Projeto incentiva a observação de aves em crianças em Bom Jesus dos Perdões (SP)

Na cidade de Bom Jesus dos Perdões (SP), professores da rede municipal de ensino resolveram se juntar para resgatar as origens locais e a relação com a natureza de crianças entre 9 e 10 anos, através do projeto “Ajuritiba”. Até a década de 40 o munícipio se chamava de “Ajuritiba”, cuja tradução mais próxima,segundo a língua dos povos originários, seria “colina do refúgio das aves”, um nome deixado apenas para a história e desconhecido para os moradores.

Além disso, o “Parque Municipal Natural da Serra do Ajuritiba”, uma extensa área protegida da cidade, também não possui nenhuma menção ou divulgação em ações turísticas ou educativas, sendo considerado um mistério até os dias de hoje. Para reverter esse cenário, a educadora Natália Andrade, a coordenadora pedagógica Kelly Vendramini e o arte-educador Sérgio Tuck criaram o projeto que fomenta a observação de aves e o contato com a natureza no ambiente escolar.

(Imagem Ilustrativa de Christian Felix Möller Somers por Unsplash)

Com início em 2021, ainda em época de pandemia, os educadores faziam vídeo-chamadas com os alunos abordando temas como educação ambiental, queimadas, lixo e fauna local.

“Foi um trabalho que fomos desenvolvendo aos poucos e com um resultado muito produtivo. Começamos a perceber que tinha aluno que não escrevia e que começou a escrever, alunos melhoraram oratória, cálculo, então a gente percebe que além do ganho da vivência feliz na escola, tiveram os ganhos na parte pedagógica”, revela Natália Andrade.

A professora inclusive afirma que o projeto tomou proporções tão grandes que até os próprios educadores não imaginavam. Kelly diz que a partir do encantamento, da curiosidade e das pesquisas, os alunos levaram isso para a vida, deixando de ser um projeto, para algo que também praticam no dia a dia.

“Muitos ali mudaram o olhar e se você muda o seu olhar, você muda sua escuta, sua percepção, sua relação e é para a vida toda”, relata o arte-educador Sérgio Tuck.

Os professores contam que costumam sair todos os dias de manhã para observar com os alunos, um horário em que perceberam maior movimentação dos animais. Segundo eles, quase 70 aves já foram listadas pela escola, um número significativo, já que não saíram do espaço escolar para descobrirem a imensidão da avifauna local.

Cerca de 100 estudantes participaram do Projeto Ajuritiba desde o início em 2021, mas de acordo com a coordenadora pedagógica Kelly Vendramini, incluindo as famílias dos alunos que também estiveram envolvidas com o tema, já são quase 1.500 pessoas impactadas.

“Pode ser que no futuro eles parem de passarinhar, mudem de escola, pode ser que esqueçam alguns nomes de aves, mas acho que em algum momento na vida adulta isso vai aflorar de novo”, finaliza Tuck.

Um resultado e exemplo de como esse projeto transformou a vida das crianças de Bom Jesus dos Perdões (SP), foi o caso da aluna Júlia Souza Mendes, de 11 anos. Segundo a estudante, foi através das aulas que ela se encantou pelas aves e se interessou em saber mais sobre elas.

“A minha relação com a natureza mudou bastante depois que as aulas começaram, porque antes eu não ligava muito para essas coisas, sobre natureza, insetos, pássaros, e agora mesmo que eu não tenho mais as aulas do projeto, sempre mando fotos, sons que eu gravo para a professora e sempre estou observando mesmo fora”, conta a estudante.

Julia mudou de escola, por isso não participa mais do projeto, no entanto, o amor que ela criou pelas aves continua firme. Ela inclusive aproveita para dar uma alerta às crianças da sua idade. “É importante estar em contato com a natureza porque tem muitas crianças que ficam bastante em jogos, mídias sociais e não entram em contato com a natureza, o que é bem mais saudável do que ficar no celular”.

O pai da menina, Ricardo Mendes conta que percebeu a mudança em Júlia por conta do seu comportamento em casa. “É impressionante como o projeto mexeu com a cabeça dela. Ela se envolveu de tal forma que quando a gente saía de casa, o assunto era pássaro. Por conta disso, eu e a mãe dela acabamos nos envolvendo também”, relata.

Ricardo conta que a filha tinha pouco contato com a natureza antes as passarinhadas na escola e que ela não demonstrava interesse no assunto. Depois do Projeto Ajuritiba a menina abriu o leque, e agora além dos pássaros, está querendo estudar as borboletas.

“Eu acho muito importante na vida dela e na vida de todas as crianças que puderem participar desse projeto, porque é um modo da gente conhecer mais, preservar as espécies e conhecer essa maravilha que é a natureza”, finaliza o pai.

Fonte: G1.globo.com