OMS cria comissão para combater epidemia de solidão: como o esporte pode ajudar?

Segundo a Organização Mundial da Saúde, o problema é tão prejudicial para a saúde quanto tabagismo, consumo excessivo de álcool, sedentarismo, obesidade e poluição: psicóloga esportiva explica o poder do esporte contra um dos males da vida moderna.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou que a solidão é uma ameaça urgente à saúde global e anunciou a criação, na última quarta-feira (15/11), de uma Comissão Internacional para a Conexão Social, para lutar contra a epidemia da solidão pelos próximos três anos. Um dos presidentes da comissão, o Cirurgião Geral dos Estados Unidos, Vivek Murthy, afirmou ainda que a solidão é tão prejudicial para a saúde quanto fumar 15 cigarros por dia. A psicóloga esportiva Vanessa Protasio acredita que o esporte pode ser uma ferramenta importante nesse processo. Afinal, a atividade física promove bem-estar e socialização, fazendo com que as pessoas saiam de suas casas e interajam com outras, que muitas vezes têm os mesmos interesses. Além disso, libera hormônios importantes para a saúde mental:

  • Endorfina, que promove sensação de bem-estar, euforia e alívio das dores;
  • Dopamina, que conta com efeito analgésico e tranquilizante.
  • Serotonina, o hormônio da felicidade, que melhora humor e memória;
  • Adrenalina, neurotransmissor que aumenta a frequência cardíaca e deixa o cérebro mais alerta;
  • Cortisol, que contribui para o controle do estresse e a redução da inflamação.
(Imagem Ilustrativa de Huckster por Unsplash)

Os riscos da solidão

A OMS estima que “um em cada quatro idosos vivencia isolamento social e entre 5 e 15 por cento dos adolescentes vivenciam solidão”. Não é, portanto, um problema que só atinge idosos. E em todas as faixas, a solidão tem impacto importante na saúde, qualidade de vida e longevidade, com maior risco de morte prematura e de desenvolvimento de ansiedade, depressão, demência, doenças cardiovasculares e acidente vascular cerebral.

Segundo o texto de apresentação da comissão, “a falta de ligação social acarreta um risco equivalente, ou até maior, de morte precoce que outros factores de risco mais conhecidos – como o tabagismo, o consumo excessivo de álcool, o sedentarismo, a obesidade e a poluição atmosférica”.

De acordo com artigo do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos, as consequências da solidão para a saúde incluem um risco aumentado de 29% de doenças cardíacas, de 32% de acidente vascular cerebral e de 50% de desenvolver demência em adultos mais velhos. Além disso, aumenta o risco de morte prematura em mais de 60%.

“Altas taxas de isolamento social e solidão em todo o mundo têm consequências graves para a saúde e o bem-estar. Pessoas sem ligações sociais suficientemente fortes correm maior risco de acidente vascular cerebral, ansiedade, demência, depressão, suicídio e muito mais”, afirmou o Diretor-Geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus. “Esta Comissão da OMS ajudará a estabelecer a ligação social como uma prioridade de saúde global e a partilhar as intervenções mais promissoras”.

O esporte como uma das soluções

A OMS pretende promover soluções para combater a epidemia de solidão, que vão desde políticas nacionais amplas até intervenções psicológicas para indivíduos. Segundo a psicóloga Vanessa Protasio, a atividade física deve sempre fazer parte dessas soluções, como uma das estratégias de socialização. E se engana quem pensa que apenas os esportes coletivos geram essa mudança de hábito. Mesmo quem prefere atividades individuais, como corrida ou caminhada, pode buscar companhia nessas atividades, fazer parte de grupos, o que gera identificação entre as pessoas e continuidade nos processos.

“A sua autoestima já começa a melhorar ali. Você gera dopamina, serotonina, o que te dá um retorno positivo. A continuidade do ciclo que você está mudando te entrega um retorno positivo. Pedalar, correr, nadar, você pode escolher um esporte individual, sim, e se associar a pessoas que também fazem aquilo. Então, esse grupo favorece a continuidade de um novo ciclo de vida, mais harmonioso e menos solitário”, afirma Vanessa, que também é maratonista nos momentos de lazer.

A prática de exercícios físicos regulares não só é fundamental para a manutenção da saúde óssea, muscular e cardiovascular, como também para a saúde mental, já que é capaz de desencadear uma série de mudanças químicas no organismo. E essas mudanças estimulam a produção de neurotransmissores em regiões do cérebro relacionadas à depressão.

Com isso, há uma melhora da autoestima, da cognição e do raciocínio, alívio de dores de cabeça, maior bem-estar físico, mental e emocional e menor sintomas de estresse. Essas sensações, aliadas à sociabilização, são fundamentais para que a pessoa passe a procurar e aproveitar mais o convívio do outro.

Periodicidade dos exercícios

Sobre a regularidade das atividades físicas no combate à solidão, Vanessa acredita que o ideal seriam atividades diárias, mas que três vezes na semana já desempenham um ótimo papel na reintegração da pessoa à sociedade.

“Uma vez por semana é muito pouco para que se saia do isolamento para uma vida ativa, producente, feliz. Você se torna mais feliz se você aliar alimentação, esporte e sociabilidade. Lembrando que a competição é um outro momento. Não é ganhar uma competição que te deixa feliz, e sim a prática do exercício físico e as recompensas que vêm com ela. Recomendo exercícios diários ou ao menos três vezes na semana”.

Lembrando que para fazer uma atividade de maior intensidade é sempre importante fazer uma avaliação médica preventiva.

Fonte: EuAtleta