Açafrão ou cúrcuma? Benefícios, diferenças e para que servem

Nutricionista aponta semelhanças e propriedades nutricionais das duas especiarias e ensina como fazer um anti-inflamatório natural e um tempero funcional com o açafrão-da-terra.

Provavelmente, você já deve ter ouvido falar de cúrcuma ou açafrão-da-terra e em açafrão, duas especiarias muito utilizadas no preparo de alimentos. E embora guardem muitas semelhanças, elas não são a mesma coisa. Aqui no Brasil, comumente chama-se tudo de “açafrão”; porém há uma diferença fundamental entre as plantas: o açafrão verdadeiro é produzido a partir do estigma das flores da Crocus sativus L, e o resultado é uma especiaria bem mais cara e incomum do que o nosso açafrão-da-terra. Este, também conhecido como cúrcuma, é extraído da raiz da Curcuma longa, uma planta da família do gengibre.

Cúrcuma ou açafrão-da-terra é um especiaria produzida a partir de uma raiz de uma planta da família do gengibre (Imagem: Steve Buissinne / Pixabay)

Açafrão

“Originário do sudeste da Europa e sudoeste da Ásia, o açafrão floresce em outubro, dando origem a uma flor roxa; desta flor retira-se o estigma (abertura superior do pistilo por onde entra o pólen). É algo bastante delicado, feito com o uso de pinças especiais. Para se colher uma boa quantidade dela, é necessário o plantio de milhares de hectares, bem como manejo e armazenamento bastante específicos, motivo pelo qual o açafrão é uma especiaria cujo preço costuma ser bastante elevado nos mercados. Costumamos encontrar para comprar na forma de pequenos filamentos secos, geralmente em caixinhas ou potinhos pequenos e delicados”, explica a nutricionista Sylvia Pozzobon.
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Cúrcuma ou açafrão-da-terra

“Já o que aqui no Brasil chamamos de açafrão, trata-se da cúrcuma longa (açafrão-da-terra), que é da família do gengibre. Conhecida também como tumérico, é originária da Ásia (Índia e Indonésia), foi introduzida no Brasil na época colonial e hoje cresce de forma espontânea em várias partes do país, sendo o estado de Goiás o maior produtor nacional dessa especiaria”, aponta a nutricionista.

Propriedades e benefícios

O açafrão e a cúrcuma têm propriedades semelhantes, sendo bastante utilizados por seus efeitos antioxidantes. Em relação ao sabor, ambas as especiarias são muito parecidas, mas enquanto o açafrão tem um sabor mais delicado, a cúrcuma é mais terrosa.

“Há inúmeros estudos demonstrando o potencial do açafrão para o tratamento coadjuvante da depressão e doenças relacionadas ao sistema nervoso. Seus principais benefícios são ter efeito neuroprotetor, ansiolítico, antidepressivo e auxiliar na memória e no aprendizado. No esporte, o açafrão tem sido estudado no combate à inflamação gerada pelo treinamento de resistência e por conta de seu efeito antioxidante, bem como sua participação na biogênese mitocondrial de atletas; porém mais estudos são necessários. Por outro lado, ao contrário da cúrcuma, há menos estudos relacionando esta substância com treinamentos esportivos, sendo muito mais relacionado de fato a pesquisas na área de doenças neurológicas e modulação do humor”, explica Sylvia Pozzobon.

Açafrão

O Crocus sativus L possui alguns princípios ativos, sendo eles: crocina e crocetina (responsáveis pela cor do açafrão), pricrocrocina (responsável pelo sabor amargo do açafrão) e o safranal (rico em carotenoides que afetam a imunidade e tem atividade anti-inflamatória). O açafrão é pesquisado na medicina há mais de 20 anos. Ele possui componentes ativos com aplicações e diversos efeitos farmacológicos tais como:

  • Anticonvulsivo;
  • Antidepressivo;
  • Anti-inflamatório;
  • Antitumoral;
  • Antioxidante, atuando na eliminação de radicais livres;
  • Melhora da memória e aprendizagem;
  • Alguns estudos mostram boas aplicações da planta no tratamento de sintomas da menstruação e na perda de peso.

Por outro lado, há pesquisas que ainda precisam de mais dados investigando o açafrão no tratamento de disfunção erétil, alergias, doenças cardiovasculares e sistema imune.

