Como o exercício ajuda a prevenir e tratar a depressão

Número de brasileiros que sofrem com o transtorno chega a 11,3% da população do país e supera o de pessoas com diabetes.

Pandemia de Covid-19, crise política e econômica, múltiplas funções e sobrecarga de demandas são alguns dos motivos descritos por especialistas para explicar o aumento de casos de pessoas com depressão. O cenário mundial pós advento da pandemia gera uma série de consequências para a saúde mental que ainda precisarão ser muito estudadas e investigadas por especialistas. Resultados da Pesquisa Vigitel 2021, realizada pelo Ministério da Saúde e publicada no fim de abril, apontam que o número de brasileiros com depressão (11,3%) já é maior que o número de portadores de diabetes (9,1%). O estudo revela ainda que esse número já ultrapassa o estimado pela Organização Mundial da Saúde (5,3% da população brasileira).

(Imagem Ilustrativa: happyveganfit por Pixabay)

De acordo com o médico endocrinologista Rodrigo Mendes, os transtornos depressivos apresentam múltiplas causas, como genéticos, ambientais, psicossociais, alteração dos níveis de neurotransmissores, desregulação neuroendócrina, bem como o uso de alguns medicamentos, abuso de drogas recreativas ou abstinência das mesmas. A psicóloga Cecilia Guimarães reforça que é difícil apontar apenas uma causa.

“A saúde é conceituada pela OMS não apenas como ausência de doenças e sim como um estado de completo bem-estar biopsicossocial. A pandemia do covid-19, por exemplo, assolou o mundo inteiro, mas cada um estava em um barco diferente, embora estivesse na mesma maré. O excesso de mortes de entes queridos, o desemprego, a falta de perspectiva, a visão pessimista de futuro, a incerteza, a vivência de uma vida que não tem significado para além de sobrevivência, excesso de estresse laboral e familiar, a falta de informação e de recursos para minimizar e tratar os episódios depressivos, que de leve podem se tornar moderado e grave, cronificando os casos”, acrescenta a psicóloga.

Causas:

A depressão deve ser avaliada por um médico e ou psicólogo. Baseada em características clínicas e no diagnóstico diferencial entre depressão e transtorno de ansiedade, a depressão pode ser, por exemplo:

  • Associada a afecções clínicas, como, por exemplo, o diabete;
  • Como sintoma de doenças físicas que podem mascarar a depressão, tais como doenças cardiovasculares, câncer e depressões secundárias devido à hospitalização ou tratamentos prolongados;
  • Como efeito colateral de medicações e outros tratamentos especializados, como, por exemplo, radioterapia;
  • Como transtorno psiquiátrico, como, por exemplo, o transtorno bipolar.

“Os episódios de depressão alteram o humor vital que interfere na vida cotidiana, levando a um quadro disfuncional que acarreta prejuízos na saúde e na vida afetiva, familiar, cognitiva e laboral do indivíduo. Os episódios depressivos podem ser de nível leve, moderado ou grave. Em todos os casos podem apresentar sintomas, como, por exemplo, humor deprimido, perda de interesse e prazer, energia reduzida levando ao aumento de fadiga, visões desoladas e pessimistas sobre o futuro, ideias de culpa e inutilidade, ideias e atos autolesivos ou suicídio, sono perturbado e apetite diminuído”, explica Cecília.

Pesquisas indicam ainda que a taxa de depressão nas mulheres é 30% mais elevada do que nos homens. Cecília explica que o transtorno de humor pode aparecer quatro semanas após o parto, no puerpério, na chamada depressão pós-parto. Além disso, há outras causas, como questões sociais que estigmatizam e inferiorizam as mulheres, desde salários mais baixos, quando comparados aos homens que ocupam o mesmo cargo; acúmulo de papéis sociais (mãe, esposa, dona de casa, profissional); até assédio moral e sexual no ambiente laboral e familiar.

“É importante cultivar relacionamentos saudáveis, ter rede de apoio, uma vida significativa, qualidade de vida, prática de exercício físico, alimentação saudável e dormir bem. Tudo isso pode ajudar na prevenção”, acrescenta.

O endocrinologista e professor da Unigranrio Rodrigo Mendes ressalta que o tratamento da depressão deve ser multidisciplinar, com acompanhamento psicoterápico e farmacológico, como estratégias convencionais para se obter o controle dos sintomas depressivos.

“A combinação de ambas terapias fornece uma resposta mais rápida e sustentada, devendo, no entanto, ser individualizada. Terapias interativas que envolvem meditação, tratamento das emoções e a prática regular de atividade física contribuem positivamente com o tratamento da depressão”, completa.

De que forma podemos prevenir?

