Os sintomas da ressaca pioram com a idade? Mito ou verdade?

Você já sofreu com a ressaca? A sua cabeça doeu só de lembrar? Bem, se você tem o hábito de exagerar no consumo de bebidas alcoólicas e sofrer no dia seguinte com os efeitos desse excesso, é bom ler essa matéria, que responde a algumas dúvidas comuns. Por exemplo: é verdade que os sintomas da ressaca pioram com a idade?

(Imagem Ilustrativa de Paul Einerhand por Unsplash)

Sim! Os sintomas da ressaca tendem a serem piores com o passar do tempo devido a algumas alterações do nosso corpo ao envelhecer, como explica o médico endocrinologista e metabologista, Igor Ribeiro Barcelos, especialista em hormônios, performance e medicina do esporte pela Universidade federal de São Paulo (UNIFESP) e membro da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM). Por isso o dia seguinte de uma bebedeira parece bem pior aos 40 ou 50 anos do que parecia aos 20 ou 30. Ele explica que há dois motivos principais para isso acontecer:

  1. Diminuição da metabolização no fígado: “Com o passar dos anos, o fígado diminui tanto a velocidade como o rendimento da taxa de metabolização de todas as substâncias, levando ao acúmulo por maior tempo do acetaldeído (substância formada durante a conversão de açúcar em etanol por levedura e que é tóxica para o organismo). Além disso, o fígado não apresenta a mesma eficácia na formação de glicose, levando a uma maior chance de hipoglicemias (queda do açúcar), que irá afetar diretamente a energia necessária para o funcionamento dos neurônios”, explica Igor;
  2. Mudanças na nossa composição corporal ao envelhecer, com menos músculos e mais gorduras, ocorrendo assim uma menor quantidade de água no corpo, facilitando a desidratação e dificultando a tarefa de metabolização do fígado: “Portanto, manter o corpo hidratado é fundamental para a melhora da ressaca”, pontua Igor Barcelos.

O médico especialista ainda lembra que os sintomas mais comuns da ressaca são: fadiga, cansaço, dor de cabeça, dor nos olhos e sensibilidade ao som e à luz, dor no corpo, náuseas e enjoos, vômitos, dores de estômago, tonturas, diarreias, aumento da pressão e dos batimentos cardíacos, tremores e alterações da memória e da atenção. Esses efeitos podem começar cerca de 6 a 8 horas após a ingestão do álcool, podendo durar, em média, até 24 horas.

No entanto, é necessário ressaltar que nesta equação entram também os fatores idade, sexo biológico e genética do indivíduo.

“Nosso corpo durante a ressaca produz alterações, como o aumento do batimento cardíaco devido à liberação de adrenalina provocada pelo álcool. Os energéticos isolados ou associados à bebida alcoólica potencializam esse aumento da frequência cardíaca. A ressaca, em contrapartida, deixa a função motora e cognitiva mais lenta”, esclarece o médico endocrinologista e metabologista José Marcelo Natividade.

Outro ponto relevante é que diversas funções são afetadas pelo consumo excessivo de álcool, em especial (claro) no fígado, mas não só nele. Segundo o médico Igor Barcelos., através da inibição do hormônio ADH (hormônio antidiurético), ocorre um aumento importante da diurese, e com isso vem a desidratação, sobrecarregando os rins. O sistema nervoso também é afetado tanto pela presença de toxinas, que são tóxicas aos neurônios, como pela diminuição da glicose, o que faz com que os neurônios não tenham a fonte de energia para o seu funcionamento normal, levando a uma lentificação das funções cognitivas e motoras: esquecimento, perda de memória, comportamentos inadequados, lentificação dos reflexos, e, em casos mais graves, podendo levar até ao coma.

Ser fisicamente ativo ajuda a minimizar os efeitos da ressaca?

A resposta é sim. Se manter constantemente ativo, saudável e hidratado ajuda o corpo a metabolizar todas as toxinas de forma mais eficiente, o que pode diminuir a intensidade e o tempo de duração da ressaca.

No entanto, os especialistas ouvidos advertem que não é aconselhável a prática de atividade física durante a ressaca, uma vez que o organismo irá desviar a energia da metabolização das toxinas para os músculos. Pelo contrário, a piora da desidratação agravaria mais a intensidade da ressaca.

