e à uma piora na saúde mental, com maior risco de desenvolvimento de quadros de depressão, além de sensação de fadiga e mau-humor.

Rins

Estudo do Laboratório de Investigação Médica da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) concluiu que a falta de vitamina D prejudica a função renal, provavelmente por causa de seu papel no controle de pressão arterial. Níveis baixos de vitamina D podem afetar a a integridade da membrana de filtração dos rins e provocar proteinúria, que é a presença de proteínas na urina. Isso pode significar um processo de perda de proteínas do sangue, o que interferiria na capacidade do organismo de regular os fluidos internos, podendo provocar inchaço no corpo.

Por outro lado, o excesso de vitamina D também pode afetar os rins e é uma das possíveis causas dos dolorosos cálculos renais.

Papel na diabetes

A vitamina D é essencial para a manutenção de processos metabólicos e tem um importante papel na prevenção da diabetes e no seu controle em pacientes que já têm a doença, ao melhorar a resistência à insulina no diabetes tipo 2.

Imunidade

Há receptores de vitamina D nas células de defesa, do sistema imunológico, e acredita-se que o hormônio apresenta efeitos imunomoduladores sobre essas células, especialmente os linfócitos T. A vitamina D, portanto, exerce um papel imunomodulador, e sua deficiência afetaria a imunidade e poderia até contribuir para o agravamento de quadros de doenças autoimunes como a já citada diabetes e outras, ainda em estudo, como esclerose múltipla, doença inflamatória intestinal, lúpus e artrite reumatoide.

Com a baixa imunidade, haveria ainda uma maior propensão a ficar doente e uma menor capacidade de combate a viroses e outras doenças – inclusive a Covid-19. O quadro está relacionado também a piores marcadores da saúde pulmonar e vascular em todos os indivíduos, além de menor sobrevida em pacientes com câncer e maior risco de infecções respiratórias.

Olhos

A deficiência da vitamina D pode aumentar o risco de degeneração macular relacionada à idade e de síndrome de olho seco.

Grupos de risco

Gestantes

Nas grávidas, há maior risco de pré-eclâmpsia e prematuridade. A deficiência de vitamina D pode provocar, inclusive, deficiências no feto, como risco elevado de desenvolver raquitismo.

Idosos

Os idosos fazem parte do principal grupo de risco para a hipovitaminose D, responsável por ossos finos e quebradiços ou até deformados. Inclusive porque a pele dos idosos tem menor capacidade de absorção dos raios solares, necessários para a produção do hormônio pelo organismo. É importante ressaltar que pode haver comprometimento da função muscular, principalmente dos membros inferiores, podendo ser corrigida com a suplementação. Até porque a deficiência ou completa falta do hormônio pode impulsionar o risco de depressão em até 75% em idosos, como aponta uma pesquisa publicada no Journal of Post-Acute and Long-Term Care Medicine.

Atletas

A deficiência de vitamina D afeta a saúde musculoesquelética tanto na força muscular quanto na resistência óssea, deixando os ossos e músculos mais frágeis, podendo causar queda no desempenho esportivo.

“As ações clássicas da vitamina D estão relacionadas ao metabolismo ósseo, onde atua promovendo a absorção de cálcio pelo intestino e a mineralização óssea. Cerca de 90% da produção de vitamina D vem da síntese cutânea, que é dependente dos raios solares. Em geral, os estoques corporais de vitamina D duram cerca de dois a três meses”, explica Sérgio Setsuo Maeda.

Quando o hormônio fica abaixo de 20 ng/mL, o organismo absorve menos cálcio e fosfato, o que impede a manutenção saudável dos ossos, causando ainda osteomalácia, além de agravamento de osteoporose em adultos.

Melhor horário para pegar sol

O melhor horário para promover a síntese de vitamina D é nas horas mais quentes do dia, mas sempre respeitando o tempo de exposição de acordo com a tonalidade da pele, e evitando a vermelhidão, que já é um sinal de lesão solar. O tempo é curto, especialmente porque precisa ser feito sem uso de filtro solar. Basta expor as pernas ou os braços por de cinco a 15 minutos, de acordo com seu tom de pele.

  • Pessoas com a pele mais clara podem expor os braços e pernas de 5 a 7 minutos sem o protetor solar, três vezes por semana;
  • Pessoas com a pele mais pigmentada, de 10 a 15 minutos, três vezes na semana.

“Nos mais jovens, recomenda-se uma exposição solar controlada, uma vez que a radiação que leva à formação de vitamina D é a mesma que causa o câncer de pele. Deve-se levar em conta o fototipo de cada um. O rosto sempre deve ser protegido, pois é onde há mais risco do aparecimento do câncer de pele. Para idosos, grávidas e indivíduos com doenças fotossensibilizantes, deve ser considerada a suplementação com vitamina D”, afirma o presidente da ABRASSO.

Excesso de vitamina D também é prejudicial

Como tudo na vida, equilíbrio é fundamental. A falta de vitamina D é nociva, mas o seu excesso também é. Trata-se de uma substância lipossolúvel, que fica estocada na gordura e, em casos de intoxicação, o quadro é grave e pode continuar por meses.

Nesta situação, o excesso de vitamina D leva à hiperabsorção de cálcio no intestino e nos ossos, podendo aumentar muito o risco de cálculos renais e insuficiência renal. Nos idosos e nas crianças, pode levar ainda a alteração do comportamento, coma e até morte. Portanto, só faça a suplementação de vitamina D seguindo orientações médicas.

Fonte:
Sérgio Setsuo Maeda é médico endocrinologista, presidente da Associação Brasileira de Avaliação Óssea e Osteometabolismo (ABRASSO) e médico assistente da disciplina de Endocrinologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

Fonte: EuAtleta