  • Alimentação baseada principalmente em alimentos naturais (grãos integrais, vegetais, frutas, azeite…), evitando uma dieta hipercalórica, rica em frituras e gorduras saturadas;
  • Dormir bem. O sono é extremamente importante para saúde física e mental e a sua irregularidade pode contribuir com transtornos depressivos;
  • Praticar atividade física regularmente;
  • Reservar momentos para fazer o que lhe dá prazer e buscar atividades que tragam bem-estar e tranquilidade;
  • Cultivar bons relacionamentos e estar perto de pessoas que ajudem a manter uma boa rede de apoio.

Como o exercício físico pode ajudar?

O organismo libera dois hormônios essenciais durante o exercício, que ajudam no tratamento da depressão: a endorfina e a dopamina. Rodrigo destaca que ambos têm interferência positiva sobre o humor e as emoções. Outro efeito comum atribuído ao exercício físico é a produção de serotonina, um neurotransmissor de grande importância, que tem a capacidade de auxiliar a regulação do humor. Com isso, a atividade física regular:

Na depressão

  • Aumenta a sensação de bem-estar físico;
  • Aumenta a sensação de bem-estar mental e emocional;
  • Reduz os sintomas de estresse;
  • Libera dopamina e serotonina, que contribuem para a redução dos sintomas de depressão;
  • Melhora a autoestima e auxilia no controle do estresse;
  • Promove sociabilização.

Na diabetes

O exercício físico melhora a sensibilidade de ação da insulina, auxilia a sua captação pelos tecidos e consequentemente melhora o controle da glicose no sangue. Além disso, tem o potencial de trazer benefícios para o controle do excesso de peso corporal, da pressão arterial e saúde cardiovascular, sendo muito importante no controle do diabetes e no combate a algumas de suas complicações.

Vantagens dos exercícios físicos:

  • Melhora do controle glicêmico;
  • Prevenção de doenças cardiovasculares;
  • Redução de pressão arterial;
  • Melhora do perfil lipídico (níveis de colesterol);
  • Ajuda no controle de peso.

Relação entre diabetes e depressão

Estudos clínicos demonstram que portadores de diabetes têm um risco maior de depressão. Quando o paciente não consegue obter o controle glicêmico, ou quando enfrenta as complicações do diabetes, ele “se convence” de que perdeu o controle sobre a doença. Rodrigo afirma que este pensamento é frequente na prática clínica, mas ressalta que é importante mostrar ao paciente saídas possíveis para que ele se cuide, aprenda e evolua com a sua doença, obtendo melhores resultados.

“Primeiro, é importante entender os porquês da não obtenção do controle glicêmico e o contexto das complicações agudas e crônicas do diabetes. Ainda que elas existam e mesmo que o diabetes seja uma doença crônica e progressiva, intervenções bem direcionadas e sustentadas de mudanças de estilo de vida, em combinação a um esquema terapêutico bem ajustado, sob supervisão multidisciplinar, são capazes de promover novos e bons resultados do controle glicêmico, podendo melhorar a qualidade de vida do paciente”, ensina o médico.

Segundo o especialista, pessoas que são diagnosticadas com uma doença crônica, como o diabetes, apresentam três vezes mais chance de serem diagnosticadas com depressão quando comparadas com pessoas que não sofrem de nenhum problema de saúde crônico. Estima-se que pelo menos um terço das pessoas com diabetes sofrem de transtornos depressivos. Por outro lado, pessoas com transtornos depressivos também têm um risco aumentado de desenvolver diabetes.

“Mudanças neuroquímicas induzidas pelo diabetes podem contribuir para o desenvolvimento da depressão. Além disso, a rotina intensa de cuidados exigidos no tratamento do diabetes, envolvendo alimentação, medicamentos, manejo das complicações da doença junto a monitorização glicêmica quando necessário, podem influenciar no estabelecimento do quadro depressivo”, explica.

O diabetes também é uma síndrome de múltiplas causas, decorrente da falta de insulina e/ou da incapacidade da insulina de exercer adequadamente seus efeitos, caracterizando-se por aumento dos níveis de glicose no sangue cronicamente. Pode ser classificado de acordo com a sua causa, compreendendo o diabetes tipo 1 (DM1), o diabetes tipo 2 (DM2), o diabetes gestacional (DMG) e outros tipos.

O endocrinologista lembra que, independente do tipo de diabetes, a base do tratamento deve ser focada em um estilo de vida saudável, através de uma alimentação equilibrada, atividade física regular e combate ao excesso de peso.

Fontes:
Rodrigo Mendes é especialista em Endocrinologia e Metabologia, e professor de Endocrinologia da Unigranrio Barra.
Cecilia Guimarães Lopez é doutoranda em Psicologia Social na Universidade Estadual do Rio de Janeiro – UERJ. Mestre em comunicação acessível no Politécnico de Leiria- Portugal / Diversidade e Inclusão -UFF; pós-graduada em Educação Híbrida, Metodologias ativas e Gestão da aprendizagem, pela Uni-américa. Master Coach pela SLAC – SP e Professora de Psicologia e Medicina na UNIGRANRIO. @ceciliamiranbn.

Fonte: EuAtleta