Cúrcuma ou açafrão-da-terra

Já a cúrcuma longa ou açafrão-da-terra, cujo princípio ativo é a curcumina, tem sido amplamente estudada e possui diversas indicações. Hoje, ela saiu da cozinha e está presente na prática clínica de maneira ampla. No esporte, por exemplo, a cúrcuma pode ser recomendada para combater inflamações e estresse oxidativo, reduzindo dores e danos musculares, melhorando a recuperação e performance, sendo interessante para atletas que praticam endurance (exercícios de resistência). Estudos apontam seu potencial para colaborar no tratamento de doenças inflamatórias, cânceres autoimunes, doenças neurodegenerativas, doenças cardiovasculares, depressão, diabetes, obesidade e aterosclerose. Tem propriedades como:

  • Antioxidante;
  • Anti-inflamatório;
  • Efeitos antitumorais;
  • Antidepressivo;
  • Auxilia na regulação da glicose e do colesterol;

Indicações e contraindicações

O componente da cúrcuma — curcumina — consumido oralmente não apresentou efeitos tóxicos aos seres humanos, sendo seguro na dosagem de até 6 g ao dia por quatro a sete semanas. Seu consumo exagerado pode levar a desconforto gastrointestinal. Já o consumo de suplementos à base de curcumina demonstrou-se seguro até a quantia de 500 mg ao dia por 30 dias, porém, mais estudos precisam ser feitos.

“Em geral trata-se de uma substância segura; no entanto, não recomendo uso contínuo e prolongado. Sugiro sempre usar por até 30 dias e depois trocar por outro tipo de antioxidante, fazendo uma rotação de substâncias. Apesar de se mostrar uma substância segura quando administrada oralmente, convém não ser ingerido por gestantes. Pessoas com doenças graves também não devem ingerir nenhum medicamento ou suplemento sem indicação médica prévia”, destaca a Sylvia.

Já em relação ao açafrão, não há uma dosagem recomendada, sendo sua concentração variável conforme o uso. Em geral, não se trata de uma substância tóxica, porém algumas pessoas, especialmente crianças, podem apresentar alergia. Doses altas, acima de 5 g/dia não são recomendadas para gestantes, pois pode provocar estimulação da atividade uterina.

Duas receitas com cúrcuma

A seguir, confira duas sugestões da nutricionista Sylvia Pozzobon e saiba como usar a cúrcuma, mais barata e de mais fácil acesso, alimentar e clinicamente:

Anti-inflamatório caseiro natural

Ingredientes:

Cúrcuma em pó – 20 g
Canela em pó – 20 g
Cacau em pó – 20 g
Gengibre em pó – 20 g
Pimenta do reino em pó – 1 g (pouco menos de uma colher de café)

Modo de preparo: misturar todos os ingredientes e armazenar em um pote de vidro. Usar diariamente uma colher diretamente no café, nos sucos ou em vitaminas.

Tempero funcional

Ingredientes:

1 colher de sopa cheia de hortelã
1 colher de sopa cheia de sálvia
1 pacote (12 g) de alecrim
2 pacotes (120 g) de orégano
1 pacote (100 g) de açafrão-da-terra (cúrcuma)
2 colheres de sopa cheia de pimenta
1 pacote (12 g) de cheiro verde
1 pacote (5 g) de cebolinha desidratada
3 colheres de sopa cheia de páprica doce
1 pacote (4 g) de louro

Modo de preparo: colocar os ingredientes aos poucos no liquidificador e bater. Depois, armazenar em pote hermético, ao abrigo da umidade por até 30 dias. Pode ser utilizado em preparos diversos.

“Existe uma coisa que devemos de fato retirar da rotina alimentar, que são os temperos prontos e os melhoradores de sabor. Esses tabletes para dar sabor aos alimentos são ricos em química, em especial o glutamato monossódico, o qual está relacionado com diversos efeitos tóxicos no nosso organismo em todas as fases da vida, inclusive afeta fetos em formação quando a gestante ingere alimentos adicionados desta substância. Todavia, ela está presente em uma ampla variedade de alimentos industrializados. Glutamato monossódico esta relacionado com hipertensão arterial, obesidade, diabetes, alterações no sistema nervoso, disfunções endócrinas e uma série de outras doenças. Os temperos naturais são excelentes para dar sabor aos alimentos de forma saudável, e o açafrão e a cúrcuma são perfeitos para isso”, indica a nutricionista.

Fonte: G1.globo.com