“Para responder a essa pergunta precisamos entender primeiro como se comporta a fibra muscular durante o exercício. Durante a prática de atividades físicas ocorrem pequenas lesões nas fibras musculares, ocasionando um maior fluxo sanguíneo à região, favorecendo o aumento de aporte de nutrientes contribuindo para o seu fortalecimento. Na ressaca, o álcool continua circulando e isso aumenta as substâncias pró-inflamatórias em detrimento das anti-inflamatórias. E esse desequilíbrio irá contribuir para o aumento do tempo na recuperação de lesões durante a prática de exercícios”, destaca José Marcelo Natividade.

Sendo assim, o ideal seria um intervalo de, pelo menos, 24 horas, que é o tempo que dura a ressaca, para que o praticante de exercícios possa se recuperar, dando prioridade à hidratação e ao aporte de glicogênio muscular, ingerindo frutas como banana, manga e melão, por exemplo, como recomenda o médico.

Existe tratamento, remédio ou cura para a ressaca?

O foco do tratamento deve ser sempre a hidratação, para facilitar a metabolização do acetaldeído, e o uso de medicamentos, para tratar os sintomas (como antieméticos para náuseas e analgésicos para dr de cabeça).

Dicas para aliviar os efeitos da ressaca

  1. Hidratação: essencial para a remoção das toxinas, funcionamento correto do fígado e a correção da desidratação, aliviando os rins;
  2. Repouso: evite que o corpo gaste energia desnecessariamente, permitindo que o fígado atue de forma mais eficiente;
  3. Alimentação leve: os nutrientes facilitam o organismo a processar o álcool;
  4. Bebidas isotônicas: hidratam e repõem os sais minerais. São absorvidos mais rapidamente do que a água;
  5. Frutas e mel: esses alimentos repõem a glicose de forma rápida e ajudam na reposição de água, nutrientes e minerais;
  6. Pouco café: o consumo em baixa quantidade pode melhorar a energia para a recuperação da ressaca. Só não exagere, pois a bebida pode piorar a desidratação;
  7. Chás (erva doce, hortelã, hibisco e abacaxi): melhoram a hidratação e podem aliviar os sintomas de enjoo e vômitos;
  8. Evite anti-inflamatórios, AAS, paracetamol e diuréticos, pois podem piorar a recuperação do organismo e sobrecarregá-lo ainda mais;
  9. Consuma 1 g de carvão ativado antes e depois da bebedeira, pois isso diminui a absorção do álcool pelo organismo.
  10. Lembre-se: Beba com moderação e não dirija depois de ingerir bebidas alcoólicas.

Pílula antirressaca funciona?

A boa notícia é que a primeira pílula antiressaca foi lançada no Reino Unido, em julho do ano passado. O medicamento, chamado de Myrkl, funciona por até 12 horas, conforme o seu fabricante, a farmacêutica De Faire Medical, da Alemanha.

Estudos mostraram que os indivíduos que beberam duas taças de vinho e tomaram dois comprimidos tinham 70% menos álcool no sangue uma hora depois, em comparação com aqueles que não tomaram. O remédio começa o efeito no momento que é ingerido podendo reduzir a concentração de álcool no sangue em 50% já nos primeiros 30 minutos após a ingestão da bebida alcoólica. Os criadores ainda afirmam que o suplemento aumenta a energia e a imunidade.

A pílula contém as bactérias Bacillus Coagulans e Bacillus Subtilis, além do aminoácido L-Cisteína, que decompõe o álcool em água e dióxido de carbono, o que garante que quase nenhum acetaldeído e ácido acético sejam produzidos pelo fígado. As substâncias ainda possuem em sua composição vitamina B12, que auxilia no sentimento de “deixar a pessoa revigorada”.

A indicação é que sejam tomadas duas pílulas, no mínimo, duas horas antes de beber. A caixa, com 30 unidades, é vendida no Reino Unido por 30 libras, sem contar com o frete. Desde que começou a ser comercializada, a Myrkl já está disponível para o envio em 20 países através do site oficial. Consumidores brasileiros também podem comprar o remédio online, que custa em torno de 600 reais.

Fontes:
Igor Ribeiro Barcelos (@dr.igorbarcelos) é médico endocrinologista e metabologista, especialista em hormônios, performance e medicina do esporte pela Universidade federal de São Paulo (UNIFESP) e membro da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM).
José Marcelo Natividade (@jmarcelonatividade) é médico endocrinologista e metabologista, pós-graduado em Endocrinologia e Metabologia pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP) e em Nutrologia pela Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN), e que atende na Clínica Endocorp, em Campinas.

Fonte: EuAtleta